Capítulo 2

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Entre suas máscaras

   Sempre foi difícil para mim ser transparente, acho que só poderíamos ser como vidro quando não tivéssemos segredo nenhum e, sinceramente, vidro quebra bem mais fácil que o cimento duro e pesado que compõe as pesadas máscaras que carregamos por ai. Acredito que todos ganhamos uma máscara como proteção, um tipo de escudo onde podemos nos esconder.
   A maior falha das máscaras pra mim são os olhos, logo eles, as janelas da alma, por essas janelas eu posso ver sua imensidão de segredos, seus medos, angústias e tudo o que sente, pode esconder sua expressão, mas seus olhos sempre estarão dispostos a dizer mais de mil palavras, expor mais de 100 faces, e é por entre mascaras que se comunicam os olhares.
   Sunoo, após duas semanas de aula, se pegava encarando sunghoon que se sentava calmamente em um dos bancos da escola, ouvindo algo em seus fones. Nos primeiros dias, o kim achou estranha a ação de sunghoon de sempre dar uma desculpa para não se envolver com a classe, mas achou que fosse apenas timidez. Sem perceber, se pegava olhando o garoto na esperança dele olhar de volta, havia algo que o atraia profundamente e ele nunca soube o que era. Queria estar perto dele.
   Porém já se completavam dias e ele sempre arranjava um jeito de escapar de trabalhos em grupo e atividades que exigissem o mínimo de socialização. Na cabeça de sunoo, isso não estava nem perto do que alguém normal faria, era difícil para sunoo aceitar que pela primeira vez em anos havia conhecido alguém que não estivesse totalmente interessado em ser seu amigo, que não lhe fora entregue de bandeja. Isso tudo, fazia com que sunghoon fosse um alvo em potencial, algo a se conquistar. Também fazia ele parecer estranho para caramba, para o kim.
   Descaradamente encarava o garoto, que por um momento subiu o olhar se encontrando com o seu, sunghoon tombou a cabeça para o lado confuso, por outro lado, sunoo apenas sorriu envergonhado tentando disfarçar o fato que estava espionando o garoto. Lançou lhe um aceno que foi recebido pelo park de forma tímida.
    Kim sunoo virou de costas para a direção do coreano que observava, soltando um longo suspiro de nervoso, tinha algo errado com park sunghoon e ele descobriria o quê.
     - já faz um mês que as aulas começaram e duas semanas se completaram desde que park sunghoon entrou por aqueles portões e o sunoo ainda não parou de encarar ele – jinsoul chamou a atenção dos amigos
     - eu tô falando sério, tem algo errado nele e eu não consigo saber o que é – falou sério
     - por que você acha isso sunoo? – jungwon questionou
     - não tá claro? Ele nunca se envolve com ninguém e tenta ao máximo não fazer trabalho em grupo, daqui a pouco ele fala que pegou malária só pra não ter que ficar na mesma sala que o resto dos alunos
     - você está sendo exagerado
     - a realidade é que o sunoo ainda não aceitou que existe alguém que não queira ser amigo dele – niki disse brincando com o canudinho de seu refrigerante
     - não é bem assim – cruzou os braços – mas vocês precisam concordar que é muito estranho alguém que não curte pessoas, digo, ele não quer nem tentar fazer amigos e olha o tanto de gente em volta dele... a não ser que ele não curta muita gente em volta dele
      - silencio, o sunoo está descobrindo os hiper introvertidos e os antissociais – jinsoul ironizou
      - tô dizendo que ele pode estar escondendo alguma coisa
      - omo! E se ele for um serial killer? – debochou a garota
      - ou talvez um dos aliens que fazem a vistoria da terra – niki entrou na brincadeira
      - vocês são um saco – disse com cara de desaprovação – se não vão me ajudar eu vou dar um jeito de fazer isso sozinho
   O garoto apenas pegou suas coisas dando as costas para seus amigos, mesmo que ele estivessem o seguindo de qualquer maneira. Chegando a sala, sunoo apenas se jogou na cadeira e começou a pensar em quais poderiam ser os segredos de sunghoon e com um uma caneta, começou a anotar todas as possibilidades em sua agenda.
     - talvez um sociopata, faria total sentido – jinsoul se sentou tendo niki sobre sua carteira
     - ou talvez ele seja aqueles gênios das exatas! Aqueles que não gostam de gente e passam noites acordados fazendo equações nas paredes
     - não, ele nem gosta de matemática, dormiu durante a maioria das aulas
     - exato, ele acha a matéria até entediante porque ele tá a frente do tempo dele – disse como se fosse a coisa mais esperta do mundo
     - ah claro, faz assim, pergunta pra ele e depois você me fala
   Era isso! Uma lâmpada se acendeu sobre a cabeça de sunoo, se ele fosse tentar adivinhar demoraria muito e ele poderia nunca descobrir, mas também não podia simplesmente perguntar pra ele, a melhor forma seria ser sutil.
     - jinsoul, tu estudou pra prova de amanha? – perguntou sunoo de forma audível e convencida
     - PROVA? – metade da sala perguntou em uníssono
     - como assim prova, sunoo? – jungwon se alarmou
     - você não estudou? – uma garota questionou o presidente do grêmio, alguns pareciam estar cientes da tal prova
     - claro que não! Eu estava fazendo o trabalho! – a outra parte da sala concordou dando o mesmo argumento
     - que trabalho? – jinsoul já se via no vermelho
     - o trabalho pra entregar amanha
     - mas pera, tem prova e trabalho bem no dia de entregar o seminário – jake perguntou confuso olhando em volta para alguns dos colegas que pareciam ter feito assim como ele
     - SEMINARIO?
     - meu Deus, a nossa turma vai reprovar – um garoto choramingava na frente da sala
     - ainda bem que eu nem sou dessa sala – niki riu vitorioso – mas como você sabia de todas essas atividades se nem o jungwon sabia?
     - eu só sabia da prova porque foi o que o professor disse no fim do vídeo que ele projetou há algumas semanas, metade da sala estava conversando ou arrumando as coisas pra gravação, o jungwon fez o trabalho e me passou, o seminário eu já to terminando, a professora me avisou antes mesmo de passar para a turma – sunoo deu de ombros
   Gostava de ver o circo pegar fogo, principalmente quando ele era o culpado pela faísca inicial. Mordeu o lábio inferior assistindo o show, em algum momento conseguiria o que queria, ele sempre conseguia, não demoraria muito.
     - por isso que ele vai entregar o seminário comigo! – jinsoul piscou para o kim que debochou
   Ele sabia que ninguém havia feito todas as tarefas, ser amigo de todo mundo nunca havia sido tão difícil, havia vários alunos em volta de si, mas ele só queria a atenção de um, um que não tinha amigo nenhum para pedir ajuda, um que era inteligente, mas que acabava dormindo durante os avisos, um que se chamava Park Sunghoon.
   A verdade era que sunoo geralmente nem avisaria sobre as tarefas ou simplesmente mandaria uma cópia da sua para todos, mas dessa vez ele queria a atenção do park e foi necessário ser um tanto mal com seus colegas pelo bem de seu experimento. Não era como se ele visse sunghoon como um rato de laboratório, mas era sim uma boa oportunidade de se arriscar pelos seus princípios e, desde que havia sido ridicularizado com a ideia de que o park escondia algo, havia se tornado também uma questão de ego e dignidade.
   Mirou o olhar em direção ao garoto que mordia o lábio em receio, o park não sabia o que fazer, havia chegado duas semanas depois do começo das aulas e por isso não tinha matéria o suficiente para um trabalho, uma prova e muito menos um seminário.
   Foi como uma pontinha de esperança atingindo sunghoon, virou seus olhos em direção a multidão de alunos que pedia ajuda a kim sunoo, mas este, tinha seus olhos gentis vidrados em si, o problema é que a pontinha de esperança era um pouco afiada demais, sunghoon tinha medo da aproximação estragar tudo que havia demorado a construir.
   Sunoo era sem duvida a pessoa mais amigável que havia conhecido em décadas, era alguém cheio de energia que trazia uma boa aura para a sala, de vez em quando o via treinando alguma de suas danças pelos corredores da escola, ele era talentoso e arrancava sorrisos com seu jeito, nada disso poderia de maneira alguma passar despercebido por sunghoon. Esse era o problema, em tão pouco tempo parecia ter percebido jeitos e manias demais, isso fazia a aproximação do kim perigosa, era ameaçadora. Quem imaginaria que kimsunoo, o queridinho do universo, um amor de pessoa, pudesse ser a maior ameaça de um golpista.
   Naquele momento, porém, ele não tinha escolha, ele tinha de pedir ajuda ao garoto, ou receberia um nota baixa e isso poderia ser ruim de múltiplas maneiras. Pesando os prós e contras na balança, sunghoon se levantou e em passos lentos alcançou sunoo por entre os vários alunos que imploravam para que sunoo apresentasse o trabalho consigo.
   Em momento algum sunoo havia abandonado a visão de sunghoon, mantinham esse contato visual, seu plano corria como queria e isso era simplesmente excitante, o deixava animado, como um vilão de desenho, era cômico. Parado ali em sua frente, sunghoon timidamente coçou a nuca sorrindo pequeno para sunoo.
     - ah, kim sunoo… Você… pode me ajudar com os trabalhos?
     - gente – disse em voz alta sorrindo vitorioso para o garoto alto, se pôs de pé ao lado dele – eu vou fazer os trabalhos com o sunghoon, me desculpa por não poder ajudar vocês
     - o quê?! – jinsoulexclamou incrédula
     - chegou o dia, noona, o sunoohyung te abandou por macho – niki colocou o braço sobre o ombro de jinsoul aguentando o drama da garota que resmungava algo sobre suas notas e como odiava os homens do mundo
     - você vai mesmo? – sunghoon sorriu aliviado
     - logico, você é novo e não conhece as manhas de ser o queridinho dos professores, podemos ir na biblioteca depois da aula
     - mas vai estar fechada
     - ah verdade... – fez um biquinho pegando algo em seu bolso, mostrou a identificação sorrindo – ah não ser que você tenha acesso VIP lá, tipo eu
   Era inacreditável, e completamente conveniente, é claro, mas ainda sim inacreditável. Então estava marcado, iriam na biblioteca logo depois de anoitecer, com o cartão de sunoo entrariam lá e fariam o trabalho. Era quase coisa de filme.
   Saiu da escola correndo para casa, onde encontrou jay dormindo no sofá e heeseung brigando com um cara em um jogo.
     - como você dorme com ele gritando assim? – acordou o park mais velho
     - eu consigo dormir de qualquer maneira, menos quando você me acorda – se sentou coçando os olhos – como foi a aula?
     - tenho milhares de trabalhos atrasados e eu não sabia – tirou a jaqueta – por isso eu vou na biblioteca quando anoitecer
     - vai invadir uma biblioteca? Você já teve mais dignidade
     - o sunoo tem um tipo de cartão VIP, ele pode entrar a literalmente qualquer hora
     - que tipo de nerd tem um cartão desses? – nem conhecia o garoto, mas já o julgava mentalmente
      - deveria perguntar quem é kim sunoo, pra começo de conversa – heeseung apareceu abrindo a geladeira
      - ele não disse que o garoto se chamava kim – jay arqueou a sobrancelha – wow, kimsunoo, o nerd VIP
     - ele pediu pra mim descobrir quem eram aqueles do grupinho que recebeu ele – pegou uma caixinha de leite de morango – o kim sunoo é uma pessoa legal, ter ele por perto vai ser bom pro hoon terminar a escola com boas notas. Além do mais, se ele der um jeito de descolar esse cartãozinho mais vezes a gente pode arrumar umas coisas legais da biblioteca.
     - não vou usar o sunoo pra fazer golpes. – disse simplista tomando a atenção dos mais velhos que franziram o cenho
    - como é?
    - o sunoo é um cara legal que não tem nada a ver com isso – deu de ombros
    - o sunghoon tá ficando mole, não acredito
    - ah, dá um tempo,jay – desdenhou     checando o visor de seu celular, continha um numero desconhecido brilhando na tela, era uma ligação – alô?
     - sunghoon-shi! Eu já estou indo para a biblioteca, te aviso quando chegar lá – a voz animada de sunoo foi ouvida do outro lado da linha
     - como conseguiu meu numero? – as palavras do garoto alarmaram heeseung e jay que prestavam atenção
    - você colocou na ficha da escola, eu peguei com o jungwon, porque ele tem acesso a papelada, tem problema? Se tiver eu paro de te ligar e...
    - não, sunoo, está tudo bem – gesticulou com as mãos mesmo sabendo que o garoto não veria – já estou a caminho, te vejo na biblioteca
    - viu isso, hyung? – jay perguntou para heeseung quando o mais novo deles desligou a chamada – o sunghoon é capaz de sorrir
    - nunca pensei que fosse ver nosso pequeno garoto sorrindo por causa de uma ligação
    - eu nem estou sorrindo?? – disse obvio
    - se o sunghoon arrumar um namoradinho vai ser tudo culpa do jay que não trocou ele de sala – apontou para o loiro
    - mas e se o garoto for bom no crime? Ele deu o jeitinho dele de arrumar o número do hoon, ele pode até ajudar
    - então ele vai dormir no seu quarto e você fica com o sofá
    - não vai ser preciso, ele dorme com o hoon
    - ah verdade
   Sunghoon ouvia o dialogo incrédulo, um pequeno tique nervoso atacava seu olho de forma sutil, congelado tentava tomar controle da situação de forma consciente e calma.
    - primeiro: eu nem mesmo gosto de garotos, nem comecem, segundo: o sunoo não vai nem chegar a beirar aqui, se ele checou a ficha ele vai encontrar apenas o endereço de um cara que eu contratei para fingir ser meu pai caso algo aconteça na escola
   - mentiu todo – heeseung deu as costas
   - mas vocês sabem que eu nunca coloco os endereços reais nas coisas – gesticulou cansado
   - ele tava falando do ponto 1 – jay sorriu de canto se levantando e deixando sunghoon sozinho na sala.
   Não queria parar para pensar sobre o assunto, já tinha pensado muitas vezes sobre isso e sempre acabava com ele extremamente confuso ou gritando até com as penas de seu travesseiro, por isso, tentava evitar as crises “overthinking”.
   Assim, pegou suas coisas e saiu de casa sem mais nem menos, não queria deixar sunoo esperando quando era ele quem precisava de ajuda e não o mais novo. Pegou um ônibus e ocupou a mente com musicas, cada segundo de silencio em si era motivo de auto questionamentos e ele sem duvida não gostava disso.
   Chegando ao local combinado, ele tentou tomar uma visão geral do arredor, procurando o garoto. Recebeu três tapinhas em seu ombro e não pode deixar de se assustar. Ao se virar se deparou com a visão do garoto baixo com as mãos cobrindo a boca como forma de segurar o riso. 
     - não acredito que se assustou,sunghoon-shi
     - sunghoon, não sou tão mais velho, não precisa me tratar como um superior ou sei lá
     - uh! Okay, tempo para absorver a informação... gostei! Vem – pegou sunghoon pela mão o puxando em direção à um amontoado de arbustos ao lado da biblioteca
     - pra onde tá me levando, sunoo? – questionou sendo arrastado pelo mais baixo
     - para a biblioteca, oras
   Havia na lateral da biblioteca uma porta cinza de ferro, que era coberta pelos arbustos de forma proposital. Sunoo apontou o cartão em mãos para um visor verde e, após um pequeno alarme, a porta se destrancou, permitindo a entrada de ambos. Lá dentro era consideravelmente mais quente que o lado de fora, de forma que sunoo retirou seu casaco o abandonando no chão da entrada. Mais uma vez puxava sunghoon, desta vez em uma velocidade elevada em direção as mesas de estudo que se encontravam na lateral das múltiplas prateleiras de livros.
     - aqui – parou bruscamente, sunghoon se sentia mais cansado que nunca, sunoo tinha a energia de uma criança de cinco anos
   O kim explicou-lhe cada matéria e decidiu começarem com o estudo para a prova de matemática, depois passariam para o seminário de biologia e por ultimo o trabalho de literatura.
   Sunghoon se concentrava para entender a matéria, mas sinceramente, só se interessava por números se fossem adicionais em sua conta. O delta era coisa mais entediante que já havia visto, serio, triângulos só podem ser legais quando se tratam de salgadinhos, pensava para si. Os números do caderno se embaralhavam e a matéria só piorava.
   Sunoo percebeu o comportamento do mais velho, logo tratando de anima-lo com alguma conversa sem fundamento.
     - não gosta de matemática, não é?
     - o quê? –se surpreendeu pela conversa repentina
     - você sempre dorme nas aulas de matemática, no dia do vídeo você dormiu nos primeiros minutos, ele nem tinha dito a palavra delta ainda
     - ah, você está certo, eu não gosto muito, mas depende na verdade – explicou prolongando a conversa inconscientemente – mas você aparentemente parece conhecer um pouco sobre tudo
     - eu tento, sabe
     - inclusive dançar, já te vi pelos corredores e aquele dia
     - ah, isso... – sorriu fraco um pouco envergonhado
     - como começou a dançar? – sunghoon sinceramente preferia falar da vida de qualquer pessoa menos da sua, ou suas, se me permite
      - foi quando eu conheci a jinsoul há bastante tempo atras, começamos a gravar vídeos juntos e começamos o LOONA, éramos só eu e ela fazendo covers de girlgroups que gostávamos – gesticulava com as mãos, sunghoon já havia soltado o lápis para prestar atenção –um dia ela me apresentou a chuu, então a choery e aos poucos eramos eu e mais doze garotas que eu mal conhecia. Elas eram encantadoras, cada uma do seu jeito, mas eu me sentia um empecilho, principalmente quando elas começaram a escrever musicas juntas, me pediam ajuda as vezes para alguma coreografia e eu fazia de bom grado, mas já estava claro que eu havia deixado o LOONA. Hoje elas brilham na internet e a jinsoul sempre me dá créditos e faz questão de deixar claro aos fãs que eu serei sempre um membro do grupo, mas eu acredito que tudo o que elas conquistaram foi mérito completamente delas. A dança é o que me faz vivo, é onde eu posso colocar o meu carisma e a minha paixão, é o que eu sei fazer, é o que me faz bem.
   Sunoo falava sobre sua experiencia com paixão, podia passar horas falando sobre como a dança e o LOONA tiveram influencia em sua vida, seu coração estava todo depositado ali e era onde se sentia confortável. A dança era um ponto que gostava de ressaltar sobre si, ele mesmo havia treinado para isso e passado horas aprendendo técnicas e aperfeiçoando-as, era mérito seu e lhe dava a energia que precisava para continuar vivo.
   Ver o kim falando com tanto fervor sobre o que gostava despertou boas sensações em sunghoon, que podia ficar ali por horas, seja ouvindo sobre o LOONA, sobre o planeta, sobre números, até politica poderia parecer interessante quando proferida daquela maneira, era um tipo de magica que sunoo tinha, prendia a atenção das pessoas.
    - e você sunghoon? – despertou-o de seus devaneios
    - eu o que?
    - tem algum tipo de hobbie que importa de verdade para si de forma que poderia trocar tudo na sua vida por isso?
     - eu tenho sim…
   Sunghoon nunca havia realmente parado para pensar sobre isso, sua cabeça o incomodava então evitava, mas agora que tinha a chance de se ouvir da forma que sunoo fazia, ele podia analisar sua realidade e até o seu passado.
     - eu gostava de patinar no gelo – sorriu se lembrando
     - e você era bom nisso?
     - eu era incrível… meus pais brigavam desde que eu era bem novo, por isso eu fugia e corria para a pista de patinação, onde eu colocava todo o meu coração e paixão, dançava como se fosse minha ultima vez, os movimentos, a musica, o medo de cair e o frio, tudo se misturava e se transformava em um equilibro que me fazia vivo, era como se eu estivesse flutuando – fechou seus olhos lembrando das sensações, podia sentir novamente o frio nas pontas dos dedos e nariz – eu sentia como se tudo aquilo fosse um palácio só meu e lá eu era quem mandava
   Sorriu por fim abrindo seus olhos novamente, sunoo não pode deixar de sorrir também, aquelas palavras foram no mínimo tocantes, a forma como sunghoon citava a patinação fazia-o querer quebrar barreiras, ir além dos seus limites, largar sua bela vida de boneco de porcelana.
     - e você ainda patina?
     - não, eu tive que parar... – olhou para as próprias mãos em busca de conforto próprio, não deixaria que seus pensamentos o tomassem novamente – então, kim sunoo, não me leve a mal, mas que tipo de pessoa tem um cartão VIP de uma biblioteca? – o garoto riu alto pela pergunta repentina
     - é uma historia doida, o jungwon adorava vir à biblioteca, então estávamos sempre aqui, mas eu não curtia passar tanto tempo parado em silencio, então saí fazendo amizades por aqui, uma delas foi com uma senhorinha que era encarregada de etiquetar todos os livros e checar se estavam no lugar, conversávamos sempre que eu vinha aqui, ela me dava chá e biscoitos e eu lhe contava varias historias que eu inventava, mostravas danças que eu havia aprendido e ensinei ela a usar o celular – seu sorriso morria aos poucos – ano retrasado, porém, eu recebi a noticia de que ela havia falecido, fiquei ainda mais arrasado por saber que entre todos os seus filhos e netos, ela ainda arrumou um jeito de me pôr no testamento dela. Foi assim que eu tive direito a ter o mesmo cartão que os empregados da biblioteca, eles só mantem o cartão comigo por respeito a ela, por sorte eu nunca dei trabalho – riu sapeca
     - meus pêsames por ela
     - obrigada, aposto que ela te adoraria – sorriu de forma que seus olhos praticamente se fechassem
      - não acho que eu seria a melhor pessoa para conhecer alguém especial como ela, ela parecia ser uma boa pessoa
      - você também é, ice prince
   Sunghoon fez o que prometeu que nunca mais faria e se perdeu em pensamentos, sobre tudo o que já havia visto em sunoo, tudo o que admirava e tudo o que mais gostava, de como se sentia seguro e ao mesmo tempo ameaçado, kim sunoo para si era um travesseiro bomba, onde podia descansar, mas estava em constante perigo, por isso não poderia cair no sono completamente.
   Bonito, kim sunoo era muito bonito sorrindo assim, ele lhe trazia a boa energia de se estar vivo sem preocupações, como uma criança. Ice prince, ele nunca havia sido chamado assim, ele nunca havia contado para ninguém sobre o gelo, na verdade. Isso lhe causou uma pontada, mal conhecia sunoo e havia confiado a si algo tão importante.
   Foi com esse choque de realidade que sunghoon, inconscientemente se levantou de forma brusca, o que assustou sunoo.
     - está tudo bem? Eu disse algo errado? Não era minha intenção, sunghoon... – depositou sua mão sobre o braço de sunghoon como forma de para-lo
     - eu preciso ir, me desculpa sunoo, obrigada por me explicar a matéria – disse sem mais nem menos, se dirigindo a saída
     - mas temos mais a fazer! Eu juro que fico em silencio! – sunoo aumentou o tom para que o garoto distante pudesse ouvir, mas ele nem olhou para si, apenas saiu pela mesma porta que entrou – sunghoon...
   Ele tentou chamar pela ultima vez, mas pela falta de respostas apenas baixou a cabeça decepcionado consigo mesmo. Agora, o kim sentia que havia estragado todas as suas chances de ter sunghoon como amigo e nem mesmo sabia o que havia feito de tão errado.
   Lá fora, o garoto segurava lágrimas teimosas, o medo e o remorso o consumiam, havia confiado em alguém que mal conhecia e os resultados disso podiam ser desastrosos. Não era mais só sobre ele, se não tivesse saído daquela forma poderia ter dito mais, podia ter arruinado sua vida e de seus amigos com poucas palavras, mal acreditava como havia sido tão ridículo e irresponsável, se seus amigos soubessem, provavelmente estariam decepcionados.
   O universo não tinha culpa desta vez, entregou nas mãos de sunghoon a mascara que era necessária para que cada um de nós vivêssemos sem sermos completamente transparentes, mas sunghoon a colocou na copiadora e dela fez mais 100 e, por entre mascaras diversas, ele se escondia e se esgueirava em direção ao sonho ao qual ansiava, o mínimo deslize o colocaria em uma posição desconfortável e seu plano era ridículo quando exposto a falhas.
   Foi assim, que por entre as 100 má
   scaras de sunghoon, sunoo soube como penetrar em si e deixar algumas rachaduras. A alma não pode ser restaurada como as mascaras, muito menos o coração. Park sunghoon tinha 100 faces, mas o mesmo coração, que diferente de suas fantasias, não era infalível e nem a prova de rachaduras.










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Obrigada pela leitura, até o próximo cap ;)

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