Night Walk

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-Sabe que não precisa ficar aqui comigo – comentei enquanto terminava de lavar a última leva de garrafas esportivas.

-Sabe que eu sempre fico mesmo você falando isso.

-Touché ace-kun.

O treino havia terminado a algum tempo, e tudo pareceu correr surpreendente bem. Tirando as gracinhas do Kurosawa-senpai que estava tentando tirar Kyo do sério, bem isso até Elijah dar um jeito nele.

Pelo menos um dos terceiros anistas tinha a cabeça no lugar, até Iizuna-senpai lançava olhares curiosos demais às vezes. O que levou o próprio treinador a passar algumas direções, completamente vagas para quem escutasse de fora, mas perfeitamente claras.

"É responsável, sei que vai fazer as coisas do jeito certo"

Ou seja, dentro da quadra as regras devem permanecer. Sem romance.

Coloquei a última das garrafas para secar e me virei para dar de cara com um Kiyoomi de braços cruzados me encarando fixamente. Não parecia estar no seu melhor humor.

-Você ainda não se resolveu com a Inarizaki. - e não era uma pergunta, era uma afirmação.

Abaixei minha cabeça enquanto encostava as costas na máquina de lavar – Um deles. O cara é meu amigo, estava esperando uma coisa que eu não fiz. Não o culpo.

-Mas também não precisa culpar a si mesma – ele respondeu – Uma parte anula a outra, você estava ocupada não é como se tivesse feito de propósito. Dê um tempo para as coisas acalmarem.

-Não sabia que tinha esse lado – comentei – E olha que eu achei que te conhecia muito bem.

Sakusa geralmente não conversava com as pessoas sem olhar nos olhos dela, então quando ele desviou do meu soube que tinha algo de errado. – Só estou repetindo algo que eu ouvi.

-Como assim?

O rapaz ficou em silêncio por alguns momentos antes de continuar falando – Meus pais não estavam muito presentes durante a infância, então imagino que eles não eram muito presentes na vida um do outro também.

-Ouvi brigas algumas vezes – e continuou – Algumas várias vezes. Geralmente era assim que elas terminavam. Eles nunca se separaram então acho que tem algo de certo nessa frase.

Nenhuma palavra saiu da minha boca, não tinha sequer como processar o pensamento. Claro que eu sabia que os pais dele, sendo pessoas importantes na comunidade médica da cidade, não participaram muito durante o crescimento - um dos motivos pelo qual Komori foi a figura familiar mais próxima de Kiyoomi.

-Sei o que você está pensando – ele continuou – Mas não precisa ficar com pena, realmente não me importei muito. E até hoje não tem grandes efeitos em mim, me acostumei a ficar sozinho.

Limpei a minha garganta na tentativa de retomar a minha voz – Acabei por aqui, é melhor fecharmos o ginásio e voltar para o prédio beta.

Sakusa não respondeu mas acenou de cabeça saindo do depósito da quadra em seguida, me abaixei colocando os meus pertences dentro da bolsa e saí da sala apagando a luz. Logo já estava do lado de fora trancando o local.

Foram apenas alguns metros antes de Kyo retomar a conversa – Está pensando demais.

-É que... Nós temos famílias tão diferentes – comentei – Você mal vê seus irmãos e eu já estou com saudade dos meus. Não parece estranho pra você? Digo, o jeito que minha família se trata?

-É diferente – respondeu – Mas não de um jeito ruim, eu gosto.

-Seus irmãos são gentis, e Hisao-san também. – ele olhou para céu que já estava escuro – Embora Hayato-kun pareça um furacão às vezes.

-É um jeito de o descrever – dei risada – Hide também é, mas para outras coisas. Você deveria o ver trabalhando, tenho a sensação de que iria gostar do escritório dele.

-Porque?

-É meticulosamente arrumado.

Continuamos andando lado a lado, num clima muito melhor do que o que estava no depósito. O silêncio era um amigo, pelo menos até eu notar o olhar constante de Kiyoomi se voltando para o chão.

-O que foi? – perguntei e parei olhando para o caminho a nossa volta – O que você está olhando? Tem algo caído?

-Não.

-Então o que é? – me virei para olhar seu rosto, eu conhecia muito bem aquele leve levantar de sobrancelha, Sakusa estava envergonhado.

-Casais não costumam ficar andando de mãos dadas?

Balancei a minha cabeça sentindo o próprio rubor subir a minha maçã do rosto – Alguns sim, mas não é algo obrigatório. Não precisa se não quiser.

-Entendo – respondeu – Você quer? Andar de mãos dadas?

Às vezes ele se preocupava com detalhes tão pequenos, mas que fazia meu coração bater infinitamente mais rápido. Apenas o fato de ver ele tentando fazer dar certo, e talvez passando por cima de algumas preferências pessoais, era mais do que o suficiente para me fazer apaixonar milhões de vezes novamente.

-Na verdade – comecei – Gostaria de tentar outra coisa.

Como sempre ele estava com as mãos dentro do bolso do agasalho do time, então me aproximei e apenas passei o meu braço pelo dele. – Minha mãe sempre andava assim com os meus irmãos, de braços dados.

Apoiei a mão no seu braço ao mesmo tempo que deixava meu corpo se aproximar mais do dele, levantei o rosto para poder ver seu rosto e pude jurar que vi estrelas em cada um deles.

Kiyoomi estava feliz.

Voltamos a caminhar na direção do prédio beta, agora com os braços entrelaçados.

-Ouvi você pedindo dispensa para o treinador no treino de sábado – ele comentou – Aconteceu algo?

-Sobre isso... – arrumei a bolsa no meu ombro com a mão livre – Hayo quer voltar para Hyogo, algo como um ritual de despedida. Ir aos lugares que ele gosta, Hide comentou que ele até quer tentar visitar nossa antiga casa.

-Já que ele vai embora por um tempo quer dizer adeus a alguns lugares.

-E no domingo?

Olhei para a frente tentando me lembrar se tinha combinado algo com alguém – Acho que vou ficar no dormitório com a Taya, meu pai tem um hotel grande para atender. Porque pergunta?

-Minha família quer te conhecer.

Se eu não estivesse segurando em seu braço com certeza já teria ido ao chão – S-sua família? Todos eles?

Kiyoomi suspirou, algo raro de se ver – Não tive escolha, minha mãe e irmã foram um tanto quanto, insistentes sobre o assunto. Se não quiser-

-Não é isso – interrompi antes que ele pudesse ter uma ideia errada - É que do jeito que você fala eles parecem ser tão elegantes, e eu sou só... Eu.

-E é mais do que suficiente – ele respondeu de imediato – Não deixe ninguém te dizer algo diferente disso.

Levei a mão livre até o pescoço e apertei ele de leve. Era tão cedo... Quero dizer, ele já conhecia a minha família antes do "nós" acontecer então foi fácil. Mas oficialmente conhecer os pais dele? E os irmãos?

-Não precisa me responder agora. Tome seu tempo.

Ele deve ter percebido o meu debate interno e tentou aliviar um pouco da pressão. Respirei fundo e tombei a cabeça encostando de leve em seu ombro num agradecimento silencioso.

No pensamento só tinha certeza de uma coisa, precisava falar com Ichika.







N/A: Hellous!

Ai os pequenos detalhes são tudo pra esses dois.

Hoje foi isso, até semana que vem.

Até mais, Xx.

Redamancy - (Sakusa x [Nome])Onde histórias criam vida. Descubra agora