Capítulo 13

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— Com sua licença, irei em busca de minha esposa, sua demora está me preocupando.

Aviléz proferiu quando percebeu que algo havia acontecido para que Rose demorasse tanto a retornar. Com a sua saída, brusca e repentina da mesa de almoço, teve que mudar de assunto e colocar o foco em outro local.

— Tem razão, Senhor Aviléz, mas o padre e eu iremos. Uma mãe e um servo do Cristo poderão auxiliar neste momento.

Ele não gostou do olhar conspiratório que a Senhora Caterine trocou com o padre. Nada pôde fazer quando ambos ergueram-se e o deixaram sozinho naquele ambiente.

— Eu lhe disse Padre Custódio, Rose não é mais a mesma. Algo no casamento a tirou de seu juízo perfeito. Preocupo-me com minha filha, nunca deveria ter dado a minha mais preciosa joia àquele homem que pouco conhecemos, o que sabemos sobre ele em realidade?

— Tem razão Senhora Caterine, nada sabemos sobre o Senhor Aviléz. Ele não gosta de visitas, ouso lhe contar que nunca fui convidado às suas terras, Aviléz é o único fazendeiro que nunca solicitou um serviço da igreja, embora faça gordas doações, confesso.

— Olhe onde minha filha veio parar, nunca antes tive que adentrar aos aposentos desses escravos, o odor me enoja.

Com um lenço tapando seu nariz e sua testa empapada de suor, o padre concordava com cada palavra de Caterine.

Encontraram Rose no chão, segurando a mão da velha escrava que partira.

— Olhe o estado em que se encontra, Santo Deus!

Caterine não se aproximou, deixou o padre constatar com o próprio olhar.

— O que faz aqui, Senhora Rose? Aqui não é um local para uma dama.

— Estou orando padre, orando pela alma de alguém muito querido.

— Aqui? Ora! Vá até a igreja e ore por lá que Deus escuta melhor. Alguém da sua família faleceu, Senhora Caterine? — dirigiu a pergunta à mãe de Rose que apenas meneou a cabeça em uma negativa. — Está com febre? Alucinando?

— Não padre, Aba faleceu ainda há pouco.

— Essa escrava?

— Era sim, mas também era uma boa ouvinte, uma ótima conselheira e possuía um coração ímpar.

— Eles não têm o direito ao céu, Senhora Rose. Não são pessoas como nós somos, Deus só ouve aos puros. Eles possuem a pele escura para demonstrar sua escuridão interna.

Rose ergueu-se, não era raiva o que sentia. Lembrou-se de Aba, de como ela lhe disse para pensar como crianças que não sabem, então agem como alguém que nunca aprendeu.

— Se Deus enxerga melhor que toda a criatura dele, então ele enxerga muito melhor do que qualquer um de nós. Ele não se incomodaria com o que carregamos em nosso exterior e sim no interior, e como o senhor bem diz em seus sermões, não deve julgar ao próximo. O que há dentro deles, apenas Deus pode ver. Mas como disse, eu que sou infinitamente inferior a Deus consigo ver bondade, amor e dignidade, não acredito que haja escuridão. Acredito que o senhor ainda não educou seu olhar para a caridade de enxergar a todos com amor.

Caterine sorriu, o segundo passo de seu plano se concretizava bem a sua frente. A vaidade do padre a auxiliaria a destruir o recente casal.

— Quantos absurdos! Você precisa frequentar mais a igreja! Fará algumas penitencias para se libertar destes pecados, irei marcar um horário para se confessar diretamente comigo.

Sorriso de SolOnde histórias criam vida. Descubra agora