Hope

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E eu, que vivo atrelado ao desalento, Também espero o fim do meu tormento, Na voz da Morte a me bradar; descansa!

 – Augusto dos Anjos




Desde a morte de Neji, Hinata mudou. 

A dor e a culpa que sentiu ao vê-lo sem vida nos braços de Naruto a corrompeu. Hiashi, como um bom observador, percebia o brilho da sua filha se esvaindo a cada dia que se passava, e depois de duas semanas assistindo seu remorso, decidiu interferir, principalmente quando os treinos diários passaram a ser ele a atacando e ela não fazer nenhum esforço para se defender.

— Todos os dias sonho com o seu sorriso ao morrer. — Olhou com os olhos vazios para o pai ao ser questionada. — Mereço toda essa dor por saber que fui eu quem o matou.

Ao ver que a filha se martirizava e aceitava os golpes como punição, o líder do clã Hyuuga não teve outra opção senão voltar a agir como no passado, pressionando e questionando os passos da filha. Infelizmente, esse era o único jeito — que ele sabia — de fazê-la voltar a ter vontade própria, e lutar pela sua felicidade.

"Seja forte Hinata, vai chegar o dia em que terá um motivo para voltar a ser luz."

°°°

Ao entrar na mansão principal dos Hyuuga, Hinata se assusta ao ver o pai a encarando do futon da sala.

— Você passou o dia inteiro fora e não falou nada. Onde você estava, Hinata? 

Com tamanha indiferença jogada em si, Hinata perde totalmente o brilho que Gaara trouxe durante o dia. Abaixa a cabeça e suspira.

— O Kazekage-sama me pediu para mostrar a vila, e eu aceitei. Esqueci de avisar, otou-san, não acontecerá novamente.

Ao ouvir o nome do líder de Suna, Hiashi contraiu o maxilar, mas Hinata não percebeu a tensão do Hyuuga.

— Espero que tenha sido um passeio estritamente profissional, Hinata.

— É claro que foi. — responde baixo.

— Vá para o dojô, esse assunto não terminou aqui.

— Hai.

Ao fazer uma reverência, Hinata vai direto para o dojô do clã à espera do pai. "Algum dia poderei ser feliz, otou-san?." Ela tenta segurar algumas lágrimas, mas não as permitiria deixar cair, não na frente dele.

— Fique em posição. — bradou o mais velho.

A Hyuuga se posiciona e se prepara para o castigo. Ultimamente o treino só servia para a castigar, sempre quando fazia algo errado ele não a perdoava e Hinata aceitava, a dor fazia parte dela. 

"Não hoje, não mais."

Hiashi corre em direção a morena e tenta acertar o seu ponto no ombro esquerdo, mas é surpreendido pela sua defesa. Ele a olha surpreso: "Vai enfim se defender? Já era hora, filha." sorriu.

Hinata começa a revidar os golpes do pai, que não abaixa a guarda para a filha e travam uma batalha de concentração que durou mais de meia hora.

A morena estava arfando, havia muito tempo que não se desafiava assim. Defendeu o jutsu do Punho Gentil do líder com certa dificuldade, acertou alguns golpes no mais velho e recebeu alguns no braço direito e na parte do pescoço, mas estava orgulhosa. 

A felicidade por ter se defendido do pai fazia o seu coração pular no peito. Olhou para o líder do clã, que também estava cansado, mas mantinha um sorriso terno no rosto.

De feliz, para confusa. "Nada de gritos?"

— Otou-san? – Perguntou meio receosa.

— Estou orgulhoso Hinata.

— M-mas...

— Todos esses meses, todos os castigos, não me orgulho do modo como lhe tratei. Mas não podia mais ver você sem lutar por nada Hinata. — Ele se aproximou e tocou o seu rosto. — Sei que os meus métodos de criação não são dos melhores, mas faço tudo pensando em você e em Hanabi. Me perdoe.

— Otou-san... — Hinata segura a mão de Hiashi com a sua.

— Eu finalmente revi a felicidade em seus olhos, minha filha, lhe pressionei e você abaixou a cabeça. Não quero que faça mais isso, você precisava voltar a se defender em nome dos seus sentimentos. — As lágrimas da Hyuuga começam a cair e Hiashi às seca com cuidado. — Não se preocupe, minha filha, o seu pai não vai mais sair do seu lado.

— E-eu amo você, otou-san.

Hinata o abraçou e Hiashi ficou paralisado por alguns segundos devido a surpresa, mas acabou retribuindo o abraço.

—  Também amo você, filha. Bem-vinda de volta.

Hanabi, que acompanhava o treino escondida no fundo do dojô, olhava em direção aos dois com os olhos marejados. E após um sorriso, ela correu para abraçar os dois.

— Finalmente nee-chan!

Os mais velhos riram dos pulinhos de felicidade que a mais nova dava dentro do abraço.

Após o treino que tiveram no dojô, Hiashi reuniu as filhas para um chá no futon da sala. Ver que o brilho enfim voltava à sua primogênita, finalmente fez a postura de indiferença do líder se esvair. "Não me esquecerei de agradecer o responsável por sua mudança" pensou sorrindo para as filhas, que discutiam sobre a cerimônia de liderança da mais nova que aconteceria em dois meses.

°°°

Hinata não lembrava quando foi a última vez que entrou no quarto dois dias seguidos sem chorar no processo. O peso que tinha saído dos seus ombros nesses últimos dias a deixava serena. Sabia quem era o responsável pela mudança de aura, mas não conseguia entender o porquê de ser tão fácil se abrir com o Kazekage.

Ao seu lado ela conseguia deixar todo o passado de lado, se perdia na tranquilidade transmitida pelo olhar do ruivo, e claro, falar se tornava a coisa mais fácil do mundo.

Os pensamentos de Hinata ainda estavam sobre Gaara quando ela terminou o banho, se vestiu com uma camisola de seda e se enroscou nos lençóis. Com o rosto virado em direção a lua, sorriu ao lembrar da imagem do Kazekage envolto na brisa lunar, e adormeceu em um sonho calmo.


A esperança consciente é força. O amor emocional desperta o inesperado.

– Gurdjiff

Learning to Love - GaaHina - EM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora