00 - o início

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    O termo “depressiva”, de repente, começou a ser um elemento na minha “lista de características” de uma forma que eu nem consigo entender direito como aconteceu

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    O termo “depressiva”, de repente, começou a ser um elemento na minha “lista de características” de uma forma que eu nem consigo entender direito como aconteceu. Eu só sei que em um dia eu era somente Júpiter Bennett, a garota com nome de planeta, e no outro eu era Júpiter, a garota com depressão.

Há quatro meses, minha melhor amiga, Elizabeth, cometeu suicidio. Esse é o primeiro ponto. O fato é: Elizabeth era depressiva — ela sim, eu não! — e, ao que parece, para a diretora do meu antigo colégio e para meu pai, “depressão é contagiosa”. Roseta, minha ex-diretora, após descobrir que eu também havia perdido minha mãe há três anos, chegou a absurda conclusão de que eu precisava de terapia; porque após a morte de Liz, me encontraram sentada no parapeito do terraço do colégio inclinada em direção à queda livre, e eu "não estava sabendo lidar com uma segunda perda".

Vendo por fora, eu realmente parecia uma suicida, mas eu não sou. Eu juro.

Eu só cheguei naquela situação justamente porque eu estava cansada dos “eu sinto muito”, “eu sinto sua dor”, “vou sentir falta dela". Puff. Vão sentir porra nenhuma. Liz era uma garota evidentemente depressiva no seu modo de se vestir e de falar, seu feitio era sinônimo de depressão, sua aura gritava: “Sim, vadias, eu tenho depressão”. Todo mundo naquele colégio a repudiava por isso, zombavam e julgavam ela. Antes de me tornar sua amiga, descobri que no fundamental derrubaram um balde de tinta vermelha nela e a apelidaram de “Carrie, a estranha” pelo resto do ano.

Então, naquele dia eu só queria um momento de paz e o terraço era um bom lugar para isso.

Segundo ponto é que se eu, por um acaso do destino, decidisse me matar, não seria no terraço de um colégio. Que coisa clichê. Eu sou uma garota que gosta de coisas diferentes, eu faria com mais classe, é óbvio. Não que eu pense constantemente em suicídio, vale ressaltar.

A questão é: eu estou perfeitamente bem! Eu não “peguei” depressão de Elizabeth; se esse fosse o caso, teríamos feito suicidio em dupla, não? Ficamos juntas durante quase dois anos. No mínimo, compartilharíamos a navalha. Eu não preciso de terapia e, com certeza, não precisava MUDAR DE CIDADE.

Eu soltei um grunhido alto de frustração quando fechei a janela pela terceira vez, me encolhendo no fino suéter vermelho que pensei tolamente que me aqueceria.

— Está tudo bem aí? – perguntou meu pai, pela centésima vez. Seu olhar de esgueira me examinou como uma águia.

— Uma maravilha. – menti. Sempre menti mal, especialmente quando faço algo que não quero, o que é o caso.

— Você ainda nem chegou na cidade, pode não ser tão ruim quanto você imagina.

— Isso é uma cidade? Eu pensei que era um vilarejo no meio da floresta, já havia até mesmo comprado meus vestidos de camponesa. – fui sarcástica.

HATER OF MELANCHOLY| Edward CullenOnde histórias criam vida. Descubra agora