Quem eu sou.
Nunca vi uma pergunta mais tola e sem propósito do que essa.
Quem eu sou.
Quem eu sou não vale pra quase nada.
Você poderia passar por mim as 08:00 ou as 14:00 em uma rua qualquer e provavelmente nem me notaria.
Você me diz que sim e eu sorrio.
Notaria a roupa os traços físicos e três passos a frente você nem se lembra que um dia me viu.
Seu cérebro daria descarga e provavelmente eu seria uma imagem que apareceria sem significado ou propósito em um daqueles sonhos loucos.
Ainda assim, mesmo que soubesse me descrever apartir daquilo que viu, nunca saberia quem eu sou.
Pouco importa se leio Antônio Bandeira ou friedrich nietzsche.
Pouco importa minhas experiências de vida.
Quem eu sou.
A nossa atual tendência pedante de descrever e falar com autoridade sobre tudo é no mínimo um sarro.
Quem eu sou não importa para ninguém.
Duas três palavras com você e estaremos falando de você e não de mim. Ainda assim nunca me contaria quem você é.
Quem sou eu.
Soa ridículo ao cérebro a tentativa de percorrer os caminhos das sinapses em busca da resposta.
E quanto mais se tenta aproximar com certeza plena da resposta mais caio em gargalhadas desesperadas.
Quem eu sou porra.
Tá quente, um puta sol e você não sabe onde estou.
E o que importa onde estou?
Ao ler esse texto você provavelmente estará se perguntando quem é você.
Não sejamos tolos, poupe seu tempo.
Quem eu sou depende de vários fatores.
Primeiro devo me perguntar se sou alguma coisa e se sou porque sou e quem me atribuiu ser.
Ser necessariamente parte de um pressuposto de propósito.
Ser é ser em algo ou para algo.
Partindo da visão de que a humanidade vive uma noção lunática de realidade, dando nome a tudo que vê para se sentir mais segura, mas que no fim não temos um propósito firmado por método nenhum, nem científico nem metafísico.
Entendendo que estamos todos em negação constante da nossa miséria existencial.
Eu só posso afirmar que não. Não sou nem pra mim nem para você.
Isso, essa visão de que chegaram muitos antes de mim pode soar desesperadora.
Um mundo sem propósito e sem sentido, tomando forma cada vez que nos sentimos mais inseguros diante da fatalidade de um fim.
Saber que não sou nada visto que para ser deveria ter um propósito além de mim, algo que me desse significado é uma das maiores reações fisiológicas e químicas que meu corpo condenado a inexistência já pode conceber.
No que tange a toda mentira que você prefere acreditar na metafísica.
Boa sorte eu vou beber.

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NAO ME ESCUTE
PoetryOnde santo e profano, vida e morte escorrem da mesma fonte. Uma leitura para quem não tem medo de mergulhar em seu interior. Você verá em cada texto um fragmento da sua escuridão e luminosidade. Você não pode esconder-se de si mesmo. Todavia, Não me...