Prólogo

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Os corredores estavam escuros, sendo iluminados apenas por tochas colocadas nas paredes de pedra num espaço de três em três metros. Sirius corria nesses corredores enquanto o desespero corria nas suas veias, sendo o barulho de suas botas contra o chão de pedra o único barulho audível. Ele estava com medo de algo ter acontecido aos amigos, mas sabia que tinha que tomar cuidado porque se fosse apanhado não iria conseguir ajudar com o que pudesse estar a acontecer. Ele ainda tinha a esperança que fosse chegar a tempo ou que tudo não passava de um mal entendido.
Uma semana atrás Sirius tinha sido chamado secretamente para ir às escondidas, como era habitual quando queria estar com o melhor amigo, pois James e Lily, rei e rainha de Hogwarts, queriam falar com ele. Nesse encontro o casal contou ao Black que suspeitavam que alguém os queria matar, e fizeram Sirius prometer que se algo acontecesse deveria levar Harry, se a criança ficasse bem como eles esperavam que ficasse. No dia eles combinaram que todas as noites e manhãs iriam à varanda do quarto deles no castelo para Sirius saber que eles estavam bem, já que felizmente Sirius conseguia ver tal varanda de sua casa.
A suspeita de que algo estava mal surgiu em Sirius quando naquela noite os amigos não tinham feito o combinado. Depois de algum tempo à espera de algum sinal, o Black saiu de casa e foi em direção ao castelo, onde entrou pela passagem secreta.
Ele manteve a pequena esperança de que tudo estava bem até abrir as grandes portas do quarto do rei e da rainha e encontrar o corpo morto de James encostado à parede com um corte deferido em seu estômago, donde saía o líquido vermelho escuro que manchava o chão. Tal imagem encheu-lhe os olhos de lágrimas, e sem pensar ajoelhou-se em frente ao amigo e começou a tocar-lhe à procura de qualquer sinal de que aquilo não era verdade, e que na realidade ele estava vivo e tudo não passava de uma brincadeira. Ele permaneceu assim durante alguns momentos enquanto a realidade caí-lhe encima como algo pesado e afiado que a cada segundo pesava e doía mais.
Aquela situação continuou até Sirius ouvir um chorar de bebé vindo do fundo do quarto onde se encontrava a cama e o berço do herdeiro. Desviou o olhar da figura morta e foi apressado em direção ao barulho.
Quando lá chegou encontrou Lily caída morta no chão perto do berço de ouro do filho. A única coisa que fez Sirius não parar perto da amiga foi a pequena criança, assim foi em direção a Harry e percebeu de imediato um corte não muito fundo na testa do menino. Todos os seus pensamentos viraram-se para Harry e imediatamente pegou nele, fazendo-o acalmar-se no colo familiar, e procurou algo que pudesse usar para estancar o sangue que saía do ferimento.
Sirius sabia que devia fugir com a criança como tinha prometido, mas custava saber que tinha chegado tarde de mais e que agora teria que os abandonar mortos sozinhos no grande quarto. Porém ele ainda podia ajudar Harry, e ele faria de tudo para proteger a criança em seus braços. Antes de sair do grande quarto olhou uma última vez para os rostos que nunca mais veria com vida e murmurou um pedido de desculpas.
Após sair do local onde deixou os amigos e uma parte de si caminhou apressado pelos corredores a tentar não ser apanhado por nenhum membro da corte. Ele tinha pleno conhecimento de que se fosse apanhado ali seria o maior suspeito, afinal a presença de um pirata não deveria existir num castelo, ainda mais um que tinha nascido entre as paredes daquele castelo e decidira abandonar a nobreza pela pirataria. E lá estava ele com o assassinato do rei e da rainha acabado de acontecer e ainda com o herdeiro nos braços.
Quando chegou fora do castelo aproveitou a escuridão provocada pela pouca luz da lua e seguiu por caminhos em terra em direção a casa. Durante o caminho tentou agasalhar Harry da melhor forma que podia, afinal ele ainda era um bebé de poucos meses e tinha acabado de perder os pais. A morte dos pais já era dor suficiente para um ser tão pequeno que não entenderia o porquê dos pais nunca mais virem a aparecer para ainda ficar doente e não os ter para o acalmar. Ele cobriu o menino tanto quanto pode com o cobertor de algodão em que ele já estava embrulhado no berço do castelo, e ainda tentou aquece-lo com o próprio casaco.
Conseguiu chegar a casa sem ser visto e mal tinha aberto a porta tinha Remus à sua frente com um olhar preocupado. O seu olhar foi logo direcionado para Harry e compreensão invadiu o seu rosto, sendo seguida por preocupação. Remus olhou por breves instantes para Sirius com um olhar carregado de sentimentos, e logo saiu em direção ao quarto voltando poucos segundos depois com uma caixa de primeiros socorros.
Quando chegou à beira dos dois ainda parados à porta deu um olhar questionador como se perguntasse a Sirius se queria que pegasse em Harry, concluindo que não. Remus começou a tratar do corte de Harry, que se encontrava adormecido no colo de Sirius, mas este logo acordou. Remus continuou e só parou quando já tinha coberto a lesão com uma ligadura. Após terminar Lupin continuou a olhar para a criança e começou a fazer carinho nos cabelos escuros dele, o que o fez acalmar e adormecer.
-É melhor deitá-lo. Ele já está adormecido. -Remus falou pela primeira desde que chegaram. Dava para perceber pela sua voz, que ele estava a tentar não chorar.
Com um simples aceno de cabeça Sirius concordou e foi em direção ao quarto onde colocou o bebé no centro da cama com todo o cuidado, deitando-se à beira dele de seguida. Remus fez o mesmo, deitando-se do outro lado de Harry.
-Eles…-Sirius tentou falar depois de algum tempo-Eles não mereciam. Isto não devia ter acontecido.-Ele conseguiu dizer com lágrimas nos olhos.
Remus, deitado de lado para ver os dois, esticou o braço e começou a fazer carinho nos cabelos longos de Sirius para tentar acalmá-lo enquanto ele próprio também estava a conter as lágrimas.
-Ei! Não precisamos de falar disso agora, ok?-disse Remus da forma mais calma que conseguia naquele momento. O momento em que sentia algo se esvair de dentro de si deixando um grande buraco negro em seu peito que a cada segundo só causava mais dor.
-Eu devia ter ido mais cedo, Remus. Eu devia ter feito algo.
-Tu tentaste. E ainda podes fazer algo, Sirius. Eu sei que eles…-as lágrimas já manchavam a cara de Remus.
Para acalmar um pouco o companheiro Sirius pegou na mão que ainda estava em seus cabelos, e deu um pequeno aperto.
-Eles se foram.-continuou Remus depois de uma breve pausa.-Mas o Harry está aqui. E nós temos que tomar conta dele. Nós temos que o ajudar, porque também não é justo uma criança de apenas um ano perder os pais. Eu sei que isto custa, porque está me a custar mas nós temos que ser fortes por ele.
Enquanto Remus falava, as lágrimas só desciam com maior intensidade agora nos dois homens.
-Nós vamos ser fortes. - Sirius entrelaçou a sua mão com a de Remus. -Ele vai ser forte.
Remus acenou com a cabeça sem conseguir dizer muito mais.
Os dois homens olharam para o pequeno bebé adormecido entre eles, e no silêncio daquela noite de terror eles prometeram fazer tudo por aquele pequeno ser e ser fortes um pelos outros.

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