03 - borboletas na barriga

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     A ida até o hospital foi mais desanimadora do que a ida até a escola

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     A ida até o hospital foi mais desanimadora do que a ida até a escola. Claro, normalmente, ninguém fica feliz quando tem que ir a um. É chato, desanimador, desesperador, é entediante e é ruim; mas especialmente, é terrível quando se é obrigado a ir para o hospital. Eu passei a detestar hospital nos últimos quatro anos, quando eu tive que visitar a mamãe em um.

A mortalidade por câncer de mama do mundo é de, aproximadamente, 25%. E, caso seja diagnosticado no início, as chances de cura são de 90%. 25% de 6 bilhões de pessoas: 1,5 bilhões de desafortunados; minha mãe foi uma dessas pessoas. E, como se não bastasse a má sorte, ela também se encaixava entre os 10% restantes incuráveis. O câncer de mama metastático é o estado mais avançado do câncer, é quando 15% das mulheres afetadas têm a chance de viver de 5 à 10 anos. Mamãe viveu 1 ano desde a descoberta; o câncer já havia afetado os outros órgãos internos — o fígado e o pulmão — e também os ossos.

Ela não conseguia comer, não conseguia andar, não conseguia respirar sem a ajuda de aparelhos. Minha mãe sempre foi o membro mais feliz e animado da família. Eu me lembro de vê-la dançando Elvis Presley ou Michael Jackson — foi a partir dela que os clássicos se tornaram meu gênero musical preferido — enquanto cozinha e arrumava a casa; de quando ela sempre estava animada às seis da manhã, mesmo quando tinha que sair pra trabalhar e me levar pra escola; lembro de como era ter a melhor mãe do grupo. Mas, acima de tudo, eu me lembro de vê-la em decadência sobre o leito do hospital.

É por isso que odeio ir a hospitais, eles tiram a essência de qualquer pessoa, introduzem um ar depreciativo, fúnebre e melancólico. É o lugar onde minha mãe morreu, onde Elizabeth deu seu último suspiro após cortar os pulsos e também onde fui obrigada a me consultar com uma psicóloga. É o epicentro da minha desgraça.

E era pior, porque esse buraco verde e úmido era a definição perfeita de melancolia. Havia tanta neblina que era quase impossível visualizar completamente a rua, o frio era tão intenso que, mesmo com o aquecedor ligado, ainda me sentia insuficientemente aquecida. Então, emburrada e encolhida, eu segui atrás do meu pai quando descemos do carro ao chegar no hospital.

Branco. Foi a primeira coisa que vi quando passei pela porta dupla de vidro opaco. O branco clichê e o piso monolítico usinado. O ar instantaneamente ficou pesado e não menos frio, diferente da secretaria da escola, mas percebi que havia plantas também — que coisa, essa cidade é fascinada por plantas, parece minha vó — e algumas paredes eram pintadas num tom azul-esverdeado.

Olhei ao redor enquanto papai dizia alguma coisa para a recepcionista. Tinha muitos cartazes de auto ajuda com frases clichês — "você é importante", "Deus está com você", "sua vida vale muito", "você consegue", "não desista" —; as vezes, eu penso, que talvez essas frases surgiriam efeito caso fossem ditas por pessoas reais e não imprimidas e coladas em um papel insignificante, cópias de cópias.

Teria feito diferença para Elizabeth? Eu me pego pensando. Bom, provavelmente não, mas eu nunca vou descobrir.

— Filha? – chamou meu pai. Eu deixei de encarar as cartolinas com raiva e me virei para ele, emburrada. — Vamos, a doutora está te esperando.

HATER OF MELANCHOLY| Edward CullenOnde histórias criam vida. Descubra agora