Eu só te amo

1.1K 74 7
                                    


Uma semana inteira se passou sem que eu tivesse alguma noticia de Valentina. A primeira sessão do meu tratamento seria dentro de dois dias, então eu teria que ir comprar a minha passagem de avião.

Guille e Lucia haviam sido a minha melhor companhia no campus, os rumores sobre meu rompimento com Valentina haviam se explodido como pólvora, mas eu também não me importava com isso. Eu já tinha problemas o suficiente para me importar com o que os outros pensavam.

Valentina nem se quer se dava ao trabalho de me olhar, era como se eu não existisse para ela. Era como se ela nunca tivesse me conhecido...

Durante a tarde quando eu saí da universidade fui comprar a minha passagem, eu iria viajar sozinha. Estávamos tentando fazer com que a loja nos desse mais dinheiro, então começamos a vender doces caseiros. Estava funcionando maravilhosamente bem.

Meus episódios de visão embaçada estavam se tornando cada vez mais frequentes, o que me deixava com os nervos a flor da pele.

E se o tratamento não funcionasse?

-Próximo. _gritou uma voz em minha direção.Pisquei varias vezes e me dirigi até a pequena janela.
-Boa tarde, em que posso te ajudar? _perguntou à senhora da bilheteria.

-Boa tarde, eu preciso de uma passagem de ida e volta para Liverpool-Inglaterra. _respondi.

A mulher me fez as perguntas rotineiras, pegou meu dinheiro e me entregou as minhas passagens de ida e volta. Fazer isso sozinha era o que mais me aterrorizava, estar lá... Sózinha, em uma cidade desconhecida, isso me assustava.

-Se você quiser eu posso ir com você. _sugeriu Guille na noite seguinte enquanto eu preparava a minha pequena mala.

-Você já fez o suficiente por mim Guille. _sorri em sua direção.

-Eu faço qualquer coisa por meus amigos. _ele me sorriu de volta.

Eu desviei meu olhar para as minhas mãos e perguntei, porque eu precisava saber.

-Você tem falado com a Eva?

O silêncio se estendeu entre nós.

-Ela não quer falar comigo... _falou finalmente.

Uma pontada de dor atingiu o meu peito, tudo isso tinha acontecido por minha culpa. Se eu tivesse contado toda a verdade para Valentina antes, nada disso estaria acontecendo...

-Eu sinto muito Guillhermo... _sussurrei.

-Não sinta. Se estiver destinado a ser, será. Eu não vou pressioná-la.

-Tudo que eu queria era poder dizer a ela o quanto eu me odeio por tê-la ferido dessa maneira. _sussurrei.

-Algum dia ela se dará conta da verdade...

Eu olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas.

-Eu espero que sim, de verdade. Espero mesmo...

Nessa noite eu não pude dormir...

Não fui capaz de fechar os olhos e conciliar o sono. Eu estava tão aterrorizada e tão nervosa que não conseguia parar de pensar o que me esperava. As primeiras sessões seriam primordiais para o tratamento.

Durante a minha insônia recapitulei todos e cada um dos momentos que passei com Valentina. Parecia que haviam se passado uns mil anos desde que a vi pela primeira vez; e ao mesmo tempo, não era tempo suficiente para que eu pudesse esquecê-la.

As três da manhã me rendi, acendi a luz do abajur da minha cabeceira, peguei um caderno e uma caneta e comecei a escrever.

"Não sei se algum dia eu terei coragem de te mostrar essas linhas, provavelmente você iria rasgá-las e jogá-las ao lixo como parte das minhas lembranças...
Eu sou uma covarde...
Eu sempre fui o tipo de pessoa que se orgulha por compreender o valor das pequenas coisas, mas minha realidade sempre foi outra. Não sou corajosa, não sou forte, não sou decidida ou racional... Nem sequer sou madura.
Sou só uma pequena menina assustada que vive a vida com cautela, rezando a Deus que nenhuma pessoa chegue perto o suficiente para que eu não a machuque.
Eu não quero ser mais essa pessoa, eu não quero ter medo. Já não quero calar todas as coisas que um dia eu quis dizer e, por medo, não disse.

Ainda que Eu Possa te Ver G!POnde histórias criam vida. Descubra agora