CAPÍTULO 41

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Any Gabrielly point of view

Às vezes acho que comecei a me envolver com ele porque eu estava cansada de garotos.

Página 9 do diário de Joalin Loukamaa

— Você sabia que eles viriam? — Isso não faz sentido. É como quando repetimos aquelas frases em espanhol na sala para melhorar a pronúncia. Todo mundo diz as palavras, mas ninguém tem a menor ideia do que significam. É assim que parece. No me gusta caramba

Ponho ambas as mãos nos joelhos e os aperto.

— Do que. Você. Está falando?

— Você não é a única com segredos, Any. — Josh encontra meus olhos, e o que quer que veja produz nele um gemido. — Meu primo é policial. Faço trabalhos para a polícia como infiltrado de vez em quando.

— Porque eles o obrigam?

— Porque quero.

— Porque eles o pegaram antes?

Josh sorri

— Agora, sim, eu impressionei você, hein?

Não. Sim.

— Então você é um red hat. Um hacker a serviço da legalidade. — Isso não é exatamente um problema, mas ele assente, de todo modo. — E você sabe que eu não sou.

— Sim.

Pensei que éramos parecidos, mas não somos. Red hats são bons hackers.

Protegem pessoas, sistemas, páginas de internet. Isso faz de Josh um dos caras do bem, e eu ainda sou… como meu pai.
Respiro fundo.

— Então… todas as vezes em que você ficou me perguntando por que eu não fazia outra coisa para conseguir dinheiro, qual era o ponto? Era uma dica?

Josh estuda o chão.

— Queria que você largasse… também queria saber a verdade sobre por que você hackeava.

— Apesar de você ter mentido para mim.

— Sim.

— Você disse que eles o haviam levado pra um interrogatório, mas você estava na verdade… informando a polícia sobre nós.

— Não sobre todos. Não falei nada sobre você. Não sei nada de seu envolvimento. — As mãos de Josh se projetam e pegam as minhas. Começo a me afastar, mas ele me segura como se estivesse se afogando e eu fosse o salva-vidas.

— Você não queria estar lá. Tive que salvar você.

Alguma coisa fria se enrola em minha garganta.

— Não quero ser salva. Não preciso ser salva.

— Não?

Não respondo. Josh viu o que sou ao lado do meu pai. Viu como tenho de agir em relação a Joe. Ele viu o pior de mim, tudo aquilo que me causa mais vergonha.
Não olho para ele.

— Você não devia estar lá quando eles foram pegos — Josh diz calmamente.

— Joe me enviou uma mensagem. Encontro de emergência.

Os dedos de Josh se enroscam nos meus.

— Não queria que você visse aquilo.

Tarde demais. A imagem do meu pai caminhando pela varanda e me encontrando ao longe inunda os meus pensamentos. Fecho os olhos.

— Você não contou a eles sobre Joalin? Sobre Sabina?

— Não.

— Por que não?

Josh aperta suas mãos sobre as minhas, passando os dedos por minha pele fria.

— Não disse nada porque sabia que seria a forma mais rápida de te perder.

Mas isso tudo não está certo. Josh quer ir à polícia, mas quer que eu o faça antes.

— Isso não vai acontecer. — Estamos caminhando em direção à sua moto, e, enquanto os últimos corredores do entardecer passam por nós, escondo o rosto para que não vejam que estou chorando. Não é preciso, contudo. Josh se posta entre mim e eles.
Ele roça a mão na minha.

— Você tem certeza de que quer ir para casa?

Casa? Sim, ele está certo. A casa de Ashley e Ben agora é meu lugar. Se eles conseguissem prender meu pai, seria meu lar por um bom tempo.

Bem, poderia ser se eu não tivesse ferrado com a proposta de Ashley dizendo que iria pensar no caso.

— Sim, os detetives vão passar por lá. — Fico firme. — Quero estar lá.

— Any. — Josh me agarra e me traz para perto de si, e por um momento me deixo levar por ele. — Eles podem ajudar a encontrar o estuprador de Joalin. Eles podem ajudá-la.

— Você quer dizer, como eles ajudaram minha mãe? — Josh sorve o ar como se eu lhe tivesse dado um soco. — Sabe, dei a Lamar o diário de Joalin. Deixei dentro do seu carro quando ele foi à minha casa no outro dia. Você sabe o que ele fez?

— O quê?

— Nada. Ele deu uma passada na casa de Sina aquela noite em vez de investigar o diário. Ele não está nem aí para Joalin. Não lhe importa. Não mesmo.

O braço de Josh se estreita em torno de meus ombros.

— Você não tem que fazer isso sozinha.

— Estou sempre sozinha. — E então, porque parece que estou me fazendo de coitada, improviso um sorriso. Não estou na pior. Não preciso ser salva. — Estou sozinha, e é assim que deve ser.

O rosto de Josh ganha contornos de desaprovação.

— Mas por que você tem que ser assim?

Não desvio o olhar.

— Porque isso é o que eu sou.

Josh se volta para a moto.

— Suba.

Eu me oponho. Não devíamos ser vistos juntos. Poderia ser perigoso para Josh e para mim.

Mas minhas mãos o encontram mesmo assim.

Subo atrás dele, sinto toda a minha coragem ir embora. Quando chegamos ao meu bairro, estou com os ossos gelados. Viramos a esquina, e vejo os policiais parados na minha casa, esperando. A mão esquerda de Josh aperta a minha.

Deveria ser reconfortante, mas ainda desconfio que ele está me levando direto para uma emboscada.

Notas finais
🦋📌 Não se esqueçam de votar no capítulo e comentar o que estão achando!!!

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