Uma nova vida

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Eu mal conseguia abrir meus olhos, mas parecia que o teto se movia, na verdade eu me movia, meus pais estavam do meu lado, o Dave também, Dave? Minha mãe chorava. Por favor não chore mãe....
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     Havia um homem falando, eu devia estar sobre efeito de algum medicamento, ainda não conseguia abrir meus olhos direito, mas podia ouvir.
   - As pancadas que ele sofreu foram muito fortes, ele vai precisar passar algumas semanas aqui no hospital para analisarmos melhor, depois mais alguns dias por causa do nariz quebrado, para que dê tempo de acontecer a calcificação e então vamos ver se ele ficou torto, poderemos colocar no lugar caso precise.
   - ele vai ficar bem doutor? - era a voz do Dave.
   - Como eu disse, ainda vamos precisar analisar melhor a cabeça dele, mas pelo quadro atual dele tudo indica que vai sim, foi bom você ter chegado a tempo de parar aquele garoto ou talvez o problema tivesse sido mais sério. - foi ele que parou o Cleiton?
    - Vai para a casa David, qualquer coisa sobre o estado dele nós te avisamos. - era minha mãe
    - Se importa se eu ficar senhora? Fer é um grande amigo... Eu ficaria melhor aqui, pelo menos hoje.
    - Tudo bem, mas quando quiser ir pra casa, pode me falar que meu marido te leva pra casa.
    - Vamos lá fora, preciso conversar com vocês dois. - era o médico, chamando meus pais, me deixando sozinho com o Dave. Ele pegou minha mão...
    - Por favor...
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*
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- Por que ele precisa ficar sobre efeito desses remédios doutor? - era o Dave
    - é só por mais alguns dias rapaz, tivemos que aumentar a dosagem para que ele não sinta tanta dor.
    - ele pode nos ouvir?
    -  Há que diga que sim, mas na nossa teoria, ele só pode nos ouvir quando os efeitos dos remédios passam e há a troca, então ele volta a dormir.
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    Ela entrou no quarto e parou ao lado da cama.

    - Isso não devia ter acontecido. – era a voz da Fabi – Ele não merecia.
*

    Passados alguns dias.

    - Como ele está David? - Essa voz.... Afonso
    - Ele vai ficar bem. Você falou com a mãe dele?
    - Sim, ela disse que talvez amanhã ele já possa sair.
    - é.
    Depois de um tempo...
    - Ele gosta muito de você David.
    - Eu... Eu sei... Me culpo por isso. Por tudo isso

     Mais um tempo
    - Não devia - houve uma pausa - mesmo nesse curto período de tempo em que conheço o Fer, aposto que ele faria tudo de novo sem pensar duas vezes.
    - Mas... - a voz do Dave falhava como se estivesse chorando. - Ele não estaria nessa situação se eu tivesse encarado a situação de outra forma. Eu quase perdi ele... – Os dois ficaram em silêncio.

    - Foi por você, mas o Fer entendia o risco.

      Os dois ficaram em silêncio por um tempo, mas depois continuaram a conversar...
*
*
*
     - Ele está melhor - era a voz da Samantha. Rayssa e Fabi deviam estar lá também
     - Sim, hoje à noite eles já não vão mais medicá-lo e amanhã ele vai acordar.
     - Você vai estar aqui amanhã David?
     - Ainda não sei, talvez ele não me queira aqui. A mãe dele quer que eu fique, mas vocês sabem...
     - Acho que depois disso tudo, acho que ele iria querer sim. - voz da Rayssa. - O que aconteceu com o Cleiton?

- Ele foi expulso, estava drogado. O pai do Fer foi direto em uma delegacia denunciar ele e os garotos que o ajudaram.
   - O Fer vai ter paz agora. Veio mais pessoas aqui?
   - Sim - ele disse - Um pessoal do time de basquete em que ele jogava, alguns primos dele, uns familiares e o Afonso.
    - E como ele tá? O Afonso. - perguntou a Samantha.
    - Está um pouco machucado também, mas sem outras complicações. Ele me contou que antes da minha chegada. O Cleiton ameaçou o Fer de fazer a mesma coisa comigo, ele disse que nessa hora o Fer acertou um soco no Cleiton que partiu a boca dele, depois disso o Afonso disse que o Fer caiu e o Cleiton começou a soca-lo - a voz dele falhava – poderia ter sido mais sério, ele poderia ter morrido e parte da culpa é minha, eu fui um idiota de ter tratado ele daquela forma, isso não teria acontecido.
    - Mas você o salvou. - Samantha falou
    - mas...
    - Não se culpe. - pausa - Sabe que horas mais ou menos ele vai sair amanhã?
    - Então... A mãe dele disse que pela manhã, umas 07:00 ou 08:00. Por quê?
    - Queremos fazer uma festa para ele. E você vai, não aceito que recuse.
    - Tá certo - ele diz sorrindo.
    - Fabi veio aqui? - pergunta a Rayssa.
    - A mãe do Fer disse que sim, quando eu não estava, mas que não demorou muito. - disse o David.
    - Deve ter ficado mal de ver o Fer assim.
*
*
    - Quero agradecer você por ter ficado esse tempo depois das aulas com o meu filho David. - Era a voz da minha mãe - Aquele garoto teria matado meu filho se você não tivesse chegado.
    - Não precisa agradecer senhora. Eu o salvaria de novo se fosse necessário. Ele é muito especial para mim
    - E é sobre isso que eu queria conversar com você.
    - Senhora?
    - Vocês dois....
*
*
    Eu abri os olhos ainda com dificuldade, estava em um quarto todo branco, que foi decorado com vários vasos com flores e algumas cestas com presentes. Eu tinha alguns fios presos no meu corpo e uma espécie de fita no meu nariz, estava no hospital claro.
    - Mãe? - chamei por ela. Rapidamente ela apareceu na porta do quarto.
    - Filho! - disse me abraçando forte - que bom que já acordou. Está se sentindo bem?
    - Minha cabeça dói um pouco - digo
    - O doutor disse que nas primeiras horas depois que você acordasse ia doer mesmo, mas é por pouco tempo. Vou chamar seu pai para ajudar você a se arrumar.
    Meu pai apareceu no quarto me deu um abraço forte também, e me entregou umas roupas e me guiou até o banheiro do quarto.
    Meu pai tinha ido falar com os médicos que me examinaram, fiquei só com a minha mãe enquanto me arrumava.
    - Mãe... Ontem à tarde tinha alguém aqui? Posso ter imaginado enquanto estava desacordado, mas ouvi você conversando com alguém.
     Ela não respondeu de imediato.
    - Bom, aqui no quarto eu só falei com o seu amigo David. - ela respondeu.
    - O David?
    - Ele te salvou daquele menino - Por alguma razão eu já sabia daquilo. - Todo dia depois da escola ele vinha aqui ver como você estava, passava horas ao seu lado.
    Paramos de falar no assunto. Os médicos chegaram no quarto, fizeram um último exame e me liberaram.
    Assim que saímos do hospital e estávamos indo em direção do estacionamento, vejo que tem uma pessoa vindo até mim, era o Dave, ele me abraça.
    - Você me deu um susto e tanto... - com uma voz baixa diz me soltando do abraço e olhando nos meus olhos como se procura-se algo neles. Não consegui falar nada na hora e minha mãe que estava um pouco distante se aproxima.
     - David, você se junta a nós? - minha mãe diz
     - Mais tarde senhora. Tenho que fazer algumas coisas antes.
     - Tudo bem, vamos levar o Fer.
     - Tudo bem - ele se despede e vai indo embora.
     - Dave - digo, ele se vira para me olhar - Obrigado... Por tudo... - Ele responde apenas com um sorriso.
*
     Já no carro, meu pai e minha mãe me "atualizaram" de tudo que tinha acontecido nas últimas duas semanas. Falaram que várias pessoas tinham ido me visitar. Até que chegaram no ponto que falaram que o Dave foi quem me salvou. Eu meio que já esperava que eles sabiam de toda a história.

    - Mãe, pai... O Cleiton falou tudo sobre a briga? – pergunto

    - Sim filho – minha mãe responde.

    - E?

    - Ele é maior de idade, vai responder por tudo que fez a você - já esperava, mas não era disso que eu estava falando.
    - Já esperava mãe, mas o que eu quis dizer foi - eu devia falar? Ah, essa história já está indo longe demais - Vocês sabem que ele me agrediu porquê...eu sou Gay?

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