C̶A̶P̶I̶T̶U̶L̶O̶ 29

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Any Gabrielly point of view

Não consigo mais comer perto dele, mas isso não o impede de comer. Às vezes, é como se ele parecesse vazio, e nada pudesse enchê-lo.

Página 44 do diário de Joalin Loukamaa

Na imagem, Sabina está descendo as escadarias da frente da escola. Ela sorri. Quem quer que tenha tirado essa foto está próximo… ou talvez tenha fotografado com zoom. Não importa, ela poderia estar a cinquenta metros de distância e ainda assim seria perto demais.

— Any? Você está bem?

A reação é imediata: minimizo a janela do site e me viro para encontrar o olhar de Ben.

Às vezes é bizarro o jeito como ele aparece sem produzir nenhum barulho. Meu pai adotivo está na porta do quarto, mas não sei dizer há quanto tempo. Será que tempo suficiente para ver a página do Facebook? Tempo suficiente para ver a imagem de Sabina?

Eu me endireito na cadeira.

— Sim, estou bem.

— Mesmo?

Você não tem ideia.

Sorrio para Ben e enterro minhas unhas na palma das mãos até que sinto a pressão do sangue se elevar.

— Tudo sob controle.

Ben assente.

— Estou indo à igreja passar um tempinho lá, e Ashley estará em conferência pelo resto da tarde. — Ele se vira para sair. — Você ficaria bem sozinha algum tempo?

— Claro — respondo, e ofereço-lhe um sorriso como se estivesse tudo ótimo e Noah Urrea não fosse um peso de trezentos quilos no meu peito.

Foi por isso que Joalin pulou.

Não sou uma suicida. Não está em mim. Mas sei correr. Sou a filha do meu pai, afinal de contas. Posso fazer as coisas de um jeito que esse cara que quer a minha irmã jamais vai nos encontrar.

Embora Sabina só tenha chegado lá pelas cinco horas, eu já havia arrumado nossas coisas e estamos prontas para fugir. Minha irmã não diz nada até o fim da minha explicação, que não tem exatamente um fim, apenas se esgota.

— Temos que ir. Hoje à noite. — Não lhe digo a verdade, lógico. Digo que é por causa do papai. E de Joe. Mas de algum modo, subestimei minha irmã… ou me superestimei.

Provavelmente ambos. Pois ela não está comprando a história.

— Não precisamos ir a lugar nenhum — Sabina diz. — Temos Ashley e Ben agora.

Ashley e Ben. Como se fossem nossos pais. Como se se preocupassem com a gente. Será que ela pensa que, repetindo isso, tudo se torna real? Começo a lhe perguntar e paro. Afinal de contas, para ela é real. Ou real o suficiente.

Surge um pensamento indesejado: Ashley e Ben adotariam Sabina se eu não estivesse na fotografia?

Claro. Sem dúvida.

Ela estaria a salvo se não fosse por mim.

Então mais uma vez, nós estamos realmente salvas? Veja Joalin

Estar a salvo depende da cooperação de todos, e nem todos cooperam. O sujeito que abusou de Joalin por exemplo.

Olho para Sabina.

— Precisamos ir, Bina.

— Por quê?

— Você precisa confiar em mim.

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