Não sei para onde ir

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Senti a minha respiração falhar. Meus olhos pareciam falhar ao avistar o topo de seus cabelos castanhos e um nó se formou em minha garganta. Eu não conseguia ver os seus olhos enquanto você seguia frente a loira que te acompanhava. Seria esse seu padrão, Theodore? Levei meu martini aos meus lábios desejando que aquele liquido me inundasse com a coragem de ir ao seu encontro e te confrontar.

O que felizmente ele não fez, já que ao se virar não era você, mas sim um bruxo qualquer que provavelmente divertia-se com sua companhia, um completo avesso a minha situação de tantas noites seguidas sentada no mesmo balcão, sozinha, apenas em companhia de um martini que parecia amargar ainda mais toda a solidão do meu ser.

Eu já perdi as contas de quantas vezes meu pai havia me perguntado sobre você, sobre nós e principalmente sobre até quando eu esperaria. Na última semana ele havia se cansado, limitando suas perguntas a como eu estava e se gostaria de ir para a França aprofundar meus estudos em herbologia.

Era mais fácil durante as férias de Astória, mesmo com ela área como havia ficado na última semana, ainda sim era fácil com a sua companhia focando em conversas diversas sem nunca mencionar o seu nome ou qualquer coisa que me lembrasse de você. Infelizmente os esforços dela não surtiram tanto efeito visto que eu seguia podendo inundar uma cidade com tantas lágrimas que despejava toda noite pensando em sua partida e nas cartas que voltavam pela falta de um destinatário para recebê-las.

Voltei a concentrar minha atenção no homem que não era você e na sensação que a possibilidade de minutos atrás inundava em meu ser. Eu daria tudo para que fosse você, mesmo sabendo que eu provavelmente não te confrontaria, mas sim deixaria que o oceano por trás de meus olhos inundasse desta vez frente a você, com meus braços presos em sua cintura como em tantos outros momentos esteve e você me confortou.

Com um longo suspiro levantei deixando o meu já cativo lugar naquele bar, aparatando em meu quarto. Não me dei ao trabalho de tirar a roupa que vestia, apenas deitei meu corpo em minha cama e desejei que o inconsciente me abraçasse com rapidez, para que com sorte eu encontrasse com você ou qualquer lembrança nossa ainda vivida o suficiente para acalmar o vazio em meu peito.

Minha mente vagou rapidamente para a sala comunal quando meus olhos flagraram os seus uma par de vezes após seu primeiro jogo de quadribol. Você, Draco e Blásio comemoravam triunfantes a vitória contra os lufanos e eu, ao lado de Pansy, apenas acompanhava. Você era uma incógnita, quieto demais até em suas comemorações. Um quase completo oposto a Draco e Blásio que sempre falavam em alto e bom tom sobre seja lá o que fosse. Talvez o seu mistério somado ao meu carinho por livros do mesmo tema tenham feito os dois anos seguintes terem aflorado mês a mês o interesse que apenas em nosso quarto ano eu tomasse coragem em quase te convidar para o baile do torneio, convite esse que não precisei fazer já que assim que minha pergunta saiu você se prontificou em me convidar.

Eu consigo visualizar com clareza você em seu fraque azul marinho, beirando o negro dos seus cabelos, sorrindo pela primeira vez para mim enquanto eu descia trajando um vestido prata que minha mãe havia enviado junto a pergunta de quem seria o meu par. Pergunta essa que eu só respondi pouco menos de uma semana depois, declarando que você era meu então namorado e desejava conhecer ela e meu pai de forma apropriada, apesar da já existente proximidade da família.

Por mais que o nosso mundo se afundasse em escuridão nos dias, semanas e meses que se passaram, estar com você era como saber para onde ir, visto que meu destino era sempre os seus braços. Principalmente após o seu primeiro jantar com meus pais quando minha mãe decidiu ser o momento certo para falar sobre a maldição de sangue que assombrava a minha família e traçaria por sua vez os meus anos de vida caso eu seguisse com meus planos de ter herdeiros. Semanas após essa conversa eu chorei como chorava todas as noites agora na sua ausência, mas naquele dia tive o meu lugar certo para ir, dentro dos seus braços com seus lábios colados nos meus jurando que se eu estivesse com você filhos não seriam necessários já que tudo que você precisava era de mim.

Mas talvez essa declaração fosse apenas uma mentira, dentro de quase um ano de seu afastamento de mim e de toda a comunidade bruxa, aumentando sempre os cochichos sobre o nosso término e qual poderia ser o motivo real por trás de sua partida. Motivo esse que eu também gostaria de saber, motivo esse que eu gostaria de ter recebido como resposta às tantas cartas que eu insistia em enviar para você, e que seguiam sem respostas.

Como se pudesse haver um motivo plausível o suficiente após a nossa última briga no sexto ano, quando você confirmou para mim os boatos sobre seu pai estar ao lado do senhor das Trevas, e em meio a minha tentativa nada firme de terminar nosso relacionamento, jurou que nunca deixaria que seus problemas me afetassem. Como se eu pudesse desejar não fazer parte dos seus problemas assim como de toda a sua vida. Sendo que meu único desejo desde aquele baile em nosso quarto ano era poder estar tão inserida em sua vida a ponto de ser a nossa vida, com seus braços em torno do meu corpo sempre me mostrando para onde ir.

Despertei com a claridade atravessando as cortinas do meu quarto e me obrigando a seguir em frente, longe das lembranças e peças que minha mente vinha me pregando. Claro, seguir em frente esse que durou menos de um par de horas, já que após o almoço a coruja de Blásio entregou um pedido para que eu o encontrasse no bar que eu tanto frequentava e que provavelmente já era de conhecimento de qualquer que fosse o bruxo levemente habituado a frequentar o mesmo.

- Zabini - cumprimentei sentando ao seu lado, enquanto involuntariamente meus olhos vagavam pelo espaço buscando os negros cabelos de ontem, desejando que hoje fossem a pessoa certa.

- Obrigado por vir, Greengrass - falou cordialmente, um tanto quanto diferente do Blásio de nossos anos em Hogwarts, até por conta de hoje se tratar de um herdeiro a frente de parte dos negócios da família. Eu pedi meu drink de costume antes de continuar aquela conversa.

- Você não falou na carta qual era o motivo deste convite - comecei casualmente levando minha taça até os meus lábios.

- Theodore - ele falou em um quase suspiro que fez com que meus dedos se apertaram na taça em minha mão e me obrigando a refazer o caminho da mesma até os meus lábios, dessa vez por um período mais longo já que o liquido parecia sem gosto assim como tudo a minha volta parecia desaparecer, deixando apenas a voz de Blásio preenchendo a minha mente - Meu pai deseja a união entre as nossas famílias, - mais um suspiro de Zabini enquanto pelo canto dos olhos eu o via baixar os olhos até o copo em suas mãos - Você sabe que não temos de fato uma escolha as vontades de nossos pais mas ainda sim eu tentei, Daphne - ele declarou em um tom cansado enquanto seus ombros caiam - Mas Theodore não vai voltar - anunciou por fim levando seu copo até seus lábios.

- Você o viu? - foi tudo que consegui dizer enquanto meu cérebro parecia incapaz de absorver tudo o que ele havia dito.

- Sim - falou e então um riso sem humor tomou conta - Mas não foi fácil, ele não quer ser encontrado e fez um bom trabalho para que isso quase acontecesse - seus olhos ainda estavam baixos quando eu enfim virei meu rosto para o encarar.

- Eu preciso do endereço, Blásio - falei firmemente recebendo como resposta um suspiro do mesmo.

- Daphne - sua voz seguia o tom de exaustão de antes - Ele pediu para avisar que não iria voltar - completou só então me encarando. Suas feições combinavam com a sua voz - Acredite, Malfoy e eu tentamos, qualquer um que conheça minimamente um de vocês dois sabe que o destino desejava essa união mas Nott - ele suspirou pesadamente - É difícil lidar com os fantasmas da guerra - declarou mais para ele do que para mim.

- O endereço, Zabini. - mantive a firmeza em minha voz ignorando com todas as minhas forças as últimas palavras de Blásio.

Anos mais tarde eu descobri que Zabini apenas cedeu naquela noite pois realmente acreditava que eu poderia mudar o curso da decisão de Nott, infelizmente eu não era importante o suficiente para tamanha mudança na vida dele. Theodore preferiu a reclusão ao lado de seus fantasmas a cumprir todas as juras vazias de amor que me fez em Hogwarts. O que mais a frente deixou de ser um problema quando eu enfim entendi que o companheirismo de Blásio era maior que qualquer amor que eu nutria em meus ser pro Theodore.

Ainda sim, parte de mim ainda sentia falta da direção de Theo e desejava que ao ver as fotos da minha felicidade estampada nos jornais algo dentro dele acendesse e o trouxesse de volta para mim. Mesmo que eu soubesse que eu não era o que ele precisava e se seguisse a sua espera eu jamais saberia para onde ir, já que ele de fato não iria voltar. 

Desventuras do Sangue | DrastoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora