Vamos Consertar Isso

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Eu não saía da cama há dois dias. Minha mãe me trazia um pouco de comida que eu mal tocava. Desliguei e escondi meu celular para não ligar para ela, eu estava morrendo de saudades.

Senti um peso ao meu lado na cama, mas não me movi. Eu não me importava quem era, não estava interessada em falar com ninguém. Não queria fazer nada. Eu não queria ver ninguém...

-Como você está querida? _a voz de Lucia fez o nó na minha garganta ficar enorme. Ela envolveu seus braços em volta do meu corpo e me apertou com força.

Não pude evitar. Estava soluçando incontrolavelmente mais uma vez.

-Está tudo bem, pequena. Estou aqui... Chore o quanto precisar chorar. Estarei aqui sempre. _ela sussurrou e eu me virei para abraçá-la.

Desta vez, eu me permiti soluçar alto. Eu estava desabando, eu estava desmoronando. Eu estava desmoronando e não havia ninguém aqui para me segurar. Eu não poderia fazer isso, eu não queria fazer isso. Por que isso tinha que acontecer comigo?...

-Eu amo tanto ela! _gaguejei em meio às lágrimas.

-Eu sei, Jul. Eu sei que você a ama, e ela sabe que você a ama.

-Não! Ela não sabe! Ela não sabe o quanto...! _eu não pude continuar.

Eu não conseguia parar de chorar.

-Ela te ama, ela te ama muito. Ela não para de me perguntar sobre você. Ela te ama.

-Lucia, eu não posso mantê-la por perto. Não posso!

-Porque não? O que está acontecendo Jul?

-Você tem que prometer que não vai contar a ela. _eu sussurrei, tentando me tranquilizar.

-Eu prometo.

Eu me afastei para olhar para ela. Eu tinha certeza que eu devia estar horrível, mas não poderia me importar menos. Eu não me importava nenhum pouco. Respirei fundo e comecei a falar.

-Você se lembra que eu estava com problemas na visão?

-Sim. _sua sobrancelha franziu ligeiramente.

-Piorou. _um nó se formou na minha garganta.
-Eu fui ao médico e... _engoli em seco.
-Lúcia... estou ficando cega. _minha voz era quase um sussurro, mas notei como toda a sua expressão se transformou.
-Oh meu Deus... _ela sussurrou enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.
-Oh meu Deus! Oh meu Deus!

Eu balancei a cabeça, incapaz de falar, enquanto as lágrimas caíam dos meus olhos.

-E..eu não pude lhe dizer, não tive coragem para fazer isso. Eu não quero que ela passe por isso. Não quero que ela me veja ficar cega sem que ela seja capaz de fazer nada para impedir. Ela não merece sofrer assim eu... Eu fiz isso por ela!

Lúcia abriu a boca para dizer algo, mas depois fechou.

Ficamos em silêncio por um momento que pareceu uma eternidade. Então, ela começou a me perguntar sobre as opções. Contei a ela sobre o tratamento, a chance percentual de funcionar, quanto dinheiro eu deveria ter e quão pouco nós tínhamos de fato.

-Deve haver uma maneira. _ela sussurrou, sua voz falhando.

-Não há... _sussurrei de volta.

-É isso, Juliana? Você vai desistir assim tão fácil? Vai deixar a batalha assim mesmo, sem lutar? _ela parecia exasperada... irritada.

-O que eu faço?_eu olhei nos olhos dela.
-Me diz, o que eu faço? O que eu posso fazer para fazer o tratamento sem deixar minha mãe na rua? Não temos ninguém, minha única tia mora no Texas e mora em uma fazenda que está caindo aos pedaços.

Ainda que Eu Possa te Ver G!POnde histórias criam vida. Descubra agora