O vagão estava carregado,
eu mesmo possuía comigo tanto peso...
Aquele trem carregava vícios, dramas, putas, adúlteros, lutos, doenças incuráveis, pobreza, miséria, ódio, amor, insegurança, fé, desespero, angústia, pureza, medo, alegrias, reflexões, famílias, pessoas comuns, humanos em seu exercício corriqueiro e neutralizador do sublime....
O trem estava cheio daquilo que somos,
estava cheio de nós.
E por vezes fedia,
e por vezes cheirava bem, geralmente quando se dava a sorte de estar ao lado de um estrangeiro a tudo aquilo.
Quase nenhum olhar carregava esperança.
O chão azul molhado,
mulheres e homens achando espaço para molharem suas partes íntimas ao se esbarrarem uns nos outros, nos bancos, escadas ou de pé no vai e vem do trem.
Havia um jovem chorando sentado no chão sem derramar uma lágrima se quer. Mas estava em prantos.
Crianças famintas sendo levadas por uma mãe desajustada, cansada e irritadíssima.
O vagão carregava o humano.
o mais cru humano; aquele que as vinte e uma horas de uma quarta feira não deseja se travestir de nenhuma sofisticação.
humano demasiadamente humano.
Ainda há quem durma,
ainda há quem se acostume.
Um jovem se deita no peito largo de sua namorada de forma apaixonada.
Eu volto para casa perdido,
sem entender nada.
Abre-se as portas e entram novas angústias, renova-se os amores e os conflitos dentro do vagão.
Uns saindo para vida, outros para morte,
Uma grande maioria vivendo uma morte em vida. E outros, os estrangeiros ou os desavisados e mortificados apenas saem.
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NAO ME ESCUTE
شِعرOnde santo e profano, vida e morte escorrem da mesma fonte. Uma leitura para quem não tem medo de mergulhar em seu interior. Você verá em cada texto um fragmento da sua escuridão e luminosidade. Você não pode esconder-se de si mesmo. Todavia, Não me...