Capitulo 12

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Tudo escuro

   Não importa quantas vezes tentemos entender o mundo, algumas coisas simplesmente foram criadas para existirem sem explicação alguma, como por exemplo, os nossos sentimentos. Não escute opiniões bobas na internet, não há explicação para o que sentimentos são, e tentar entende-los é andar numa corda bamba de venda, é perigoso.
   Quando não entendemos o que sentimos é como estar no escuro, o problema era que sunoo sempre teve quem fosse sua luz, mas agora ele estava sozinho, completamente sozinho. Ele se sentia estúpido, talvez o problema fosse ele e não as pessoas.
   A vida estava o perturbando e talvez pular naquele exato segundo seria o melhor, quais eram seus motivos para continuar vivo? Mentiu para seus amigos, fugiu da sua família, brigou com a pessoa que mais amava na face da terra, quais eram suas razões para continuar?
   Era assim que ele se sentia, no escuro, sem guia nenhuma em direção à luz, porque ele não tinha mais luz, não podia se declarar no fundo do poço, pois ainda pode se ir para cima, mas na situação que se encontrava naquele momento, ele tendia apenas a afundar em sua própria desgraça, se afogar em suas lágrimas, se cortar com os espinhos de suas rosas.
   Disseram-lhe uma vez que apenas damos rosas por boas razões, mas seria mesmo? Sunghoon era um arbusto de rosas e tudo o que havia deixado para trás fora essa imensidão de machucados, de feridas por espinhos.
   Poderia dedicar milhares de cartas ao seu maior amor, mas sentia como se tudo isso fosse em vão, e mais, era doloroso de forma desnecessária. Acabaria cheio de cortes por papel.
   Tudo o que o prendeu na terra por tanto tempo agora era o motivo para deixá-la, o que lhe fazia bem agora lhe tirava o sono, desejava nunca ter seguido Park sunghoon, nunca ter se envolvido com o garoto tímido dono daquele sorrisinho de canto cândido e pintinhas que enfeitavam seu rosto. Maldito garoto perfeito.
   Um golpe, talvez sunooera apenas parte do golpe, parte do jogo, nunca havia realmente importado, mas se importou até demais. Park sunghooneram um príncipe do gelo, mas seu coração não era gelado, isso deixava uma lacuna entre as perguntas de sunoo.
   A ligação que recebera anteriormente o deixou em alerta, mas na verdade, odiou a brincadeira, ótimo gatilho para um garoto a beira da ponte.
   Falando em ligação, seu celular voltou a vibrar, desta vez eram fotos, as abriu fechando a expressão instantaneamente.
    - mas que porra...?

Uma semana antes

   Park sunghoon não se aguentava mais, sunoo havia entendido tudo errado e não era culpa deste, o Park havia sido um babaca, era tudo culpa dele, sem dúvida.Nem era tudo tão complicado, ele só precisava ter sido sincero, precisava ter deixado de mentir, de omitir. Heeseung havia o avisado, mas ele nem deu ouvidos, foi perceber quando era tarde demais.
   Naquele momento, ele se perguntava, a que custo? Qual a razão de ter deixado tudo isso no sigilo por tanto tempo? Era medo de perder o garoto? De perder o controle? De ficar sozinho de novo? Ele não sabia, mas tinha seus palpites.
   Se levantou colocando a mão na cabeça que ainda doía, precisava admitir, Kim sunoo tinha uma mão pesada e o machucado causado pelo cabo da arma em sua cabeça não ficaria bom tão cedo.
   Levantar o rápido vinha o causando tontura, mas era completamente natural, levando em consideração que ele não vinha comendo e nem dormindo direito, passava o dia procurando por lugares onde sunoo pudesse estar, mas sempre sem sucesso.    Colocou ambas as mãos dos lados da cabeça tentando se estabelecer novamente, heeseung percebeu a ação e veio em sua direção.
     - sunghoon, você está bem? – se ajoelhou de frente ao mais novo
     - eu tô sim – se levantou devagar
     - Você precisa comer, não tá se cuidando há dois dias, sem falar que não come, nem dorme, passa o dia na rua, volta e fica abraçado com esse moletom do sunoo
     - eu tô bem, hoje eu sei que vou achar ele – exclamou confiante
     - é sério isso?
     - o que aconteceu? – Jay apareceu na sala ao ver sunghoon perto da porta – tá pensando que vai onde?
     - vou achar o sunoo
     - ah, mas não vai mesmo – pegou este pelo pulso
     - Tá fazendo o que? Eu preciso achar ele – puxou o membro sem sucesso
     - o que você precisa fazer é tomar consciência, você perdeu o juízo? Vai se matar por causa de um garoto? Olha isso,sunghoon, se enxerga, não vê que tá se fazendo mal? Tudo isso pelo garoto?
     - não é um garoto qualquer, é Kim sunoo, eu não consigo viver sem ele
     - não, você não consegue viver sem comida, olha isso, Você tá péssimo e só se passaram dois dias, mal se aguenta, o que vai acontecer se não achar ele hoje? Vai continuar assim na próxima semana e na outra? Vai morrer sem conseguir ficar de pé por dependência de um garoto?
     - eu vou fazer o que for preciso pra esclarecer essa situação pra ele
     - mesmo? Ótimo! Gostei da sua persistência e determinação, pode fazer o que quiser, mas não vai chegar nem na outra quadra se não se alimentar, não vai falar com ninguém se não tomar um banho e se arrumar, não vai achar ninguém se não pensar direito, então agora você vai tomar banho, vai almoçar direito e vai me passar as informações que você tem e a gente vai ver isso direito – lhe dava sermão como um pai, mas sabiam que era porque jay se importava demais, mesmo que nem sempre demonstrasse – quer achar o garoto? Legal, mas não vai sair dessa casa até parar com essa idiotice, combinados?
     - mas Jay-
     - e nem adianta fazer com pressa, só sai daqui quando escurecer, não vai ficar saindo por aí a luz do dia, tô com um pressentimento ruim
     - heeseung! Fala pra ele que eu tô bem!
     - não posso dizer isso, ele tá certo
   Derrotado pelos argumentos de seus amigos, sunghoon decidiu fazer o que lhe fora dito, tomou um banho merecido, se obrigou a comer, separou o que tinha e mostrou aos garotos. Suas informações em baseadas no perfil da internet dos amigos de sunoo, ali foi o seu erro.
   Graças aos mais velhos, o Park conseguiu achar o verdadeiro endereço que faltava e se estava certo, então ele já tinha um pressentimento ruim. A casa em questão era um apartamento do outro lado da cidade em um prédio legal, onde jake e niki moravam juntos.
   Niki. Sunghoon não deixou de pensar nesse nome um dia sequer. Era o amigo de sunoo, o mesmo que ele chamava de bebe, o mesmo com o qual ele se importava tanto, que não deixava de mandar mensagem todo santo dia. Niki Nishimura era o motivo de suas noites mal dormidas.
   Já era o horário combinado pelos garotos quando sunghoon ameaçou sair de casa, ouviu passos atrás de si.
     - não podemos te deixar ir sozinho – heeseung tinha as mãos nos bolsos do moletom
     - por que não? Sou eu quem tem que resolver isso
     - sua responsabilidade é com o sunoo, mas a nossa é contigo, não vamos te abandonar – justificou jay – Olha,sunghoon, eu não estou com um bom pressentimento e não quero que se coloque em perigo
     - do que está falando?
     - Olha... – heeseung olhou para Jay procurando as palavras certas no olhar desse – convivemos com o sunoo tempo o suficiente para sabermos que o temperamento dele nem sempre é bom, que ele tende a ser explosivo e que está magoado
     - acha que ele seria capaz de me machucar? – perguntou indignado
     - eu tenho certeza – o Park mais velho colocou sua opinião em primeiro plano – quantas vezes ele já ameaçou atirar em você?
     - mas ele nunca atirou
     - mas já atirou em um copo que te machucou propositalmente, já te ameaçou, já usou o cano da arma pra te machucar, acha mesmo que ele tem medo de expor sua raiva por você? Logo você, o babaca que não demonstrou sentimentos?
   Sunghoon revirou os olhos sem admitir que havia sido verbalmente derrotado. Sem moral nenhuma, ele deixou a casa, tendo em mente que seus amigos estavam bem atrás de si, o seguindo a cada passo.
   Foi cerca de uma hora de ônibus até que estivessem finalmente lá. Sunghoon estava a uma rua de distância de provavelmente encontrar o amor da sua vida. Ele imaginava e tinha pintada em si a ideia de ter sunoo de volta, de poder se explicar.
   Em sua mente, ele iria dizer toda a verdade, que estava com medo de sunoo o abandonar como havia sido feito consigo tantas vezes, mas tinha mais medo ainda de se obrigar a abandona-lo. Sunghoon iria contar como o ama, como as estrelas de alinham nos olhos de sunoo, como o mundo até para de girar quando estão juntos, como ele se sente vazio sem o Kim. Essas e muitas coisas foram ensaiadas na cabeça de sunghoon durante dias, não porque era mentira, mas porque eram boas de mais para serem improvisadas.
   Pararam em uma esquina, sunghoon só precisava subir aquela mesma rua e o prédio estaria a sua esquerda. Seu coração batia como mil tambores, ele conseguia ouvir sua respiração ficando pesada.
     - Você está bem? – heeseung questionou vendo a movimentação alheia
     - eu sempre fico ansioso quando penso que estou perto dele, mas dessa vez é diferente, vai parecer ridículo, mas eu sinto como se ele estivesse bem pertinho – sorriu olhando para o chão
     - então vai buscar seu namorado
     - mas e se ele não quiser vir comigo? Ele se ele preferir ficar com os amigos dele? E se ele está bem agora?
     - foi exatamente essa dúvida que te colocou nessa situação, lembra? – heeseung estava certo
     - não fique com dúvidas, vá em frente e dê a chance para que ele mesmo faça a escolha de ir ou ficar – Jay complementou
   Aquilo serviu de impulso para que o garoto se animasse, ele iria sim conversar com sunoo.
   Com o coração na garganta ele subiu a rua, o frio daquela noite era intenso, deixava suas orelhas dormentes e a ponta do seu nariz gelada. Ele gostava de noites frias, sempre gostou, foi em meio a essas noites frias que ele conheceu sunoo. Podia o imaginar de novo, bem de frente para si, com as mãos nos bolsos como costumava ficar, o olhando de baixo com aquele sorriso linear, os olhos entreabertos e as bochechas rosadas pelo frio intenso. Se sunghoon se apagasse a essa memória de sunoo, talvez pudesse a tocar.
   Virou a esquina sem entender mais o que sentia, era uma mistura de medo e de euforia, não podia guardar aqueles fogos de artifício para si. Foi quando, não muito longe, ele pode avistar Kim sunoo, sentado na calçada fumando seu típico cigarro de cereja. Teve vontade de correr em sua direção, mas viu niki se aproximando, ele oficialmente odiava aquele garoto.
Se espreitou por de trás de um poste para tentar ouvir o que diziam, mas era tão baixinho, diziam de forma que fosse audível apenas para ambos em um distância meramente curta.
   Não entendia uma palavra sequer do que diziam, mas pode perceber do que se tratava quando pouco a pouco os dois garotos começaram a se aproximar gradativamente. Sunoo segurou o rosto do garoto e o interior de sunghoon se revirou em dejavu, era assim que ele sempre faz consigo.
    Seu coração se partiu em milhares de pedacinhos quando o Kim colou seus lábios aos do japonês. Ele estava certo o tempo todo, talvez niki fosse muito mais importante para sunoo do que si.Não se sentia no direito de sentir remorso, de se sentir traído, de ficar com raiva, ele não podia sentir nada disso, porque se sunoo estava com alguém nesse momento, e esse alguém não era ele, era tudo culpa dele.
   Saiu dali sentindo os cacos de seu coração em suas mãos, não aguentava a dor para si, sentiu vontade de gritar e praguejar contra o universo, de chorar rios de lágrimas dolorosas, mas não iria. Viu seus amigos acenarem para si como quem quer novidades.
     - como foi? – heeseung esperava pelo pior em vista da feição de sunghoon – ele estava lá?
     - estava – pôs as mãos nos bolsos andando na direção contrária
     - o quê?! E vocês conversaram?
     - não – parou, sua expressão era neutra
     - por que não? – Jay foi uma perguntou dessa vez
     - não foi preciso, tive todas as respostas que precisava – voltou a andar
     - sunghoon, sabe que precisa falar com ele, sabe que é o certo e... – o garoto o ultrapassou dando as costas para si – hoon...
     - Só me deixa em paz, tá bom?
   Seguiu a passos duros na mesma direção que veio, quebrado ao meio, com um abismo entre as rachaduras de seu coração, não deveria se sentir mal, ele colocava em mente, mas no fundo ele se sentia péssimo.
   Então era assim? Pessoas com coração partido se sentiam assim? Nossa, era bem pior do que o descrito em filmes e livros. O universo o odiava muito mais do que ele pensava então, afinal, foi capaz de colocar alguém como Kim sunoo em sua vida e depois arrancar sem mais nem menos. Sunghoon agora se sentia no escuro. Estava tudo no mais gritante silencio, no mais gelado dos climas, no mais assustador escuro.
   Com a testa ainda colada a de niki, sunoo pode perceber o sorriso do garoto, ele tinha um sorriso bonito, mas não era o sorriso que ele mais gostava no mundo, ele sabia exatamente o que faltava em niki para ele se tornar alguém que o fizesse se sentir certo, ele precisava ser sunghoon e isso era impossível.
   Se sentiu infinitamente mal, por mais que houvesse gostado do beijo, niki não era sua pessoa, não era sua luz, ele era importante, mas não era o amor de sua vida. Ele não podia amar niki daquela forma e fingir que amava era errado.
Suas mãos ainda estavam entrelaçadas quando o japonês separou-se de sunoo elevando o olhar ao seu, ele ainda sorria, mas dessa vez era menor. O rubor nas bochechas alheias aumentava a aura de romance adolescente. O Kim estava nervoso, mal podia encarar niki.
     - niki, bebe... –ele começou
     - não precisa dizer nada, sunoo–fez um carinho mínimo em sua não usando o polegar – Você ainda gosta dele, não é?
     - gosto... – abaixou a cabeça
     - está tudo bem, não tem problema nenhum, é sério – sorriu – por mais que tenham brigado, eu ainda acho que vocês se amam, sabe, seria legal se pudessem se reconciliar
     - Ué, pensei que gostava de mim – elevou o olhar confuso
     - o quê? – ele começou a rir deixando sunoo ainda mais sem respostas – quem te falou isso?
     - o jungwon
     - meu Deus, ele entendeu tudo errado, sunoo, eu gosto de você sim, mas porque você é meu amigo, meu hyung, alguém que importa,de fato eu sinto sim atração por você, mas sinceramente não tem nada romântico nisso
     - mas, mas... então por que deixou eu te beijar?
     - ah, eu estava meio curioso em relação à minha sexualidade esses dias e achei que experimentar não seria nada mal, mas eu não fiz nada, quem me beijou foi você, mas eu entendo, eu sou mesmo irresistível – cruzou os braços convencido
     - seu idiota – deu um pequeno soco no braço alheio, arrancando risadas
Aquela conversa havia tirado um grande peso das costas de sunoo que respirou aliviado.
   Ficaram ali por mais um tempo conversando sobre tudo, como sempre fizeram, de repente, sunoo se sentia bem novamente, sentia como se tivesse voltado aos 16 anos, tinha niki de 14 anos como seu amigo, outros amigos legais e uma família feliz. Sunoo era feliz. Mesmo que fosse de plástico, ainda sentia falta dessa felicidade.
   Quando as coisas começaram a se bagunçar em sua mente novamente, ele chamou niki para voltar para dentro, afinal, a noite estava fria e não lhes faria bem ficar ali. Foram para dentro ainda conversando sobre as coisas que sempre fizeram sunoo rir, niki falava sobre suas teorias da conspiração sobre aliens e a NASA com tanta convicção que o mais velho que acreditava.Dentro do apartamento, jake havia colocado jinsoul para dormir no quarto de niki e jungwon para dormir no seu quarto.
     - Sério, eu odeio eles – reclamou se jogando no sofá, não havia abandonado a garrafa de cerveja
     - eu não estou com sono – niki comentou
     - então bora ver um filme, o que você acha sunoo?
     - seria incrível! Da última vez que eu vi um filme com o niki, fomos expulsos do cinema – fuzilou o mais novo com o olhar
   Foi ali que passaram o resto da noite, rindo das partes engraçadas, dos comentários idiotas durante o filme, chorando das partes tristes, rindo porque choraram, enfim, adolescentes.
   Esses momentos deixavam sunoo imensamente feliz e ele nem mesmo sabia descrever o quão boa era a sensação de se sentir acolhido no seu grupo de amigos, de ter em quem confiar, de ter com quem contar, de ter uma luz no fim do túnel.Acabou por cair no sono, assim como os amigos que estavam consigo. A felicidade estava tão presente em sua vida neste momento que não podia lembrar como era estar sozinho. Ele podia ter esquecido, mas o universo não.
   Acordou depois de finalmente, após dias, uma boa noite de sono, mas poderia ter sido melhor se não houvesse sido interrompida por uma gritaria vinda da cozinha. Se pôs de pé ainda sonolento, foi a passos lentos até a cozinha, coçando seus olhos. Ouvia jinsoul esbravejar, poxa, logo pela manhã? Já ia mandar a garota calar a boca, mas foi ele quem ficou sempalavras quando presenciou tal cena.
   Jungwon segurava a bolsa de sunoo com uma mão e com a outra distribuía os itensque estavam contínuos nela. Sunoo engoliu seco, seus olhos se arregalaram como bolas de bilhar. Assim que jinsouldirecionou o olhar para si, ele pode sentir uma pressão tomar conta de seu peito como em o peso de mil carros.
     - Kim sunoo, vem aqui agora – ela o chamou – tem como me dizer que porra é essa?
     - eu tenho como explicar – um dejavu tomou conta de si, lembrava-se daquela cena, era exatamente o que havia acontecido entre ele e sunghoon
     - não tem não, não há nada que você diga que justifique essa merda
     - jinsoul, cala a boca, deixa ele falar – jungwon a repreendeu, queria ouvir sunoo dizer, Ele já tremia em nervosismo
     - o que ele vai ter pra falar? Tem uma arma, um bolo de dinheiro – que poderia ser maior se sunoo não tivesse depositado vinte mil em sua conta escondida, pensou ele – identidades falsas e outros documentos, o que ele vai ter pra explicar?
     - se você calar a porra da boca a gente vai descobrir – niki estava muito mais confuso que qualquer outro ali, por isso se enfureceu
     - quem te deu o direito de falar assim comigo? Pirralho de merda – rosnou a garota
     - tem como vocês pararem de brigar e deixarem o sunoo falar? – jake chamou a atenção de forma séria, assim, todos os olhares se voltaram a sunoo
   O garoto mantinha a cabeça baixa, mordia o lábio tentando conter as lágrimas, mas ele não aguentava mais, tinha as mãos juntas, pois sabia que se as separasse arranharia todo caminho de sua pele ainda coberta pelo grande moletom azul que havia pegado emprestado de niki. Se sentia sujo, os arrepios que corrompiam seu corpo lhe davam vontade de arrancar toda a sua pele para esquecer aquela sensação. A cada vez que respirava sentia que perdia o ar, como se houvesse uma pressão contra o seu peito impedindo o ar de passar por seus pulmões. Hora ou outra ele erguia a cabeça para tentar tomar ar, mas nada que funcionasse, havia um grande nó em sua garganta.
     - sunoo, a gente pode te ajudar, não importa o que aconteceu, só conta pra gente – jungwon se aproximou ao ver o estado de seu amigo
     - v-vocês não p-podem me ajudar –o ar que se prendia em si não o deixava soltar uma mísera palavra que soasse certa
     - claro que podemos,sunoo, somos seus amigos, conta pra gente, estaremos aqui para você – jake exclamou
     - eles estão certos, ddunoo, você é um membro importante do nosso grupo e não vai ser agora que vamos te abandonar – niki colocou a mão em suas costas às alisando lentamente como forma de ajudá-lo a conter a crise que claramente estava por vir
     - eu n-não posso d-dizer – exclamou sem voz
     - por que não, hyung? – jungwon era paciente em suas palavras
     - por que eu sou uma pessoa ruim –aquilo saiu como se ele houvesse liberado algo que estava preso em sua garganta por muito tempo
   Depois de tais palavras, sunoo começou a soluçar sem consolo, não havia nada que dissessem que pudessem ajudá-lo naquele momento. Se soltou dos braços dos amigos e correu em direção da mesa onde suas coisa haviam sido dispostas.
     - ah, mas você não vai mesmo – jinsoul bloqueou a sua passagem
     - jinsoul, por favor, sai da frente, você não entende – choramingou
     - o que eu não entendo? Que você é um babaca? Ah, eu entendo isso, de boa
     - não é isso, o que tá acontecendo é maior que eu ou você
     - é maior que nossa amizade também? – questionou séria, mas não recebeu resposta – você não sai dessa casa sem a polícia – os olhos dos presentes se arregalaram, não faziam ideia do que havia de errado com jinsoul
     - você não me deixa escolha – exclamou sôfrego, desferiu uma cotovelada na costela da amiga que caiu de joelhos no chão – me desculpa mesmo
     - sunoo, o que é isso? –jungwonse assustou
     - vocês não merecem um amigo como eu – colocou as balas na arma a esticando em direção a eles – então eu vou ir embora daqui e tudo vai ficar bem
     - você não tá pensando direito, abaixa isso
     - não posso,jungwon, você não entende? – bateu o pé fazendo birra, colocava seus itens na bolsa novamente – vocês só vão se livrar do problema se ele sumir e o problema sou eu
      - sunoo, me escuta – niki começou a se aproximar
      - sai de perto,niki – gritou esticando a arma em direção ao garoto – eu não quero te machucar, vocês só precisam me deixar ir e vai ficar tudo bem – sorriu sôfrego entre lágrimas
     - você não quer fazer isso – em passos lentos se colocou em frente à arma – olha isso, presta atenção no que tá fazendo
     - Nishimura niki, por favor –ele tentava afastar as lágrimas, estar naquela situação doía
     - você não precisa fugir, pode ficar aqui, comigo e com os nossos amigos, vamos te ajudar a resolver tudo isso, seja lá no que se meteu, nós te amamos,sunoo, mas – ele colocou ambas as mãos na arma a colando em sua testa – é você quem está segurando uma arma, a escolha é totalmente sua
     - bebe, você sabe que eu te amo, não sabe? – abaixou a arma sorrindo fraco, seu interior se deteriorava
     - eu sei,hyung
     - então sabe que é pro seu bem – assimfinalizou suas palavras, usou o cano da arma para atingir a cabeça de niki que foi ao chão desmaiando, jungwon correu ao seu lado para socorre-lo
   Sunoo pegou sua mochila e ainda segurando a arma anunciou:
    - não me sigam, não tentem me achar, eu só quero que fiquem bem, por favor, não me odeiem, eu amo muito vocês – chorava sem nenhuma tentativa de controlar esse sentimento, mais um dejavu, assim como quando bateu na cabeça de niki, tudo o lembrava aquele maldito dia.
   Saiu daquela casa se achando o maior covarde do mundo, era sempre assim, ele poderia ter refutado sua mãe, mas pegou suas coisas e fugiu, podia ter ouvido sunghoon, mas pegou suas coisas e fugiu, podia ter tentando explicar a situação para seus amigos, mas novamente, pegou suas coisas e fugiu. Estava sinceramente cansando, em todos os sentidos.
   Não merecia ter ninguém em sua vida, só sabia machucar as pessoas, era inevitável para si.
   Com esses pensamentos ele fugiu para um hotel, onde ficou por uma semana, mal comia,apenas o necessário para se aguentar de pé, saia pouco e quando saía ficava com medo de ser descoberto. Apesar disso, todos os dias ele seguia em direção a uma grande ponte onde cruzava um rio, aquilo era lindo, era quase como uma felicidade eterna, era isso que representava para si. Eternidade, ele já foi amado pela eternidade, ele amava pela eternidade, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito agora.
   Todos os dias quando se dirigia aquele mesmo lugar, um misto de emoções se formava em si, ele sentia tanta vontade de chorar, mas até mesmo as lágrimas haviam o abandonado. Olhava para o horizonte e se perguntava por que insistir em algo tão sem futuro quanto ele, já não tinha mais ninguém e nada mais fazia sentido. Morrer? Ele não queria morrer, ele queria se livrar de todo aquele peso que caia sobre si, ele queria acabar com tudo o que o machuca, ele queria impedir que machucasse mais alguém. Assim, ele ia todos os dias naquela mesma ponte, onde olhava para baixo e se perguntava se a água gelada o acolheria.
   Ele sempre fugia, se sentia ainda mais covarde quando fugia dali, quando não podia encarar o próprio reflexo na tela do telefone novo. Por que ele havia comprado aquilo? Nem ele sabia, só servia para ouvir músicas que alimentavam o sentimento de desgraça em si. Talvez no fundo, bem lá no fundo, ele desejava que um de seus amigos o encontrasse, que ligasse para si e o pedisse para voltar pra casa, que estava tudo bem.
   Falando em ligações, seu coração acelerou de formas inimagináveis quando o aparelho começou a vibrar em seu bolso, mas se desanimou assim que viu o número na tela. Desde que comprou aquele celular, um número desconhecido o ligava sempre, mas nada dizia, ficava na linha até que sunoo se estressasse e gritasse contra o telefone, então desligava, como se quisesse o testar.
   Já havia perdido a paciência, era sempre aquele maldito número, mas ele curiosamente nunca deixava de atender, no fundo ele só queria ouvir a voz de seja lá quem o perturbava.
Colocou o aparelho contra o ouvido respirando fundo antes de dar sinal de vida
     - alô?
     - vou ser rápido e direito – a voz grossa de um homem se fez presente, o que chamou a atenção de sunoo – eu estou com seus três amiguinhos aqui, se você não...
    - não acredito – começou a rir sem se conter – escuta aqui moço, eu conheço esse golpe, até eu já dei esse golpe, não vai funcionar, aliás, tenta colocar uns gritos no fundo porque fica mais convincente, se precisar de alguém que sabe gritar me liga, ok? Tchau ajuhssi
   Desligou rindo sarcástico para a tela, sinceramente... logo com ele?
   Na verdade, aquelas ligações faziam sentido agora, mas não foram nada convincentes, sem dúvida amadores.
   Aquela chamada despertou em sunoo coisas que ele não sentia havia algum tempo, sentia saudade de participar de golpes e curiosamente, o último golpe que participou fora um exatamente assim.
Poderia passar mais uma hora ali apenas pensando sobre isso, mas foi novamente interrompido, o mesmo número, é sério isso? Bom, desta vez eram mensagens de SMS. Abriu as mensagens fechando a expressão imediatamente.
    - mas que porra...?
  Não sabia exatamente como reagir. O conteúdo das mensagens eram fotos, sunghoon, jay e heeseung haviam sido sequestrados, amarrados e levemente machucados. Se desesperou ao ver os três sangrando amarrados, não pareciam ser ferimentos graves, mas mesmo assim. Outra ligação do mesmo número.
     - vai me ouvir agora, princesa? – a voz do homem era de sarcasmo
     - cadê eles? Diga-me onde estão
     - você vai fazer o que eu mandar
     - não vou fazer porra nenhum pra você, nem sei quem é
     - sou atualmente sua maior ameaça
     - uh, que medo, o que vai ser depois? Vai dar uma de Darth Vader e dizer que é meu pai? – mesmo diante da situação, o garoto desdenhou, sabendo estar brincando com fogo
    - estou vendo que tá debochando... bom, se não vai fazer por bem... que seja por mal – o homem riu
    - o que? – a ligação foi encerrada – EI, VOLTA AQUI, EU AINDA TÔ FALANDO COM VOCÊ
   Se desesperou, e se ele machucasse os meninos? Ele não podia fazer isso.
   Sunoo não foi capaz de completar nenhuma ação, quando se virou, dois homens de tamanho médio o atingiram com um grande taco de ferro, o desmaiando imediatamente.
   Inconsciente, sunoo nunca havia desmaiado na vida, sempre esteve inconsciente de seus sentimentos, mas nunca na forma literal. Sempre duvidou de seus sentimentos se sentindo em uma corda bamba de venda. No escuro.Abandonou todos que importavam para si e por isso não havia mais luz no fim do túnel. Estava tudo imensamente escuro. Naquele momento, porém, ele não sentia nada e não tinha ninguém, nem mesmo a voz em sua cabeça o perturbava agora, era tudo silêncio. Tudo escuro.








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Obrigada pela leitura, até o próximo cap ;)

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