Uns braços se envolveram em volta de mim, me afastando da segurança dos braços da minha mãe. Um cheiro familiar tomou conta de mim, não era o perfume que eu queria cheirar. Não eram os braços que eu queria sentir. Não era minha mãe, não era Valentina.
Guille me segurou com força contra o peito e eu agarrei sua camisa em meus punhos, tentando não gritar. Tentando não correr para os braços de Valentina. Tentando demonstrar uma força que eu não tinha.
Outros braços me envolveram por trás e eu senti o calor do corpo de Lúcia me envolver com força. Soltei Guille e me virei para abraçá-la. Ela passou os braços em volta de mim e acariciou meus cabelos, murmurando palavras de encorajamento para mim. Dizendo-me o quanto ela me amava, o quão importante eu era para ela, dizendo-me o quanto ela sentia e o quanto ela gostaria de eliminar minha dor.
Uma mão familiar envolveu meu pulso e me puxou suavemente. Eu sabia quem era sem nem levantar a cabeça. Deixei-me ser guiada pelos braços abertos que me acolheram e me agarrei a ela. Agarrei-me a Valentina como se ela fosse à única pessoa na sala. Seu cheiro inundou meus sentidos e me permiti chorar ainda mais intensamente.
Seus braços se apertaram em meu corpo e o mundo desapareceu. Éramos apenas eu e ela. Eu me agarrei a ela e ela a mim.-Se eu pudesse aliviar sua dor, eu o faria amor. Eu faria qualquer coisa por você. _ela sussurrou em meu ouvido com um tom desesperado em sua voz.
-E..eu não quero ser forte. _solucei contra seu peito, porque foi o que Guille e Lúcia falaram para mim.
-Você não tem que ser forte amor, serei forte por nós duas. _sussurrou ela de modo que só eu pudesse ouvi-la.
-Amo você, Juls. Não duvide, não se esqueça. Eu te amo.As próximas horas passaram como um borrão na minha memória. Mal me lembrava da conversa rápida com Elena, do abraço de Eva, de Valentina saindo de minha casa relutante em me deixar, Guillermo saindo com a promessa de nos levar para o velório e a mensagem de Valentina dizendo que ela chegaria atrasada para o funeral porque Daniela queria vê-la e ela queria terminar o relacionamento o mais rápido possível.
Não tinha cabeça para falar com Guillermo sobre o que havia acontecido no fim de semana. Eu prometi a mim mesma que faria isso em breve.
Todos aqueles momentos incrivelmente felizes pareciam uma lembrança tão distante, apesar de não terem acontecido há mais de algumas horas. Tomei um banho gelado, permitindo que as lágrimas corressem livremente pelo meu rosto. Coloquei um vestido preto e minhas velhas botas de couro antes de escovar meu cabelo e sair do meu quarto sem nem mesmo me olhar no espelho.
Não havia tempo para vaidade. Não havia tempo para nada além do fato de que de repente perdi meu pai. Obriguei-me a manter a calma enquanto observava minha mãe pentear os cabelos na frente da cômoda do quarto. A manhã tinha acabado de cair em seu esplendor e eu não sentia a mínima fome. Eu não tinha sono, não havia nada que eu pudesse fazer a não ser pensar em meu pai.
A casa parecia tão vazia... Tão diferente.
-Está pronta? _a voz de minha mãe tremeu ao se virar para mim.
-Sim. _minha voz soou rouca e ela sorriu em minha direção.
Meu olhar estava desfocado pela exaustão e me forcei a piscar várias vezes, para focar minha visão mais uma vez.
Meu corpo precisava de um descanso que minha mente não poderia fornecer no momento. Eu duvidava que pudesse ter uma noite tranquila em breve, então me forcei a caminhar pelo corredor até chegarmos à rua.
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Ainda que Eu Possa te Ver G!P
FanfictionDepois de ter recuperado a visão, a vida de Valentina Carvajal voltou em grande parte ao que era antes do acidente. Festas, garotas, música e popularidade... E ao mesmo tempo, algo havia mudado nela. Ela não era a mesma e nunca mais seria, aliás ela...