A estação nunca pareceu tão cheia quanto naquele feriado de Páscoa. E eu nunca havia percebido quantos estudantes de cabelos castanhos estudavam naquele castelo até esse dia.
Decidi manter uma distância segura do desembarque, apesar do tempo a minha presença ainda não passava despercebida. Felizmente as pessoas voltaram a minimizar os cochichos e até esboçaram alguns cumprimentos silenciosos.
Astória parecia tão entretida na conversa com a ruiva ao seu lado que eu repensei a minha aproximação, sentindo a excitação passar pelo meu corpo enquanto minhas mãos beiravam o suar frio. O que era absurdo, não era como se não nos falássemos com frequência, na verdade hoje era o primeiro dia sem uma carta dela, o que mais tarde eu descobriria que era mentira já que uma me aguardava em casa contando sobre sua ansiedade em ver como a barba tinha mudado o meu rosto e o quão ansiosa por um tempo longe dos livros ela estava.
Apesar de alegar uma boa média, Astória não era fã dos estudos e parecia sempre entediada ao comentar sobre sua rotina acadêmica. Ela deixava claro, ao declarar a quantidade de dias que faltavam até o término do semestre em todas as cartas, o quão ansiosa estava por aquele fim.
Não foi ela quem percebeu a minha presença, mas sim uma loira que se aproximou dela e apontou em minha direção. O quão clichê seria dizer que o sorriso de Astória poderia iluminar tudo à sua volta? Porque essa de fato era a verdade, e ela parecia saber já que tentou o retrair enquanto arrastava desajeitadamente o malão até onde eu estava.
- Surpresa? - ela perguntou quando já estava perto o suficiente.
- Achei que ia precisar de ajuda com o malão - respondi segurando o mesmo e encurtando a distância quase inexistente entre nós dois.
Ela sorriu e repetiu o que fez em nossa última despedida, com as mãos segurou na barra do meu blazer e ficando na ponta dos pés selou nossos lábios para depois protagonizar um sorriso ao voltar seus calcanhares ao chão e levar uma mão até a minha barba.
- Eu gostei - comentou focada no caminho que seus próprio dedos faziam.
Eu por vez, me limitei a sorrir, evitando de ignorar o lugar onde estávamos e aproximar novamente nossos rostos e até mesmo nossos corpos. Aproveitei a proximidade para passar minha mão livre em seus cabelos, descobrindo que eles eram tão sedosos quanto a minha lembrança levemente embriagada de três meses atrás.
- Meu pai sabe que você está aqui? - suas sobrancelhas arqueadas deixavam evidente sua dúvida fazendo um riso leve sair dos meus lábios - Você não me falou nada sobre vir me encontrar aqui, eu preciso ir pra casa senão os meus pais vão vir até aqui! - seus braços agora estavam cruzados na altura do seu busto e foi inevitável não repetir a cena que ainda pairava sob os meus pensamentos, levando a minha mão livre do malão até o seu cotovelo e o puxando levemente para baixo.
- Lucius falou com seu pai - afaguei seu braço antes de continuar - E nós vamos para sua casa, e a escolha será sua se quer ou não que eu fale com ele - completei acompanhando seus olhos que não me encaravam mas sim a minha mão no malão.
- Eu não preciso ir exatamente agora para casa...
- Não?
- Eu posso mandar apenas o meu malão e um recado de que irei chegar em algumas horas...
- Algumas horas? - perguntei forçando meu rosto a não ser tomado pelo sorriso que queria tomar conta dele.
- A menos que sua conversa com o meu pai seja sobre Daphne - a frase saiu de repente e antes que eu a processe suas íris verdes me encaravam com afinco - Nesse caso eu realmente preciso ir agora para casa.
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Desventuras do Sangue | Drastoria
RomantizmFazer parte de uma as vinte e oito sagradas famílias pode ser um fardo, fardo esse que Astória Greengrass apelidará de desventura do sangue. Algo do qual você não pode fugir, mas que talvez possa endossar. Em um mundo pós guerra, dois filhos do sag...