A escolha certa

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Eu conseguia ouvir o compasso dos ponteiros do meu relógio de pulso, tamanho era o silêncio que pairava entre Daphne e eu.

Eu acreditava que a essa altura ela já soubesse do meu encontro com Theodore e talvez até sobre o antigo desejo de meu pai para que ocupasse o lugar que agora Blasio assumia ao seu lado. Isso tornava o silêncio menos incômodo, nós de fato não tínhamos sobre o que falar, e claro, a situação evidenciava como estar esperando por Astória era a melhor escolha.

- Ela acredita que pode funcionar - sobressaltei ao enfim ouvir a voz de Daphne rompendo o silêncio - Casamento - completou antes de liberar um longo suspiro enquanto ajeitava a postura na poltrona - Ela pode não falar sobre com você, mas eu sei que ela deseja ter um casamento realmente feliz - suas íris verdes firmaram no meu rosto enquanto falava.
- Eu sei - devolvi no mesmo tom firme que ela usava. E de fato, eu sabia. O que fazia um sorriso vitorioso querer brincar em meus lábios.

Astoria havia comentado em algumas cartas sobre o seu desejo de que seu casamento não fosse apenas uma desventura ocasionada pelo sangue. Reforçando o seu discurso que havia nos colocado na situação que estamos, onde eu me encontro em uma saleta com Daphne, esperando por ela para que eu possa a levar para um encontro. Oficialmente nosso primeiro, apesar de as páginas do Profeta Diário já falarem sobre os rumores da união das famílias.

- Vamos? - a voz de Astoria soou em minhas costas antes de seus dedos pudessem tocar o meu ombro. Pude ver Daphne, que estava a minha frente, sorrir carinhosamente olhando para ela e quando me virei senti meus lábios também curvarem-se em um sorriso.

Astoria estava quase como no dia do baile em minha casa, com os cabelos presos apenas de forma que deixavam seu rosto em evidência, mas com as madeixas negras emoldurando o mesmo. Os lábios levemente vermelhos, contrastando com o branco de sua pele junto ao vestido preto, que apesar de justo em seu busto e cintura, possuía um decote comportado e um tecido que eu acreditava ser seda.

Com um leve manejar de cabeça, me despedi de Daphne e deslizei minha mão pelas costas quase desnudas de Astoria. Quando chegamos a rua, ela prontamente enlaçou seu braço no meu rindo, deixando claro que aguardava pela nossa aparatacao. Neguei com a cabeça e a guiei pela rua.
- Onde vamos? - seu tom era tão curioso quanto suas sobrancelhas que poderiam facilmente virar uma grande interrogação.
- Seu pai indicou um restaurante próximo que segundo ele é o seu preferido - respondi buscando soar o mais amistoso possível, desejando que essa escolha fosse a certa para aquela noite.
- Mas qual é o seu preferido? - a naturalidade em sua voz me fazia querer rir da forma como ela conseguia mudar qualquer assunto quando algo a deixava curiosa.
- Qualquer um com uma boa culinária italiana - respondi enquanto igualava a velocidade de nossos passos.
- Massas não são o meu forte - comentou dando de ombros.
- Assim como poções - provoquei recebendo um riso dela.
- Assim como poções - concordou.

Assim que adentramos a rua onde o restaurante ficava, me lembrei das vezes em que Astória declarou sentir falta dos pratos do mesmo. E também, o identifiquei com facilidade, graças a sua antiga descrição de como as luzes amarelas iluminavam a fachada do mesmo realçando a decoração rústica, mas surpreendentemente sofisticada, do mesmo.

Infelizmente o mundo real era diferente das ambientações que eu vivia quando Astória descrevia os espaços em suas cartas. Foi preciso apenas um par de minutos para que a desaprovação no olhar de algumas pessoas no restaurante virassem em minha direção.

Felizmente, Astória parecia aérea demais a isso enquanto me guiava até a sua mesa preferida e declarava que me cederia a honra de sentar em seu local de costume, para que eu também me tornasse um apaixonado por aquele local.

- Nós podemos ir em outro lugar - falou dando de ombros enquanto esgueirava seus olhos pelas pessoas a nossa volta.
- Todo lugar é assim - declarei voltando minha atenção ao cardápio em minhas mãos.
- Você quer se mudar? - ela perguntou de súbito - Você nunca me falou sobre onde gostaria de morar - completou e pude ver que fazia o mesmo que eu, analisando o cardápio.
- Não é uma escolha que eu tenho - suspirei - Além do mais, Narcissa provavelmente vai redecorar a mansão para que possamos morar na mesma.
- Eu nunca conseguiria dizer não a sua mãe - ela falou seria enquanto seus olhos encontravam os meus - Ela me assusta- confessou tentando oferecer um sorriso que saiu quase como uma careta.
- Para Lucius você diria não? - provoquei enquanto um sorriso brincava no canto dos meus lábios com a possibilidade.
- Uma desventura do sangue, de fato - falou dando de ombros - Ser uma Malfoy será aceitar o que eles dizem - completou em tom leve, por mais que a declaração surtisse um impacto em mim.
- Não existem escolhas quando se é um Malfoy - declarei baixando meus olhos para o cardápio e antes que terminasse de ler o primeiro prato seus dedos encontraram os meus sob a mesa.
- Pra quem já escolheu a Greengrass certa, você parece ter tido uma vantajosa dose de escolhas - seu tom foi carinhoso assim como seu toque e eu só pude concordar.

Desventuras do Sangue | DrastoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora