Apenas me escute

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-Juliana! Juliana, espere! _a voz do Guillermo me fez parar no meio do caminho.

Virei-me para encará-lo e gritei.

-EU QUERO FICAR SOZINHA!

-Não! Você não quer! Eu não vou te deixar sozinha! O que diabos aconteceu? _ele perguntou.

Esfreguei meu rosto, sem me importar com o quanto isso iria estragar minha maquiagem.

-Eu disse a ela... Eu disse a ela que era eu... _falei, contendo os soluços que ameaçavam sair da minha garganta.

Com o repentino ataque de raiva, as lágrimas havia parado e eu não queria trazê-las de volta.

-E? _perguntou Guille, me olhando com cautela.

-Ela não deu à mínima. Ela foi atrás da Daniela, sem se importar que eu estivesse bem lá a olhando... _não pude continuar, o nó na minha garganta fez toda a minha traqueia e pulmões doerem. Eu queria gritar de frustração e ao mesmo tempo sabia que não valia à pena.

-Então ela é uma idiota, Jul. Enfrente essa situação e viva com isso. _disse Guillermo controlando o tom de voz.

Era minha imaginação ou ele parecia furioso?...

Eu abri minha boca para responder, mas imediatamente fiquei em silêncio. Eu não podia falar sobre o que havia acontecido na noite anterior. Não sem machucar minha alma.

Sem dizer uma palavra, Guille se aproximou de mim e passou os braços em volta do meu corpo de uma forma protetora e doce. Eu apertei meus olhos com força, suprimindo meu choro, e ele me pressionou contra seu corpo com força.

Então, eu passei meus braços em volta dele e me deixei ir... Deixei o choro fluir até meus olhos queimarem, eu deixei as lágrimas caírem até que eu não conseguisse pensar em nada além do ardor dos meus olhos e da dor do meu peito.

Naquele dia eu não consegui fechar os olhos a noite toda.

As memórias passavam pela minha cabeça uma atrás da outra, como um filme sádico, masoquista e doloroso que nunca acabava. Valentina me pedindo para falar, Valentina prestes a tomar quinze doses de álcool, Daniela colocando sua calcinha horrivelmente nojenta nas mãos dela, ela caminhando em direção a Daniela... Como Valentina poderia se justificar? Como ela poderia se defender quando tudo estava claro para mim?...

Meus olhos ardiam com as lágrimas derramadas e todos os músculos do meu peito doíam com os soluços reprimidos. Depois da festa, Lúcia me trouxe para casa sem dizer uma palavra, pelo que fiquei imensamente grata. Eu não estava pronta para falar sobre isso, eu não estava pronta para enfrentar nada.

Quando olhei para o relógio e percebi que era meio-dia, forcei-me a me levantar e me esticar. Entrei no chuveiro e chorei mais uma vez.

Era como se meu corpo não se cansasse de derramar lágrimas. Como se não bastasse ter chorado uma noite inteira por ela...

Eu havia desligado o celular. Se ela tivesse ligado, não teria ouvido. Se ela tivesse mandando mensagens para mim, eu não queria lê-las. Eu não conseguia acreditar no quanto ela havia conseguido me machucar.

Quanto dano ela foi capaz de me causar? Quanto dano eu fui capaz de suportar?...

Saindo do chuveiro, nem me incomodei em me olhar no espelho. Eu estava com medo do que iria encontrar no reflexo, mas quase podia imaginar, alguém completamente diferente de mim estaria olhando para mim e a frustração voltaria.

Quando desci as escadas, encontrei a sala deserta e um bilhete em Braille sobre a mesa.

"Fomos para a casa de sua tia Roberta. Chegaremos tarde. Eu te amo." _dizia ele.

Ainda que Eu Possa te Ver G!POnde histórias criam vida. Descubra agora