CENA EXTRA

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Thor e Loki só foram dispensados da presença dos pais quando Frigga se convenceu de que seu caçula precisava de um banho para se livrar de toda a lama preta que secava em suas roupas.

Aproveitando a deixa, Loki grudou na mão de seu irmão e o puxou para junto de si. A cena não passou despercebida aos olhos de Odin e sua esposa. A mulher piscou os olhinhos e uniu as mãos junto ao peito antes de exigir, de forma estranhamente vibrante, "que eles teriam que contar tudo depois, tim tim por tim tim".

– Você não achou isso estranho? – Thor perguntou olhando pra trás, na direção da sala do trono, enquanto caminhava. O corredor estava vazio e silencioso. Todos os asgardianos pareciam estar perdidos por aí.

– Um pouco – Loki deu de ombros. Sua mãe era uma pessoa incrível e surpreendente.

– Precisa de ajuda no banho, irmãozinho? – o loiro insinuou enquanto puxava uma plaquinha de barro da curva do pescoço de Loki.

O deus-mago ficou desconcertado e tentou disfarçar com uma careta. Teria que se acostumar com aquele tipo de coisa. Ele era reservado e discreto, sempre na dele. Totalmente o contrário de Thor, sempre tão expansivo, espontâneo e... indiscreto.

– Você pode me ajudar se...

Thor nunca saberia a condição para ajudar seu irmão. Naquele segundo, sem qualquer aviso, Lady Sif e os três guerreiros viraram no fim do corredor e estancaram, surpresos ao reencontrar os dois irmãos ali em Asgard.

Os guerreiros-deuses também congelaram no lugar.

Não houve boas vindas, nem acolhimento ou júbilo por tão inesperada volta. Simplesmente porque a única mulher do grupo impediu qualquer manifestação desse teor quando seus olhos lançaram chispas na direção de Loki e sua voz cortou o silencio do corredor totalmente acusatória.

– Não acredito, Thor! Você ficou quase dois anos desaparecido apenas para trazê-lo de volta?! – o dedo indicador mirou Loki, como se pudesse atingi-lo com uma descarga de energia maléfica.

– Sif... calma... – o deus do trovão ainda tentou ser paliativo. Mas só foi ignorado. Loki engoliu em seco enquanto as palavras de Thor, há muito pronunciadas, voltaram a sua mente com força total. "Se colocar as mãos em você vai chutar suas bolas até você falar fino como a mulherzinha traiçoeira que é".

– Calma...? – Lady Sif abriu passagem empurrando Hogun, Frandal e Volstagg – Só vou ficar calma depois de dar o que essa víbora merece!

Terminou a ameaça com um olhar mortífero em direção a Loki, que, por puro instinto, recuou dois passos, na mesma velocidade que Sif avançou, movida por puro rancor. Num movimento fluido, graças a anos de treinamento, a mulher-guerreira ergueu a bota num protótipo de chute poderoso que causaria um estrago maior ao deus-mago do que apenas falar fino...

Loki viu o pé subindo com olhos arregalados e, inconscientemente, tentou proteger o frágil local com as duas mãos esguias, encurvando-se de leve para o lado do irmão. Thor também viu o pé se movendo, em câmera lenta, e a única coisa que lhe veio a cabeça foi proteger o irmão do golpe fazendo a única coisa possível: ele se colocou na frente do moreno no último segundo.

Conclusão: Sif se viu enterrando o pé nas bolas erradas. Literalmente.

Loki, que tinha fechado os olhos sem perceber, abriu-os rapidamente ao ouvir exclamações doloridas dos três guerreiros. O rapaz ficou desnorteado ao ver Thor paralisado, muito pálido e suando frio, com as mãos nas partes baixas.

– THOR! – Sif engasgou abaixando o pé – DESCULPE-ME... EU...

O deus-mago a ignorou, tratando de socorrer o mais velho.

– Thor! Você está bem? Está doendo muito?

Tentando sorrir, mas falhando miseravelmente, o impetuoso deus do trovão respondeu com uma voz meio falha.

– Não se preocupe... irmãozinho... vou ficar bem, embora... tenha... quase certeza de que... meus herdeiros não ficarão...

Por um breve segundo, o silêncio embaraçoso reinou. Mas Loki não aguentou... uma risada começou a nascer no fundo de sua garganta com a declaração do irmão. Ele levou a mão à boca para tentar abafá-la. Afinal seria crueldade rir: Thor sacrificara-se por ele.

Passando uma mão pelo ombro de Thor, Loki tentou ajudá-lo a se endireitar.

– Irmão, porque você fez isso? Eu merecia aquele chute, não vou dizer que não!

– Sinto muito, Thor. Não queria que você falasse fino...

A declaração de Lady Sif trouxe ainda mais diversão a cena, desfazendo a tensão do ambiente. Frandal começou a rir, fazendo Volstagg segui-lo e mais a frente até Hogun sorriu. O ruivo se pronunciou dentre as risadas.

– Frandal, quando foi a última vez em que Lady Sif chutou as partes baixas de Thor?

– Acho que foi quando éramos jovens. Se bem me lembro Thor teria entrado nos aposentos dela e pego uma de suas roupas íntimas, mostrando a todos na área de treinos!

– Ah sim! Sif ficou uma fera nesse dia!

Voltaram a rir animadamente. Sif ficou vermelha de raiva quando lembrou daquele dia, virou-se para os 3 guerreiros e bradou:

– Não teve graça nenhuma!

Loki parou de sorrir e exclamou:

– Opa!

Todos olharam para ele, menos Thor, que ainda estava respirando profundamente, apoiado em seus joelhos. Loki também se lembrou daquele dia e um detalhe lhe voltou a memória: a ideia fôra dele!

– Sif, Thor não teve culpa pela sua calcinha de coraçõezinhos alados – abafou a risada – Eu só queria me divertir e acabei dando a ideia a ele.

Thor, que já tivera bastante tempo para recuperar o ar que lhe faltou pelo chute, bateu no ombro do irmão e riu:

– Pois é, essa não foi a primeira e nem será a última vez em que levei um chute por causa de meu irmãozinho e suas ideias!

E Frandal acrescentou, rindo:

– Até porque, se for depender da Lady Sif, ela não vai desistir tão cedo de chutar as bolas de Loki!

A guerreira cruzou os braços e bufou:

– Não vou mesmo!

Hogun finalmente se aproximou de Thor, apoiou a mão em seu ombro e pronunciou:

– É bom tê-lo conosco de novo.

Thor sorriu para seu amigo, envolvendo-o pelos ombros num abraço de um só braço, olhando para os outros três que sorriram junto com ele.

Incrivelmente, pareciam estar de volta aos velhos tempos, com todas as implicâncias, briguinhas e ciúmes, assim como aceitação e adaptação típica daquelas pessoas que cresceram juntas e se conhecem muito bem.

Agora sim, Loki sentia que estava verdadeiramente em casa.

You Are All I Have - ThorkiOnde histórias criam vida. Descubra agora