Isso te Pertence

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Eu não conseguia me mover. Meu corpo inteiro estava dolorido e entorpecido. Era como se milhares de lâminas afiadas tivessem sido cravadas em cada canto do meu corpo.

Eu estava completamente paralisada pela dor aguda e pela sensação de queimação por todo o meu corpo. Eu não estava respirando, eu não estava nadando, eu não estava fazendo absolutamente nada para sair da água gelada e tudo em que conseguia pensar era na dor.

Eu estava vagamente ciente das bolhas que emanavam de minha boca e então uma dor mais penetrante se apoderou de meus pulmões. Eu não conseguia ver nada além de água e pedaços de gelo, não conseguia respirar, não conseguia pensar, não conseguia me mover... Foi então que eu os vi. Um par de olhos azuis acompanhados por cílios deslumbrantes logo abaixo da água, comigo. Eu estava alucinando? Eu estava morrendo?

Eu estava ciente de que tudo estava desbotando e que minha visão estava escurecendo. Era isso, eu iria morrer. Eu iria perder minha vida em um lago congelado.

Senti a água escorrer pela minha boca e quase engasguei. Eu rolei sobre meu corpo e comecei a tossir violentamente enquanto a náusea me invadia. Vômito aguado saiu da minha boca e eu engasguei pesadamente em busca de ar. O ar não estava entrando em meus pulmões e comecei a ofegar com mais força.

Onde diabos eu deixei meu inalador?

Eu estava quase congelando, meu corpo todo estava dormente, eu tremia da cabeça aos pés e não conseguia respirar nem fora da água.

Mãos agarraram meu rosto e lutei contra elas, sem sucesso. De repente, minha visão se preencheu com a Valentina encharcada, tão trêmula quanto eu, seu cabelo grudado no rosto e seus lábios roxos pelo frio.

-Calma, respira. _falou ofegante.

Eu puxei o ar com todas as minhas forças e Valentina começou a inspirar e expirar o ar em um ritmo medido, guiando minha respiração.

Segui seu exemplo e, aos poucos, a sensação de falta de ar foi desaparecendo. O peso dos acontecimentos caiu sobre mim como um balde de água fria e senti um nó na garganta.

Eu estive a ponto de morrer afogada.

Valentina me puxou com força para ela e eu gemi quando senti suas roupas molhadas e frias contra meu corpo.

-Droga, droga, Juliana, quase me mata de susto!_falou Valentina, com a voz trêmula.

Eu me agarrei ao seu corpo, tremendo de medo e frio. Seus braços se apertaram ao meu redor e eu absorvi seu gesto caloroso. Apesar de tudo, me sentia segura em seus braços. Valentina era à única pessoa que me fazia se sentir segura em qualquer lugar e a qualquer hora.

Sem dizer uma palavra, Valentina ajudou-me a levantar e voltamos para a cabana, completamente encharcadas e com os patins de gelo nas mãos. Valentina olhou para mim, puxando-me para mais perto de seu corpo, sussurrando para mim que logo estaríamos na cabana nos aquecendo.

Eu me deixei levar por seus murmúrios suaves, permitindo-me sentir-me segura.

Quando chegamos à cabana, ela entrelaçou meus dedos congelados e dormentes com os dela e me levou escada acima para um quarto vazio.

Não havia vestígios de Jacobo e Lúcia em parte alguma. Eles provavelmente ainda estavam trancados no quarto principal. Valentina me levou até o banheiro do quarto e abriu a torneira de água quente, enchendo a banheira.

O vapor invadiu toda a sala em questão de segundos e pude ver Valentina misturar a água quente com um pouco de água fria. Seu olhar encontrou o meu por um segundo e, sem pedir permissão, ela me ergueu em seus braços e cuidadosamente me colocou dentro da banheira; nem mesmo se importando que eu estivesse completamente vestida.

Ainda que Eu Possa te Ver G!POnde histórias criam vida. Descubra agora