A vida é um sopro

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Não me lembro de já ter chorado tanto em toda a minha vida.

Não me lembro de me sentir tão infeliz como até aquele momento. Não me lembro de me sentir tão desolada e arruinada como quando vi o caixão com o corpo do meu pai desaparecer na terra.

Guillermo me abraçou com força, me confortou, sussurrou palavras em meu ouvido e eu não pude fazer nada além de soluçar contra seu peito. Não percebi que Jacobo, Lúcia, Guille e Valentina estavam me envolvendo em um abraço coletivo até que ergui os olhos do chão.

No final do velório, Elena obrigou minha mãe a ir comer com ela e Lucia. Jacobo, Eva, Guille e Valentina me obrigaram a entrar no carro da minha amiga para ir a um "lugar especial", ou pelo menos aquelas foram às palavras que eles usaram para descrevê-lo.

Lucia dirigiu pelo que pareceu uma eternidade. Valentina, que estava em sua caminhonete com Jacobo, mandava mensagens a cada poucos minutos e Guille trocava as músicas do rádio no banco de trás do Chevy de Lucia e Eva reclamava do mau gosto musical que ele tinha.

-Chegamos. _anunciou Lúcia, estacionando o carro no acostamento da estrada.

Minha sobrancelha franziu quando eu saí do carro, sem entender o que estávamos fazendo no meio do nada.

Todos eles me seguiram e me virei para Lúcia com um gesto questionador. À distância, você podia ver o mar. Azul profundo, cristalino, brilhante... Vívido.

-O que estamos fazendo aqui? _perguntei.

Valentina caminhou até a beira do que parecia ser um penhasco e desapareceu, fazendo-me gritar de horror. Corri até a beirada e tive vontade de acertá-la quando descobri que não era nada além de um pequeno desfiladeiro com vista para o oceano.

Valentina estendeu a mão para mim e eu a peguei, descendo até onde ela estava. A costa estava a apenas alguns metros de distância e a brisa com cheiro de sal atingiu meu rosto.

Ela tirou os sapatos e as meias, arregaçou as calças justas e se deixou cair na areia branca. Lucia, Jacobo, Guille e Eva desceram enquanto eu tirava minhas velhas botas de couro e me sentava ao lado de Valentina.

Todos nós observamos o oceano por uma eternidade, e uma estranha paz tomou conta do meu peito.

-Como se sente? _Guille perguntou, olhando para mim com cautela.

-Como você acha que ela vai se sentir, seu idiota?!_rebateu Eva.
-Isso não é coisa de se perguntar.

Uma risada boba explodiu da minha garganta e de repente eu me vi rindo alto, jogando minha cabeça para trás, contagiando a todos com minha risada sem sentido.

Lucia colocou o braço em volta dos meus ombros.

-Vamos superar isso juntas. _disse ela.

-Faremos isso juntas. _sorri e suspirei.

O silêncio nos invadiu completamente por um longo tempo.

Ninguém se atrevia a dizer nada.

Ninguém se atrevia a romper com este pequeno momento de felicidade.

-Acho que vocês duas deveriam ficar juntas de novo.

-A voz rouca de Guille fez com que todos nos virássemos para olhar para ele.

Meu queixo caiu em descrença enquanto ele olhava para Valentina e para mim.

-O quê?_gaguejei, atordoada.

Ainda que Eu Possa te Ver G!POnde histórias criam vida. Descubra agora