CAPÍTULO 35

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Any Gabrielly point of view

Não importanta se são quinze minutos ou quinze dias, não há nada como vê-lo de novo.

Página 61 do diário de Joalin Loukamaa

Ele está de volta. Passaram-se dez meses, onze dias e catorze horas. Policiais, repórteres, um boletim especial de notícias, uma caçada alucinada — depois de tudo isso, ele está de volta. Ele ainda escapa a tudo e a todos.

Quero rir, mas não me permito. O riso poderia se transformar num uivo. É o que os policiais nunca entenderão e eu nunca sou capaz de explicar. Vocês não conseguirão pegar meu pai, e vocês nunca estarão seguros.

Não enquanto ele quiser vocês.

— Uau, faz um tempo. — Tento observá-lo de cima a baixo sem encará-lo nos olhos. — Como você chegou aqui?

— Mágica. — Os olhos do meu pai deslizam por meus ombros. — Desde quando você ficou amiguinha do novo queridinho do Joe?

Olho ao redor, subitamente lembrando de Josh. Ele está mais próximo do que eu pensava. Limpo a garganta e me viro. É uma questão pesada. Eu não devia ter amigos. Meu pai não nos permite ter nada que ele não tenha dado.

— Não somos amiguinhos. — Eu me obrigo a caminhar pela sala por uma incrível força da mente. — Então nós vamos começar esse negócio ou não?

Mas meu pai não está olhando para mim. Está estudando Josh, e os fios de cabelo da minha nuca começam a ficar eriçados. Não gosto da expressão no rosto do meu pai. Ele está vendo Josh como uma ameaça.

Conheço aquele olhar. Muito bem.

Meu pai está naquele canto escuro, naquele canto podre do seu coração de onde ele vai se erguer para não ver mais que seu próprio ódio. E não quero que Josh esteja por aqui quando isso acontecer.

Avanço pelo escuro.

— Eu não tenho tempo pra perder. Tenho que voltar ou minha mãe adotiva vai desconfiar.

É um movimento forte e tenho consciência disso, mas não quero parar. Forço meus olhos a encontrar os dele e me viro para ficarmos um diante do outro. Fico maior, não menor, como ele prefere, e o resultado — o súbito endurecimento dos seus ombros, a tensão das mãos — o atravessa em tremores. De certa forma, é até fácil.

Até que ele olha para Josh de novo.

— Não ferre com tudo — meu pai diz.

Josh funga. Isso não é legal. Quando meu pai está assim, é melhor não chamar sua atenção, e é isso que Josh está fazendo. Ele não conhece as regras — que ele deveria estar evitando o olhar do meu pai. Ele não deveria se mostrar como empecilho.
Ele não deveria me imitar.

— Ninguém aqui vai ferrar com nada — disparo ao mesmo tempo que me endireito em posição de confronto. — Se você não percebeu, ninguém aqui precisa de babá. Estávamos bem sem você por aqui.

Funciona. Os olhos do meu pai encontram os meus, e imediatamente quero me desviar deles. Meu cérebro grita por isso. Quando ele está desse jeito, ninguém deve questioná-lo nem lhe dirigir o olhar.

— Isso é verdade? — A pergunta é tão simples que penso que meu plano funcionou.

Mas de repente ele vem em minha direção.

Não dou dois passos antes de suas mãos se fecharem em meus braços, antes do seu peso nos lançar para trás. Vamos de encontro à parede atrás de nós. Meu pai me bate forte o suficiente para eu perder o ar, e, muito embora eu saiba que sou a filha forte, não dou conta.

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