Rose ficou alguns instantes no quarto antes de ir ao encontro de Avilez.
Era a primeira vez que se via assim, como ela. Rodopiou a frente do espelho e sorriu consigo mesma, era ela de volta. A menina de antes com a mulher de hoje, juntas.
Saiu do casarão e seguiu os tambores. Foi diferente do que sentiu ao entrar na igreja. À medida que se aproximava, os sons dos tambores aumentavam e seu coração pulsava junto a ele. A cada passo sentia que voltava para casa depois de muito tempo distante. E quando pisou no imenso circulo tomado por pessoas que dançavam e sorriam, todos os olhares se voltaram em sua direção.
Não se sentiu sufocar, não se sentiu presa. Mesmo sendo desconhecidos, sentia-se em casa pela primeira vez em um longo tempo.
Seus olhos azuis brilhavam na escuridão bruxuleante, ela continuou caminhando, dessa vez sozinha, sem o braço de ninguém. Mas seus pés não eram martelos, eram como plumas que flutuavam e ela não precisava de ninguém para lhe guiar o caminho pois dessa vez ela queria caminhar.
Caminhou até Aviléz que estava sentado em um tronco e não tirou o olhar de Rose desde que ela apontou ao longe. Foi ela quem lhe ofereceu a mão e o sorriso, ele estava paralisado.
— Agora eu vejo você. — lhe tocou a face como quem acarinha suave pétala.
— Agora sou eu. — com um sorriso que não cabia no rosto e nem no coração, Rose lhe respondeu.
O beijo que não existiu na igreja, aconteceu ali. E naquele momento eles se uniram diante de Deus. Em meio aos tambores, as danças, aos cânticos e a alegria, Deus abençoou aquela união que a muitos seria um porto seguro.
As mulheres pretas puxaram Rose pela mão, a afastando então de Aviléz. Conversavam com ela em sorrisos e alegrias, lhe dando as boas vindas e desejando felicidade na união que se iniciava.
— Você tinha razão, Cássia, fez bem ao tentar me preparar. — Aviléz comentou com a mulher que não saiu do seu lado.
Com lágrimas nos olhos, Cássia admirava o olhar de Aviléz. Desejou muito que ele encontrasse alguém bom, que lhe fizesse feliz. E ali a menina fazia, mesmo sem fazer nada.
— Ela não é como os outros. — encarava a gargalhada de Rose enquanto era rodeada por mulheres dançando e rodopiando ao som dos tambores e atabaques.
— Não. Mas os outros já lhe feriram demais.
— Percebi que ela tem medo de algo. Deve ser muito cuidadoso na primeira noite.
— Serei. Confesso que tenho mais medo de feri-la do que ela teme a mim.
E quando Rose voltou ao seu encontro, ainda sorria e seu olhar ainda brilhava.
— Divertindo-se? — Foi o que Aviléz lhe perguntou.
— Sim, muito!
— Que bom que viemos para casa então. Você não está cansada?
Rose olhou para baixo. Lembrou-se do quarto de casal decorado, da cama com lençóis ricos e alvos como a mais pura pluma, lembrou-se do que teria que enfrentar logo mais.
Sentiu o toque mais uma vez em sua face, ela estava se acostumando a eles, não desejava fugir do toque de Aviléz, ao contrário, se sentia bem e queria chegar mais perto, foi o que fez.
Gesto que não passou despercebido por ele que naquele instante perdeu uma batida de coração.
— Você não precisa ter medo de mim.
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Sorriso de Sol
Ficção HistóricaTodos os dias somos chamados a refletir sobre o nosso passado. Seja ele um advindo dessa vida, ou de outras existências em que não lembramos com exatidão. E apesar de não lembramos, sempre teremos resquícios de nós, guardado em nosso disco de memór...