Estou bêbado, andei vagando a noite inteira pelas ruas dessa cidade vazia.
Agora estou aqui, sentado em uma tumba encostado em uma bela lápide.
Os ricos fazem questão de gastarem dinheiro até na morte...
A pedra fria é o reflexo da carne em putrefação abaixo de mim.
Sempre me senti a vontade em relação a morte não sinto medo como a maioria das pessoas.
Na verdade a morte e o sofrimento sempre me pareceram uma parte bela porém pouco apreciada da existência.
A morte é a coisa mais real que temos, não a nada mais real do que a certeza da morte.
A ignorância humana tem colocado durante séculos em nossa mente a imagem esquelética segurando uma gadanha nas mãos sem rosto e com uma longa capa preta.
Eu bebo, bebo, enquanto me deito junto aos mortos e ouço o louvor de quem já se deitou com ela.
Ouço tambem o gemido daqueles que se recusam a partir...
Estou rodeado por restos humanos.
Amores que agora alimentam as larvas, faces irreconhecíveis.
Estou sentado junto a todos eles.
Brindam comigo homens, mulheres, professores, ricos, pobres, negros, brancos, asiáticos, ladrões, prostitutas, padres, bispos, crianças....
Não existe outro lugar na terra onde as diferenças são tão respeitadas.
Me sinto bem junto a eles.
Me sinto bem nesse vazio escuro e silencioso.
Hoje me deito de corpo quente em uma lápide fria, aguardando o tão esperado dia de deitar-me como esses que já estão em outra dimensão.
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NAO ME ESCUTE
PoesíaOnde santo e profano, vida e morte escorrem da mesma fonte. Uma leitura para quem não tem medo de mergulhar em seu interior. Você verá em cada texto um fragmento da sua escuridão e luminosidade. Você não pode esconder-se de si mesmo. Todavia, Não me...