CAPÍTULO 47

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Ele sempre me acerta onde ninguém vê. Da primeira vez que isso aconteceu, pensei que o estivesse vendo tal como era… Então percebi que estava mentindo. Sempre soube quem ele é — o que ele é. Só estava com medo demais para nomeá-lo.

Página 79 do diário de Joalin Loukamaa
B

en?! Era Ben? Saio imediatamente da mesa, pés no chão prontos para a fuga. Não, ele está muito irritado. A morte dela lhe revolveu as vísceras. Você se lembra das lágrimas? Como ele socou o pai dela? Como ele estava corroído de culpa? Não pode ser o Ben

O problema é que é ele quem está sorrindo e balançando a cabeça como quem sabe o que corre por meus pensamentos e gosta disso. As peças se encaixam.

Acesso a Joalin. Acesso a Sabina

E agora estamos sozinhos.

— Surpresa?

Ben segura seu celular de tal forma que vejo a tela. É meu quarto. Sou eu.

— Incrível o que esses sujeitos da instalação dos sistemas de segurança não fazem por uns cem dólares a mais. Ele pôs uma câmera no ventilador do seu quarto e a conectou ao meu aparelho celular. Por algum tempo, foi suficiente saber que ela estava lá. Não a havia ligado até pouco tempo atrás, e olhe só o que encontrei! — Um calafrio me percorre a espinha e eu procuro meu bastão, mas minha mão só encontra o vazio.

Ele não está lá.

Quando olho ao redor, Ben ri ainda mais forte.

— Procurando alguma coisa? — Ele levanta meu bastão para que eu possa vê-lo.

— Você disse que queria protegê-la — disparo. — Você disse que podia ter feito alguma coisa

— Protegê-la dele, daquele bosta que é o pai dela. — A mão de Ben roça delicadamente sua mandíbula, como se ele recordasse o toque de Joalin. — Ela não precisava de proteção contra mim. Ela me seduziu. Ela me desejou. Elas sempre quiseram isso. Podia ter tido qualquer uma delas, mas eu a quis porque ela estava ferida.

Os olhos de Ben se voltam para a mesa do computador, seus dedos tamborilando na madeira.

— Adorei o quanto Joalin me desejava. Ela me tinha como se eu fosse um deus, mas não foi antes de ela brigar comigo e eu a forçar que me senti como um deus.

Uma tarde finalmente compreendi por que o pai batia nela: pois nada é mais delicioso que o poder sobre alguém. Isso me fez pensar sobre a doce, a pequena Sabina… e sobre o que ela podia fazer para mim.

Perco o ar, resfolego, pareço mais um animal abatido. Começo a pegar objetos aleatórios. Livros, cabos de computador, uma capa de laptop. Não há nada aqui! Com que poderei me defender?

— Mas o que percebi é que Sabina nunca seria um desafio — Ben prossegue. — Não a quero mais. Agora, quero você.

Eu? Olho para o meu computador. A cadeira está girando. Está vazia. Ben se foi

Ele está vindo. Corro para a porta, agarro o trinco com ambas as mãos para travar a lingueta mas… o trinco gira em falso.

— Não — eu sussurro. Ele deve ter feito isso. — Não, não, não!

Agito-me, lanço-me à janela, mas quando tento levantá-la, nada acontece. Não produzo um mínimo movimento, e meus dedos tateiam cabeças de pregos recém-batidos

Ele pregou as janelas. Não há escapatória.

Recuo, meus olhos dardejam por todo o quarto. Preciso de uma barricada, mas a cama é pesada demais. Nunca serei capaz de movê-la. Minha mesa? Muito leve, e pequena demais para firmá-la contra a porta.

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