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CAPÍTULO 43

Espera-se de mim que eu mantenha tudo em perfeita ordem — e geralmente eu quero tudo em perfeita ordem. Mas destruí meu vestido de primeira comunhão. Rasguei-o em milhares de pedaços… e o queimei no lixo para que ninguém soubesse. Não consigo parar de pensar sobre como foi bom fazer isso, e sobrou um bom pedaço de mim para saber que não deveria ter me sentido tão bem.

Página 86 do diário de Joalin Loukamaa

Ben liga para Ashley naquela noite. Ele lhe conta tudo, e depois de ela comunicar a Sabina, minha irmã pede para falar comigo. Pego o telefone em meu quarto, e enquanto escuto Sabina celebrar nossa liberdade, vejo um homem saindo mais uma vez da fileira de árvores do vizinho.

Ele para fora do alcance do poste de luz, de modo que não consigo ver suas feições, mas sei que não é Lamar, pois o detetive nunca vem a pé, e sei que não é um vizinho, pois um vizinho não ficaria olhando para nossa casa… É Paulo Loukamaa. De novo.

— Estamos livres, Any! — Ao fundo, consigo ouvir alguma coisa rangendo.

Acho que é Sabina saltando na cama do hotel.

— Papai se foi! Estamos livres.

— Sim — digo, deixando minha voz se contaminar pelo entusiasmo de Sabina.

Mas, quanto mais próxima fico da janela, mais próxima fico dele e menos consigo dar conta da situação.

Ele pensa que Sabina está aqui. Ninguém sabe ainda que ela viajou.

— Any…? Você está prestando atenção?

Loukamaa se aproxima de nossa casa, e meus pés ficam a postos.

— Sim. Não. Desculpe, Bina, eu… acho que alguém está aqui. Preciso ir…

— É o sr. Loukamaa?

Paro, ponho uma das mãos no parapeito da janela.

— Por que você acha que é ele?

— Ele conversa comigo às vezes. Tenho visto o sr. Loukamaa na escola quando ele vem pegar a Sofya. Ele está muito triste por causa da Joalin. Acho que precisa de um amigo. Talvez ele tenha aparecido para falar comigo.

— Sabina, se o pai de Joalin falar com você de novo, quero que você procure imediatamente um professor, entendeu?

— Por quê?

— Apenas faça isso. Explico dep…

— Você pode explicar agora. — O rangido, antes rítmico, silencia por completo

— Papai se foi para sempre. Tudo vai ser maravilhoso, e você está estranha. Quero que você diga sim a Ashley. Quero que você pare o que quer que esteja fazendo e diga sim

Olho para fora, observo Loukamaa observar a casa, e penso sobre como dizer a Sabina o que está acontecendo.

Mas não o faço. Não consigo.

Sabina se sente mais segura agora porque seu grande e terrível monstro particular se foi. Mas como lhe apresentar outro? Como eu conseguiria suportar?

Conseguiria suportar que ela fosse tocada por ele?

— Então você vai dizer sim, Any?

Olho para Loukamaa, sabendo que ele, mesmo com as luzes do meu quarto apagadas, ainda pode ver minhas formas na janela.

— Não sei… ainda não decidi. Eu… Tu-tu-tu-tu.

Ela bateu na minha cara. Começo a ligar de volta para Sabina e então… não ligo.