Capítulo 10

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Plano B

   Sinceramente, eu queria ter descoberto antes, se eu soubesse que tudo era tão difícil eu nem mesmo tinha chegado até aqui, e tudo o que você me disse está passando pela minha cabeça. Perdida, tantas vezes me senti perdida, sobrevivente de um naufrágio em alto mar, tudo a minha volta me congela e me afoga, toma o ar de meus pulmões sem a minha permissão, mesmo em terra firme eu não deixo de me afogar em mim. Prendi-me a uma realidade que não existia e me esqueci do mundo a minha volta, então quando essa fantasia foi ao chão, eu não tinha plano B.
   Yang jungwon nunca esteve tão preocupado, os pais de sunoo estavam desesperados o procurando por dias, nenhum de seus amigos, colegas de escola ou professores sabiam do paradeiro do garoto. A polícia havia vasculhado sua casa, revistado seu quarto e seus pertences, até mesmo seu celular, o que para si era um ultraje, mas se ajudasse a encontrar sunoo, então estava valendo.
   Não saia da cabeça de jungwon algo que niki havia comentado, “não foi só o sunoo que sumiu, o sunghoon também” no começo ele achou que fosse mais uma brincadeira ou provocação dele, mas o mais novo estava certo e isso o cheirava suspeito.
   Estava em seu quarto vendo algumas fotos antigas e secretamente chorando pela falta de seu amigo de infância, isso o doía tanto... ele sentia que havia perdido seu amigo e nem mesmo sabia por quê.O barulho da campainha chamou sua atenção, se levantou afastando as lagrimas e respirando fundo, foi então em direção à porta da frente. Abriu-a arregalando os olhos assim que viu a figura a sua frente, era ninguém mais nem menos que kim sunoo, coberto por um moletom bem maior que o seu corpo, não parecia ser dele, era preto e tinha um capuz ao qual cobria sua cabeça, mesmo de mascara jungwon sabia que era seu amigo. Piscou inúmeras vezes de boca aberta tentando entender se aquilo era mesmo real, se aquele era mesmo seu amigo.
     - sunoo... KIM SUNOO? – o garoto a sua frente foi rápido em tampar sua boca com a palma de uma mão e com a outra fez um sinal para que ficasse em silencio – você quer entrar?
   Praticamente sussurrou a pergunta, que dentro de si, soou muito mais como uma suplica. Com a cabeça, sunoo afirmou olhando em volta, checando se a mãe de jungwon não estava por perto.
     - ela está no banho, não se preocupe – o assegurou
   Entraram em passos acelerados, foram em direção ao quarto de jungwon, onde fecharam a porta e a trancaram rapidamente. Sunoo tirou o capuz revelando seu cabelo que já perdia a tintura, por isso a raiz negra era visível e as madeixas loiras estavam em minoria, retirou a mascara e a colocou no chão juntamente a sua mochila. Sem seu “disfarce” jungwon pode prestar mais atenção em si, parecia cansado, os ombros não tão largos estavam curvados, as mangas do moletom cobriam ambas as mãos ansiosas, a calça skinny e a botina de couro eram um novo adereço, sem duvida, nunca vira sunoo daquela forma, também notou mais alguns piercings espalhados pela orelha e sobrancelhas.
   Em silencio se vislumbravam, para sunoo, jungwon parecia o mesmo garoto de sempre, mas como ele sentia falta daqueles olhinhos de gato, das bochechas rechonchudas, das covinhas, do sorriso cativante, das mãozinhas, de tempo.
   Os olhares se encontraram causando uma confusão, ambos pareciam tão frágeis quanto as asas de uma borboleta. Em um ato singelo, sunoo abriu os braços dandopermissão para que jungwon se aproximasse, e esse nem mesmo hesitou. Correu em sua direção o abraçando fortemente, sentindo seu corpo frio, seu cheiro, sua aura, o kim parecia estar machucado internamente. As lágrimas de saudade foram inevitáveis, sunoo também chorava, mas ele havia misturado os sentimentos, chorava pela sua mãe, por medo, por tudo o que sentira, por ter sido enganado, por ainda amar sunghoon, meu Deus como ele amava aquele maldito garoto. Ele o abraçava como se quisesse se esconder em si, entrar em seu peito e se proteger de toda a dor que o mundo lhe proporcionava.
   Nos dias que sunoo ficou fora jungwon não pode deixar de sonhar com essa cena, ele abraçando seu amigo novamente, eles juntinhos assim, como sempre estiveram, os abraço de um amigo é um porto seguro, o lugar de onde o mais velho nunca deveria ter saído. Muitos de seus sonhos eram habitados porsunoo, com seu sorriso sapeca e as bochechas fofinhas, mas sempre que tentava abraçar esse sunoo, ele acordava e percebia que tudo não passava de um sonho bom e distante. Por mais que este também parecesse distante, estava ali e era real, só estava um pouco machucado pela vida.
   Depois de alguns minutos eles se separaram, olharam nos olhos um do outro e sorriram, sentiam falta um do outro. Se sentaram no chão do quarto prontos para finalmente dizer algo.
     - ok, eu já te abracei, já chorei, já vi que você tá inteiro, agora... KIM SUNOO, SEU DESGRAÇADO, VOCÊ SUMIU! – esbravejou, sunoo riu de seu posicionamento – é sério, por onde você andou? O que houve?
     - então... – o kim riu fraco, um nó se formou em sua garganta assim que se pôs para pensar no assunto, um bico se formou em seus lábios e mais uma vez ele não pode conter as lagrimas
      - oh, meu amor... – jungwon colocou a cabeça do mais velho seu peito, ouvindo seus soluços
   Ele praticamente tinha de decifrar as palavras soluçadas de forma chorosa por sunoo, mas havia entendido uma coisa, ele havia fugido de casa por causa de sua mãe, ela era um monstro, jungwon não sabia o por quê.
     - é sobre o que eu estou pensando? Sobre você... Você gostar de meninos? – questionou levantando o rosto de sunoo, o mais velho apenas concordou com a cabeça tendo um biquinho enfeitando seus lábios, isso antes de esconder seu rosto novamente no peito do yang.
   O mais novo deles se preocupou em acalmar sunoo, o consolando sobre isso.
     - hyung, presta atenção – chamou a atenção de sunoo o segurando de frente para si, ele gostava de ser chamado daquela forma – você é uma pessoa incrível, você não merece sofrer pelo que uma mulher estúpida disse
     - mas ela é minha mãe –choramingou
     - isso não é desculpa para as ações dela, não faz dela mais ou menos certa, o que ela disse foi errado, sunoo, não tem nada de errado em gostar de garotos, ou em gostar de garotas, ou gostar dos dois, ou qualquer orientação sexual que você possa ter, ela deveria ter te apoiado e qualquer coisa a menos que isso é inaceitável – colocou as mãos em seu rosto – você é o meu melhor amigo e eu lamento muito que teve de esconder isso por tanto tempo exatamente com medo disso acontecer, mesmo quando jurava que seus pais te aceitariam, decepções são parte da vida por mais que doam, mas é durante esses momentos de decepção que podemos ver quem nos faz bem de verdade, quem realmente nos ama, quem fica conosco nos bons e maus momentos, independente do que for acontecer. Eu estou aqui, sunoo hyung, eu te amo e você é o meu melhor amigo, por favor, não some nunca mais, nós vamos conseguir lidar com isso juntos
     - jungwonie... – uniu as sobrancelhas demonstrando fraqueza, essa fora a melhor coisa que alguém poderia ter dito para si em um momento como esse – eu também te amo, obrigado por permanecer
Se abraçaram mais uma vez, desta vez, qualquer lágrima era de alívio e gratidão, por estarem juntos, por terem um ao outro, por não existir força no universo que possa acabar com isso. Ou talvez haja. O que cessou suas lagrimas foram três batidas na porta.
      - jungwon, meu amor, você está bem? Pensei ter ouvido um choro – era a voz de sua mãe
      - ah... claro, mãe! Eu tô lendo um livro novo aqui no meu celular – mentiu nervoso
      - abre aqui a porta, preciso falar com você
   O desespero se fez presente, os dois garotos se entreolharam surpresos.
      - vai pro banheiro. Agora. – jungwon apontou na direção do cômodo e sunoo apenas obedeceu pegando suas coisas e correndo para o local indicado.
   Jungwon abriu a porta para sua mãe sorrindo grande, um péssimo ator eu diria. A mulher entrou e se sentou sobre sua cama.
     - meu bem, eu estou de plantão hoje, você sabe – a mulher disse compassiva
     - sim, mamãe e você vai voltar amanhã depois da escola
     - é sobre isso que eu queria falar, eles precisam de alguém para acompanhar um paciente especial até o novo hospital no centro da cidade amanhã, eu só vou voltar para casa no domingo cedo
     - mas hoje ainda é quinta... você vai passar quase três dias fora? Eu vou ter que ficar sozinho? – sorria internamente, ele poderia ficar com sunoo e cuidar de seu amigo
     - se você quiser pode dormir na casa de um dos seus amigos, acha que a mãe do jake se incomodaria?
     - sem duvida ela acharia legal se eu fosse lá, já faz um tempo que não durmo lá – ele sorria segurando o riso
   Sunoo tampava a boca com as mãos no banheiro no mesmo estado que seu amigo. Acontece que a “mãe” do jake não existia, quer dizer, sim, ela existia, mas era uma australiana que no momento estava em missão na África para salvar os elefantes ou coisa assim. Jake morava sozinho desde que foi para a coreia fazer intercambio, digo, sozinho vírgula, moravam ele e niki. A casa do mais velho era um ponto de encontro dos amigos onde eles podiam fazer festas do pijama e curtir sempre que quisessem. “mas quem atende ao telefone quando alguém liga para a mãe do jake?” ótima pergunta, agradeça a habilidade de niki nishimura de imitar vozes de senhoras de meia idade.
   Assim que a mulher se deu por convencida, deixou o quarto com um sorriso. Sunoo abriu a porta caindo na gargalhada, não podia mais conter o riso, jungwon se juntou a si, rindo como se estivessem chapados. Nem se lembravam mais do que tanto riam, mas permaneciam sorrindo para o teto, deitados no chão de barriga para cima.
     - ei, hyung!
     - fala
     - seu cabelo tá feio – se sentou encarando o mais velho ainda deitado – vamos descolorir ele?
   O mais velho apenas sorriu em resposta. Jungwon o sentou em uma cadeira de frente para o espelho do banheiro, o kim tirou o moletom para não pegar cheiro ou correr o risco de manchar, sua mãe já havia deixado a casa, por isso podiam rir e conversar na altura que quisessem. Ouviram músicas e brincaram de salão de beleza, onde inventavam fofocas cabeludas e fingiam estar chocados. Pareciam duas crianças brincalhonas.
   Assim que o cabelo do kim ficou pronto, ele o ajeitou e colocou a roupa novamente, pegou alguns brincos emprestados de jungwon e começou a desfilar pelo quarto, arrancando risos. Uma hora depois disso, jungwon estava na portaria do prédio dos garotos, discando o numero de jake.
     - boa noite, meu caro colega, eu tenho uma surpresa para você, então manda seu porteiro me deixar subir – pediu o yang
     - você vem aqui já faz anos, ele ainda não entendeu que você é meu amigo?
     - eu entendi, mas odeio vocês – o homem exclamou deixando ambos os garotos passarem
   Jake esperava na porta do seu apartamento quando avistou jungwon vindo, mal pode notar o garoto encapuzado e mascarado ao seu lado.
     - cadê a surpresa? É um bolo? Por favor, me diz que é comida
     - é melhor que comida
     - como algo pode ser melhor que comida? – niki apareceu na porta
     - assim – colocou sunoo de frente para si, o garoto retirou a máscara sorrindo
     - KIM SU-
   Assim como com jungwon, sunoo teve de fazer jake ficar em silencio, o empurrou para dentro do apartamento, jungwon fechou aporta atrás de si assistindo a cena. Agora podia imaginar a cara de bobo que devia ter feito quando o viu.
     - você é real? Me belisca– o australiano tinha os olhos arregalados, sunoo deu-lhe um pequeno beliscão – AI! Pera... DOEU! VOCÊ TÁ MESMO AQUI!
   Segurou o garoto pela cintura o rodando pela sala, sunoo não podia negar que amava seus amigos mais que tudo na terra, amava os abraços, os toques, as brincadeiras idiotas, tudinho sobre eles era perfeito. Ficou abraçado por mais alguns minutos à jake, quando o soltou, encarou o japonês que os espreitava  ao lado de jungwon, sem expressão nenhuma, na verdade, ele não parecia acreditar que sunoo estava ali.
   O kim se afastou de jake se aproximando do mais novo, que era consideravelmente mais alto que si, ergueu o rosto para vislumbrar sua face, ele sentira muita falta de niki, o japonês que sempre o deixou em um estado de êxtase inexplicável, era seu amigo e era importante para si, mas naquele segundo sentiu como se toda a aura entre eles houvesse mudado drasticamente.
     - bebê... – não pode completar a frase
Sem que pudesse dizer mais uma palavra sequer, niki o abraçou pelo pescoço, sunoo podia sentir os batimentos cardíacos acelerados, a respiração ofegante, a necessidade de toque. O Nishimura havia passado por muita coisa quando mais novo, podia parecer um garoto que não ligava para ninguém e não gostava das pessoas, mas muito pelo contrario, niki precisava muito das pessoas e tinha muito medo de ser abandonado por elas, não confiava em ninguém senão seus amigos. Sunoo era principalmente importante para si, foi quem o acolheu quando se sentiu sozinho, quem pôs um sorriso em seu rosto triste, quem esteve ao seu lado quando precisou e sempre soube que estaria ali ao seu lado, mas quando ele sumiu, o mais novo se sentiu abandonado e sozinho, ter ele de volta importava tanto, mas tanto...
    - ei... não fica assim, eu tô aqui – passou a mão pelas suas costas largas
    - não faz mais isso, não some nunca mais – exclamou de olhos fechados, pela sua voz, ele ameaçava chorar
    - eu...
    - me promete! Me promete também que não vai mais mentir nem me esconder nada – o segurou pelos ombros olhando em seus olhos
    - niki, eu... – não conseguia olhar em seus olhos, sabia que não podia prometer mais nada a seu amigo, desde o momento em que olhara no rosto de sunghoon, sunoo soube que sua vida não seria mais a mesma, só não imaginava que carregaria seu passado como uma cruz pesada e torturante, mas nesse segundo, nesse momento, ele precisava mentir, enfrentou seus medos e deixou de desviar o olhar, encarou as orbes dilatadas do garoto as enfrentando – eu prometo
   O japonês mais novo sorriu para si. Depois de mais alguns abraços por todos os amigos, sunoo tomou coragem e explicou a todos a sua situação com sua mãe, ele não podia voltar para casa, ele estava condenado a fugir para sempre. Ninguém sabia o que dizer, como o consolar, como tratar de seus problemas, quem dirá dos outros.
   Eram tão novos, mas cada um tem seus próprios problemas, aparentemente, a adolescência é um momento tão confuso e ridículo, dizem que é por conta das mudanças em seu corpo e rotina, mas não se trata só disso, se trata de lidar com a auto aceitação, a pressão de precisar estar incluso no meio social, de fazer com que todos gostem de você, de pensar sobre o que eles pensam sobre si, sem falar sobre o fato de que é considerado grandinho para ser um bebê chorão, mas é muito novo para ser um adulto independente, lhe cobram responsabilidade, mas não demonstram confiança, te pedem para crescer e ainda sim te lembrar que é criança demais. Tudo isso somado a mais umas brincadeirinhas idiotas que o universo nos faz jogar faz com que seja a pior das fases, mas me disseram que sempre como ficar pior.
   Tudo aquilo parecia tão complicado, tão dolorido, sempre se imaginavam sendo adolescente que iam a festas e se divertiam, nunca haviam pensado que teriam esses tipos de problemas, que teriam que lidar com toda essa droga de adolescência, essa droga de vida, essa droga de dia-a-dia imprevisível que impedia a tentativa de arquitetar um plano B.
   Se mantiveram em silêncio, encarando as paredes, batendo o pé, roendo as unhas, checando a hora no relógio, não sabiam o que fazer, sunoo não esperava reação diferente, mas parecia meio vago.
      - bom... – jake se levantou passando as mãos em seus jeans – isso eu só sei resolver com álcool
      - precisamos – jungwon exclamou
      - pera aí! – sunoo chamou a atenção de todos –desde quando vocês bebem?
      - as meninas do loona deram uma festa um dia antes de você ser dado como desaparecido, achamos seu sumiço estranho, mas sua mãe disse que você estava dormindo e que não estava a fim de festas, estranhamos, lógico, porque você é a fada das festas, mas imaginamos que você só não estivesse muitoa fim de festas, lá eu experimentei umas bebidas legais... – jungwon explicou
        - NÃO ME DIGAM QUE MEU BEBÊ-
        - não, o niki não foi, eu não deixei – jake o acalmou, por outro lado, niki cruzou os braços fazendo um biquinho simplesmente adorável
        - vocês são só dois anos mais velhos que eu – reclamou
        - dois anos é muito tempo de experiência, pequeno gafanhoto, além do mais, eu e o jungwon já temos 18 anos, em alguns países já poderíamos beber, mas você ainda é só um bebe de 16 aninhos – sunoo se escorou sobre o ombro de niki que o encarou de soslaio
   Fez uma careta de desgosto diante a fala do mais velho, mas logo algo chamou sua atenção.
   Virou sunoo de frente para si aproximando-se de forma nada delicada de seu pescoço sentindo o cheiro de sua essência, respirou fundo, assim pode sentir seu cheiro e aquele não era o cheiro de Kim sunoo, parecia cheiro de cereja e um forte cheiro de perfume masculino e seu sunoo não tinha o cheiro de nenhum deles.
   O mais velho não pode deixar de arrepiar diante a ação, se afastando imediatamente, para si niki era apenas um garotinho irritante e o via como um irmão mais novo, sentir algo assim em relação a ele era no mínimo novo. Se sentiu envergonhado e sem graça, o japonês sempre fora alguém que o deixava em dúvida, não sabia o que sentia por ele, ele era um garoto muito bonito, sem dúvida, mas poxa, sunoo, não deveria se sentir atraído por um de seus melhores amigos.
   Afastou esses pensamentos movendo a cabeça para os lados inconscientemente, vislumbrou niki que o encarava sério, como se procurasse respostas em seus olhos, droga de moleque curioso!
     - de quem é esse moletom? – o japonês questionou, seu tom de voz era sério, sunoo quase não o reconhecia
     - a-ah ele... ele era do sunghoon – engoliu seco ao pronunciar o nome do mais velho
     - MEU DEUS, KIM SUNOO,VOCÊS DORMIRAM JUNTOS? – jungwon se afobou, jake só queria comer aquele pedaço de pizza que havia visto na cozinha, mas se engasgou imediatamente
     - NÃO, GENTE, NÃO – se apressou em esclarecer gesticulando, o yang correra ajudar o australiano engasgado
     - então por que está com as roupas dele? – perguntou niki desconfiado, ainda faltavam verdades naquela história
     - Ué, a gente namorava, eu estava na casa dele e precisava de roupas, então eu peguei as dele – deu de ombros
     - então você foi lá primeiro?
     - niki, eu sei muito bem o que você tá pensando, não! Vocês NÃO foram minha segunda opção, eu iria pra lá de qualquer maneira, se eu fosse para a casa de algum de vocês a polícia me encontraria rapidinho, não pensem que eu havia me esquecido de vocês
     - então, por que não ligou?
     - Meu celular tinha rastreador, joguei o chip no meu quarto, a bateria na frente da casa da jinsoul e o celular na lixeira de um fast food
     - inteligente... – o japonês se impressionou
     - por que você disse “namorava"? – jungwon perguntou fazendo sunoo perceber porque jay sempre odiou quando ele fazia perguntas demais
     - porque nós terminamos. – sua expressão estava neutra
   Os presentes se entreolharam sem saber o que dizer.
     - sunoo...
     - eu tô bem, não se preocupem, na verdade, eu nunca estive melhor – ele abriu um sorriso doloroso – onde está esse tão famigerado álcool?
     - eu já vou pegar! – jake deu pulinhos em direção a cozinha
     - E niki – se virou para o mais novo se dirigindo em sua direção, parou de frente para si estando tão perto quanto nunca esteve –criança bebe leite – elevou seu queixo sorrindo de forma maquiavélica
   Seus amigos nunca haviam o visto agir assim, acontece que antes de sunoo conhecer sunghoon, ele não fazia ideia do poder que tinha sobre as pessoas, de como podia ser atraente e persuasivo, o mundo sempre esteve na palma de sua mão e ele não fazia ideia, mas agora, ele não esconderia nunca mais.
   Sempre fazia isso, aprendeu que podia substituir sua dor, temporariamente, por um sentimento de superioridade, afinal, se tivesse controle sobre as pessoas teria controle sobre tudo mais a sua volta, assim, ele fingia estar bem, fazia coisas que em outro momento as julgaria ridículas, mas naquele momento o ódio lhe dava conforto, como esse sentimento egocêntrico que o impedia de ficar atrás de alguém. Se escondia por entre sentimentos que nem eram seus, mas de um outro personagem, sua vida havia sido descartada quando começou a namorar aquele maldito golpista, agora tudo era uma série de personagens, com diferentes personalidades que se aplicavam às diversas situações, tudo era um plano B.
     - claro – o japonês riu soprado, pondo as mãos sobre sua cintura – é o que vamos ver – o encarava de forma intensa
     - gente... –jungwon estava boquiaberto encarando seus amigos – meu Deus...
   Suas palavras separam os dois garotos que caíram na risada.
   Sunoo mentiu uma, duas, incontáveis vezes desde que conhecera sunghoon e de verdade não sabia mais se mentia para se proteger ou proteger o mais velho, a única coisa verdadeira naquela relação pareciam ser seus sentimentos e agora, mesmo depois de ser verdadeiro, estava se escondendo mais uma vez, por entre as mentiras que contou, quebrado novamente, se escondendo ou escondendo quem amava? Ele não sabia mesmo.
   Quando ele saiu de casa naquela noite escura, fugindo da ideia de passar seus dias com sua família, tudo o que ele pensou foi em como sunghoon iria reagir, se iria o aceitar por completo em sua vida, se dariam um passo à diante na direção de um futuro juntos, mas estava provavelmente errado. Lhe pesava pensar que sim, seus amigos foram sim um plano B, foram uma segunda opção, depois da primeira o decepcionar completamente.
   Porém, sendo sincera, não podem ser chamados de plano B quando sunoo nem mesmo tinha planos, ele só queria pegar sunghoon pela mão e sumir do mapa, ir para qualquer lugar onde pudessem viver em um na companhia do outro, sem se importar com o mundo externo, como em uma bolha.Agora, ele repensava sobre isso sozinho em sua própria mente, não eram necessários segundos de silêncio para que seus pensamentos gritassem em si. Seu plano B era bom, mas se fosse o essencial, seria chamado plano A.

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