6. | CAPÍTULO 6

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O despertador tocou e quis ficar na cama por mais um tempo. Esse foi um dos únicos dias que eu realmente quis ficar em casa. Eu gostava de ir para escola, mas ainda estava com tanta vergonha de tudo, como se todas as pessoas que estavam naquela casa soubessem do que havia acontecido. Tomei um banho rápido para acordar melhor, me vesti e tomei café junto com minha mãe.

Deixei o carro no estacionamento e fui em direção a primeira aula, que teria apenas com Tyler. Lembrei então de que não havia contado nada para ele. Na verdade eu mal havia o visto naquela noite. Quando cheguei à sala, ele já estava sentado em uma das classes do canto da janela, sentei ao seu lado e disse:

- Bom dia! Como você tá?

- Bom dia, Am! Indo, e você?

- Estou bem. O que houve?

- Acho que eu e Nancy estamos nos desentendendo...

Antes que ele terminasse a frase, o professor chegou à sala e fiz um sinal para que continuássemos depois. Eu ainda não havia visto Tyler triste em relação à Nancy, apenas com saudade, mas naquele dia ele parecia chateado. Me questionei se ele estava bem, se precisava de ajuda... Tentei deixar de lado e prestar atenção nas aulas daquele dia.

Assim que eu e Kate sentamos à mesa, ao olhar pra frente meus olhos pousaram diretamente em Mike. Ele andava com aquele ar super confiante, sorria para algumas pessoas que passavam por ele no caminho. Senti inúmeras coisas nesses segundos. Angústia, por não saber se ele ainda seria o Mike "diferente" que conheci naquele fim de semana. Vergonha, pois ainda não tinha me recuperado totalmente daquela noite, e também porque vim embora da casa dele naquela manhã sem nem agradecer, e não havia sequer mandado uma mensagem.

Ele sentou-se na mesa, olhou para Kate e depois parou o olhar em mim:

- Oi meninas. Como você está, Am?

- Oi Mike. Eu também tô aqui, tá? To bem também. - Kate disse, irônica, mas deu uma risadinha que não pesou o ambiente.

Assim que Mike abriu o sorriso para ela e mandou um beijo, ela deu uma mordida no sanduíche e o ignorou.

- Oi Mike. To bem, e você? Aliás, muito obrigada.

- Tudo certo. Disponha. - ele piscou pra mim, entendendo do que eu falava, mas dessa vez seu sorriso malicioso e seu olhar de diversas intenções estavam ali novamente.

- Vocês sabem do Tyler? Não vi ele no refeitório. – ele mudou de assunto rapidamente.

- Não vi ele hoje, ele tá pela escola? - Perguntou Kate em meio às mordidas que ainda dava em seu sanduíche.

- Sim, eu vi ele na primeira aula. Estava chateado, me falou pouco, mas era pela Nancy.

Kate e Mike se apavoraram assim que terminei a frase.

- Como assim? - perguntou Kate. - Eles nunca discutem, se quer se desentendem! É o típico casal perfeito.

Mike concordou com ela.Pelo jeito, a situação estava ainda pior do que eu já imaginava.

- Não sei, não consegui concluir a conversa com ele. Vamos ter que esperar para saber.

- Caralho! - Mike abaixou a cabeça e começou a mordiscar seu sanduíche. Continuei comendo o meu, ainda preocupada com a situação.

Ficamos naquele silêncio por um tempo até terminarmos de comer. Incrivelmente, me sentia tão à vontade com eles que esses silêncios não se tornavam constrangedores entre nós. Ao contrário da minha cabeça, que escutava um turbilhão de pensamentos ao mesmo tempo.

Um tempo depois, Hilary passou pela nossa mesa e assim que nos viu, parou.

- Oi meninas. Oi Mike. - ela deu aquela piscada novamente para ele, que retribuiu. Olhou para mim e Kate: - Adorei a presença de vocês lá, estão convidadas para as próximas. - nesse momento, ela pousou os olhos fixamente em Mike, encerrando o assunto comigo e Kate. Eu não fazia muita questão de continuar, mas me perguntava o porquê dela querer manter essa aparência comigo e Kate. Nunca fomos amigas dela, mal trocamos algumas palavras tanto na escola, quanto naquela festa. Ela gostava mesmo era de status, de fingir que gostava todo mundo para que todo mundo gostasse dela.

Ouvi então ela perguntando algo para Mike, o que não fiz muita questão de escutar, mas consegui entender o que Mike respondeu.

- Nos vemos mais tarde, Hi. Eu passo lá depois da aula. - ele mandou um beijo para ela enquanto ela saía rebolando, pois sabia que Mike ficava cuidando-a, principalmente quando ela ficava de costas.

Antes que eu pudesse sequer pensar em algo, Kate disse:

- Evoluiu na vida, Mike! Deve ser uma das únicas meninas que você pega uma vez e depois pega de novo. Logo você que não cola figurinhas repetidas. – criticou, outra vez.

- Ah, Kate, não começa! - ele revirou os olhos e continuou: - Ela é uma gata, merece uns beijinhos e eu mato minhas vontades.

Ele abriu aquele sorriso malicioso e foi levantando da mesa, antes de sair, terminou:

- Não fica com ciúmes. Se você quiser, também tem pra você. – fez questão de segurar o queixo dela, mandou um beijinho e saiu.

E ali estava o Mike otário mais uma vez. Eu não soube nem o que pensar, se quer como reagir com a resposta que ele deu. Confesso que ainda não estava organizando em minha mente os sentimentos atuais de Kate por ele, mas pude notar o quanto ela se sentiu repugnada com a resposta. Até eu me senti.

- Esse garoto é um escroto, Am! Você viu? Eu te falei.

- É, eu percebi. Isso te irrita bastante, não é?

Ainda tinha receios de entrar nesse assunto com ela, sim. Mas também estava curiosa. Às vezes parecia que tocar no assunto dessa relação deles era uma zona proibida para Kate.

- Am, eu não sinto nada por ele além de amizade, isso começou e terminou no primeiro ano, ficou lá. – ela disse com firmeza, devagar e claramente, sem ser grossa e nem na defensiva. - Eu não quero ver você se magoando por um otário desses. Eu conheço essa peça, esse charme, esse sorrisinho. Você vê o quanto ele é idiota e é esse o jeito dele. Mas, com você, só com você, ele se torna a melhor pessoa do mundo para te dar esperanças de que um dia ele possa ser para o mundo, como ele é para você. Mas isso não vai acontecer! Você é boa demais para entrar na lista de garotas que já sofreram por Mike Keneddy, Am! Eu não vou deixar ele fazer isso, não com você! – ela terminou.

Eu estava ainda mais confusa. As coisas estavam acontecendo tão rápido e de uma forma muito intensa. Eu não podia dizer que não tinha nenhum sentimento por Mike, pois aquele jeito que ele me olhava me fazia estremecer, mas era tudo muito recente. Tempo depois, entendi que Kate só queria evitar que essa semente de sentimento pelo Mike brotasse em mim. E eu devia ter dado ouvidos a ela desde o início.

- Tá bom, Kate. Relaxa, eu vou desviar de todo charme Mike Keneddy, ok? - rimos. - Mas, por favor, pare de desafiar ele enquanto estamos todos juntos, somos amigos e não ligo para o quanto ele é idiota. Los Angeles é enorme e tem muitos meninos incríveis aí para tanto eu, como você, encontrarmos.

Ela sorriu e me abraçou.

- Você é boa demais pra esse mundo, Am! Agora sei por que escolhi você para ser minha amiga.

Perceber o quanto eu e Kate evoluímos na nossa amizade me gerava um sentimento de conforto, de me sentir em casa. Não em Santa Bárbara, mas de me sentir acolhida em um lugar que agora era meu. Eu sabia que não estava sozinha ali, que podia confiar em alguém que realmente se importava comigo, independente de quais fossem as minhas escolhas e do tempo que havíamos nos conhecido.

DE REPENTE LOS ANGELESOnde histórias criam vida. Descubra agora