Adeus

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O último dia em Muspelheim passou incrivelmente rápido. Logo após o desjejum os irmãos foram convidados para conhecer os terrenos ao redor do palácio, convite prontamente aceito.

Também ali, assim como em tudo naquele reino, as cores predominantes eram avermelhadas, no céu e no solo.

Os visitantes caminharam envoltos pelos Muspel em sua forma diminuta até um ponto em que o solo divergia para um pequeno barranco.

A vista que se descortinava logo abaixo era de tirar o fôlego: um campo repleto de flores desabrochadas que, assim como as árvores daquela floresta, possuíam tamanho bem maior do que o que estavam acostumados. A menor delas obrigaria Thor a se erguer na ponta dos pés e esticar o braço para tentar tocar suas pétalas.

Os demônios do fogo precipitaram-se barranco abaixo, esvoaçando entre as flores carmim, como crianças brincando no jardim.

Os asgardianos se contentaram em sentarem-se na ponta do barranco, os pés balançando livres no ar, apenas observando a movimentação das criaturas ardentes.

É a última plantação de Minmesias – Sinmore, em sua forma humanóide, surgiu em pé ao lado dos deuses irmãos – Elas são perfeitamente simétricas em seu ciclo.

– Florescem apenas a cada duzentos anos – Loki completou a informação demonstrando seu vasto conhecimento.

Exato, Loki Odinson. E cada vez que desabrocham mantêm as pétalas abertas por mais duzentos anos. Essas acabaram de florescer.

Não disse mais nada. Até mesmo Thor entendeu as entrelinhas: não haveria outro ciclo para aquelas lindas flores. Provavelmente era a última vez que exibiam tamanha beleza sem igual.

Observaram a paisagem por mais um tempo antes de seguiram para um pouco mais ao norte. Sinmore lhes apresentou o rio Terlft que, segundo a lenda, dava acesso ao Hel, mas apenas aos mortos, inclusive de outros reinos. Todos tinham que passar por aquele rio antes de alcançar seu destino final.

Evidentemente era apenas uma lenda. Poderia ser real ou não. Odin nunca dissera nada aquele respeito, nem os irmãos haviam perguntado.

Loki já lera algo parecido em algum lugar. Tinha quase certeza de ter sido em um livro escrito em Muspel.

Diferente do padrão, as águas do rio eram escuras e turbulentas. Os demônios do fogo não se aproximaram muito das margens, temendo até mesmo um respingo daquelas águas tidas como sagradas.

As árvores ao redor do leito eram escuras e feias. Uma espécie de névoa cinzenta planava dando um ar deprimente. A sensação era tão ruim que Thor chegou a tocar o martelo preso ao cinto, como que para garantir que ele estava ali em caso de algo desconhecido daquelas águas.

Ninguém vem aqui – Sinmore afirmou cortando um pouco do clima ruim.

Thor lançou um breve olhar em direção a Loki. O moreno acenou em concordância. Ambos sabiam o que a criatura fazia: ela apresentava os pontos importantes que ainda existiam em Muspelheim. Mostrava aos deuses em secreta esperança que eles mantivessem tudo aquilo vivo em suas memórias.

Quando o reino dos demônios de fogo desaparecesse de vez restaria apenas a literatura, mas as páginas de um livro não são como as lembranças. Thor e Loki guardariam momentos maravilhosos não só na mente, mas também em seus corações.

Isso sim era permanecer vivo e pulsante, mesmo quando não existissem mais. Esse era o legado dos Muspel.

Nem Thor nem Loki acreditavam em destino. No entanto a presença deles ali, em um momento tão delicado, não podia ser considerada simples coincidência.

You Are All I Have - ThorkiOnde histórias criam vida. Descubra agora