E você nunca verá meu lado

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Entediante, assim como os noivos. Era isso que esse casamento era. Felizmente, uma festa dada por Narcissa garantia a qualidade da bebida, e isso tornava o todo suportável.

Outra felicidade do momento era o anel em meu dedo junto ao par de anos que já tinha se passado, tornando assim quase inexistente os cochichos por onde eu circulava.

Eu ainda não tinha tido a infelicidade de cumprimentar os noivos, apesar de não planeja a minha ida ao toalete consegui me livrar dessa situação, sendo atingida apenas pelas observações da minha mãe sobre a classe da noiva ao escolher uma referência tão direta a família Malfoy adornando o vestido com plumas de pavão albino. O que era apenas um grande clichê provando que Astoria de nada conhecia Draco e provavelmente só tomou essa decisão por escolha de Narcissa.

Draco nunca foi ligado aos pavões de sua mãe, e um vestido de noiva a sua altura seria repleto de esmeraldas, como ele tanto gostava que preenchesse seus adornos. Talvez prata, e não o tal cinza tempestuoso. Ri em silêncio pensando no quão clichê era combinar o vestido com os olhos do noivo.

A festa parecia não se estender, já que eu mal havia chego quando começaram a encaminhar os convidados para o salão para a dança dos noivos. E talvez eu tenha chegado cedo demais, apesar das constantes reclamações de minha mãe. Eu não precisava ter visto aquela cena.

O começo coreografado, quase mecânico, beirava a beleza. Eu poderia julgar muito da jovem Astoria, mas não podia negar que ela carregava certa graça em sua enjoativa delicadeza, quase como se fosse uma boneca. Draco deixava clara a sua preferência quando o assunto era mulheres, se meu cabelo fosse mais longo seria fácil nos confundir. Provavelmente esse era o fetiche dele, era ela ser a única versão minha que ele poderia ter.

Sorri ao lembrar, em meio aquela cena patética, de quando eu disse que o odiaria para sempre. Uma grande verdade, talvez a mais sincera que eu já proferi entre quatro paredes e não tão vestida. Draco jamais voltaria a chegar aos meus pés, não depois da sua demonstração pública de indecisão e falta de palavra ao tão facilmente trair seu lorde. Por fim Draco era apenas um garoto e isso faria eu sempre ser mulher demais para ele.

Infelizmente e bem, infelicidade era algo que não poderia faltar em um casamento como esse. Eu me questionava o quão infeliz ou ingenuamente apaixonada Astoria era a ponto de aceitar um ex comensal tão carente de ascensão a ponto da mãe estar dando tantas festas há uns meses antes do anúncio do noivado.

O ponto infeliz desse momento, não era o pobre destino da noiva, mas sim a forma como Draco a olhou durante aquele final de coreografia. A olhava de uma forma que ele nunca ousou olhar para mim.

- Pansy? - meu noivo me chamou enquanto tocava gentilmente em meu braço, me guiando para a área onde os convidados já dançavam.

Vesti o meu melhor sorriso, o que eu sempre usava ao exigir Flint e me deixei levar pelo rodopiar da dança na qual ele guiava. Entre passos e risos sobre seja lá o que meu noivo falava, eu consegui ver os dois ao centro ainda absortos em um momento que transbordava amor. Amor que eu duvidava que Draco fosse genuinamente capaz de sentir.

Até porque, se ele fosse capaz de nutrir algum sentimento que não por ele mesmo, ele teria compreendido os sinais que durante anos eu entreguei. As palavras ditas e também não ditas, os olhares, os lugares certos na hora certa e principalmente, não teria sido o covarde que foi ao se afugentar da guerra e de mim.

Covardemente em uma estufa da propriedade onde estávamos agora, essa propriedade que eu conheço tão melhor que a mais nova senhora Malfoy, que nitidamente não é digna do sobrenome ou do título de senhora. Estufa que protagonizou o pedido desesperado e ridiculamente triste daquele que sorria com o canto dos lábios agora, mas que há mais de um ano atrás, carregava uma expressão digna de pena que se tornou ridiculamente fria ao declarar que não passaríamos do que éramos.

Seria engraçado se não soasse tão ridículo, essa declaração dele sendo desmentida no dia de hoje, um par de anos depois, em uma cerimônia tão pomposa com uma cópia minha sem tanta graça e sensualidade. A castanha em seus braços soava ainda mais patética enquanto sorria abertamente para os convidados.

Sem muito aviso os dois estavam à minha frente e de meu noivo, Astoria alegava não ter nos visto antes e se desculpava pela falta de cumprimento. Draco soava tão cordial que eu precisei de muito esforço para não rir em sua cara. Esse não era verdadeiramente Draco Malfoy, apenas uma interpretação de um covarde agora casado com uma jovem ridiculamente feliz sem noção alguma do que iria enfrentar ao se aliar a esse garoto, porque eu me negava a chamá-lo de homem.

A verdade, se meus pensamentos me deixam de fato ser verdadeira, é que naquela noite ao descalçar meus saltos e trancar a porta do banheiro eu precisei ativar um feitiço para abafar o barulho que meu choro fez ecoar por aquele cômodo tão branco, que poderia facilmente contrastar com meu antigo destino ao lado de Malfoy.

Destino esse que ele findou poucos meses após a guerra, quando enquanto eu ajustava as minhas roupas, ele sem muita vontade avisava que não poderíamos voltar a ser vistos juntos em público, alegando uma falsa preocupação e proteção que não chegava aos seus olhos. Sua proteção não existiu durante o ataque ao castelo quando me deixou sozinha na masmorra como se eu fosse apenas um dos outros.

E enquanto as lágrimas e os meus soluços preenchem todo o ambiente eu percebo que eu não espero que você veja pelo meu lado, não seria possível para alguém tão egocêntrico como você, tão preso em aceitar o que te mandam fazer que jamais poderia olhar para o lado e compreender a mulher que sempre esteve com você desde antes mesmo de entender o que era companheirismo. Talvez pelo fato de eu ter me tornado uma mulher anos luz antes de você ao menos sonhar em deixar de ser um garoto.

Mas pelo menos nós jogamos o jogo e mantivemos o papel enquanto lhe foi útil, não é mesmo? Apenas enquanto foi útil a você. Enquanto você não mascarava seus atos com a história de lidar com fantasmas do passado. É realmente engraçado como você, que sempre detestou o Potter e tudo ligado a ele, após a derrota do lado que você estava assumiu a posição de forçado a fazer o que fez. Como se não se gabasse da derrota do grifinório enquanto estávamos no Expresso no nosso sexto ano.

A verdade, acima de tudo o que martela em minha mente enquanto eu permaneço pateticamente sentada apoiada nessa banheira olhando para o meu patético reflexo chorão, é que eu poderia ter feito algo naquele pós guerra. Eu poderia ter lhe dito algo e sobreposto a recusa de meus pais em manter contato com sua família na época. Mas eu não queria, eu não queria lutar por você, porque eu não deveria ser a pessoa a lutar mas sim ser o seu prêmio e merecia que você me olhasse como olhou hoje para a sua esposa. Mas aparentemente eu sempre fui demais para você.

Suspirei enfim levantando daquela ridícula posição de ex-namorada após casamento de ex-namorado e tomei o banho que meu corpo pedia. Felizmente, ao menos uma felicidade nesta noite, eu soube em todos os meus ossos que essa era a última vez que eu te via e assim foi. 

Desventuras do Sangue | DrastoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora