Livro emprestado

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    Erwin estava mal naquele dia particular, era o aniversário de morte do seu pai, e essa data sempre mexia com ele, de certa forma, ele sentia que não fora o filho que o homem merecia, mesmo fazendo de tudo para lhe dar orgulho.

   Então, ele se atrasou, suas aulas não foram tão boas, e mal sorriu no dia, é claro que todo estranharam, Smith era um homem completamente simpático e animado, a personalidade mórbida não combinava com ele, de modo algum.

   Pelo menos, foi isso que Levi pensou quando não viu aquele sorriso de sempre, o sorriso mais que perfeito para uma propaganda de creme dental. Um sorriso que, sem querer, despertava outros quando visto, inclusive do moreno, mesmo que não seja um tão aberto e simplório quanto o de Erwin.

   Talvez ninguém o conhecesse tão bem para saber que aquele sorriso não era tão comum quando ele se encontrava sozinho, imerso em alguns dos pensamentos mais angustiantes de sua vida. Sim, angustiantes. Erwin tinha quase trinta anos, conseguiu um emprego incrível, mas não a tempo de seu pai presenciar, sempre quis uma família, mas não se apaixonava por ninguém, seu interesse era curto, as pessoas não o impressionavam. Ele se culpava por isso, por que não se contentar com algo normal? Por que precisava de alguém surpreendente em vários aspectos? Bem, talvez parece preencher o vazio da sua vida e fazê-lo esquecer do quão sem graça ele mesmo era.

   Ele estava agora em seu carro no estacionamento da faculdade, um tanto desocupado, afinal era quase de noite e as aulas já haviam encerrado, então ele aproveitou para ficar em silencio com a cabeça no volante, tentando não pensar em nada. Se fosse para a casa, certamente esse sentimento seria mais abrangente.

   Levi saía dali, estava na biblioteca antes, buscando alguns livros para estudar, ele viu Erwin no seu carro, parecia completamente sombrio, diferente de todas as vezes que o moreno o havia visto, a luz que sempre carregava com ele não se fazia presente, e por um instante, Levi pensou em simplesmente deixa-lo ali, a conversa de algumas semanas atrás foi suficiente para esclarecer a relação deles, mas não os seus sentimentos.

   Então, quando nem percebia, já estava batendo no vidro, atraindo a atenção do homem para si.

   Erwin olhou para ele, sem entender exatamente porquê havia sido chamado, mas abaixou o vidro para perguntar.

- Levi... Algum problema?

- Bom, eu que te pergunto.

- Huh?

- Você está... – Ele pensou em como poderia falar isso gentilmente. Ele nunca pensava antes. – Diferente hoje.

   O mais velho deu um suspiro e um sorriso cansado, ainda sim, lindo. Por um momento, considerou afastar Levi, mas estava vulnerável e sozinho demais para isso.

- Eu...Não é um bom dia para mim.

- Vamos fazer assim, então, você me dá uma carona e me conta sobre isso no caminho, sim?

   Levi se viu pasmo com o quão falante e preocupado estava agindo, ainda mais com um homem que jurou não se envolver além do permitido. Talvez ele simplesmente não consiga.

   Porém, mais estupefato que Ackerman, só Erwin. Levi era, sem dúvidas, uma caixinha de surpresas. Ficou com ele, o ignorou, agiu como se fosse um qualquer, e agora, se demonstrava preocupado. O que ele queria afinal? Isso era inusitado, sim, mas confortante de alguma forma, fazia alguns anos que Erwin não escutava o pedido de alguém não tão próximo para falar dos seus problemas.

   Claro, mesmo com esse sentimento bom pairando, outro prontamente se sobressaiu: aflição. E se fossem vistos saindo juntos?

   Erwin demorara de responder, então Levi fez isso por ele, quando se viu, já estava no banco da frente com seus livros no colo e sua bolsa em seus pés, olhava para Erwin que parecia tão atordoado quanto ele.

Nada planejado [+18] EruriOnde histórias criam vida. Descubra agora