Colônia francesa, 1751
— Paciência, minina, parece que comeu furmiga vermeia. Pêdo num vai fugi di ocê não!
— Vamos lá, Aba! Termine logo com isso, por favor! É um martírio ter que perder tanto tempo com estas vestimentas!
Era uma tarde ensolarada, Rose tinha por volta dos seus quinze anos. Dona de uma beleza incomum, não queria, mas chamava certo tipo de atenção 'desnecessária' como ela mesma costumava dizer.
— O dia não vai esperar, Aba! Vamos, se apresse! — Dizia com imensa impaciência.
Rose pulava de um pé ao outro de modo agitado enquanto sua Ama lhe auxiliava com seu vestido. Aba sorria em direção à menina enquanto tentava ir com toda a pressa que conseguia, era um espírito livre essa menina, era o que Aba pensava sempre que via Rose dessa forma, espírito livre como o seu povo o era.
— Ingora farta o...
Antes que Aba terminasse de falar e sequer pegasse a escova para lustrar os cabelos de Rose, a menina lhe deu um beijo estalado na bochecha e correu porta a fora.
Passou por corredores pedindo a Deus que sua mãe não a visse correr por ali, senão levaria uma imensa represália sobre como moças da idade dela deveriam se comportar.
Sem fôlego chegou até o coche que já a aguardava com um leve sorriso, Pedro, assim como Aba, também era um dos cúmplices da menina em suas peripécias e aventuras.
— Vamos, vamos! Se apresse que não posso perder este evento magnânimo! — Redarguiu em tom sério e animado ao mesmo tempo.
Pedro olhou ao redor para que não fosse repreendido outra vez por ajudar a menina em suas traquinagens, quando viu que não havia pessoa sequer lhes olhando, atiçou o cavalo para cavalgar com toda pressa.
As ruas de São Domingos nunca viram um coche¹ mais veloz do que o que passava com uma certa jovem em seu interior. Pedro parou no Porto e Rose desceu estarrecida, uma imensa embarcação estava bem diante dos seus olhos.
— Disse, Pedro, magnânima! Veja! Veja! — Cutucava e puxava Pedro pela mão enquanto proferia cada palavra.
O cocheiro sorria com a alegria e entusiasmo da menina. Pedro fora criado desde novo na casa de Rose, nunca conheceu seu povo. Levava nos modos e na fala as características do povo branco.
— É realmente estupendo, menina!
— Humpf! — Rose fez um muxoxo nada comum para uma garota — Fala como se eu fosse uma criança, temos quase a mesma idade! Como não sabe quando nasceu, eu bem posso ser mais velha do quê você!
Pedro sorriu mais uma vez e nada lhe respondeu. Encarava o povo que desembarcava dali. Rose lhe disse que ouviu de uma vizinha que ouviu de um Duque que aquele povo era selvagem, os mais selvagens que já foram vistos e capturados.
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Sorriso de Sol
Historical FictionTodos os dias somos chamados a refletir sobre o nosso passado. Seja ele um advindo dessa vida, ou de outras existências em que não lembramos com exatidão. E apesar de não lembramos, sempre teremos resquícios de nós, guardado em nosso disco de memór...