Segundo.

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Porra. Que dor de cabeça.

Virei-me na cama de madeira enferrujada e olhei para o teto mesmo a minha frente, relembrando os acontecimentos de ontem. Eu não sei porque bebi tanto. Parecia uma autêntica criança e tudo porque Bryan me deixou por 15 minutos para ir fuder com a rapariga do bar. Patético. Se apanhar sida, não venha chorar ao meu ombro.

Quem me dera puder voltar o tempo atrás disse fechando os olhos com força.

- Eh toma lá cabrão! - um rapaz gritou. - Shots por minha conta!
Aparentemente tinha ganho o jogo e com o dinheiro do paizinho rico, pagaria shots a toda a gente sempre que lhe desse na gana.
É que, se não me equívoco, aquele é o filho de um dos representantes do governo. É dos poucos que se dá ao luxo de usar cores como azul, ou ganga quando todos os outros andam de trapos. Ainda assim, só lhe é permitido utiliza-las a sexta feira. Sexta feira é um dia diferente para todos, ricos ou pobres.
Passei a vista pelo local, enquanto vislumbrava uma rapariga perdida mais ao canto a olhar enciumadamente para um casal. O sexo feminino de hoje em dia é tão desesperado, meu deus.
Querendo desviar o olhar, mas não conseguindo por alguma razão, ela pegou num dos shots que passavam numa bandeja, e bebeu o líquido de seguida, engasgando-se e cruzando o olhar com o meu. Um pontapé no estômago e um espelho da alma. A rapariga triste era eu.

E sem mais nem menos, estava de volta ao cubículo que era o meu quarto, com uma dor ds cabeça, três vezes maior do que a tivera anteriormente, e que quase me fizera cair para o lado.

Mas que raio?

Sonhei por dois segundos e fico com uma banda de rock a tocar no meu cérebro? Isto não é normal.

Retirei do armário mais um conjunto beje, igual a todos os outros, e caminhei para o andar de baixo para me puder trocar na casa de banho do exterior. O frio não me incomodou de todo, porque o fumo misturado no ar era tanto que abafava o mesmo. Mais um ataque ocorreu e tivemos sorte de não ter atingido esta parte da cidade.

Sorte... Ou azar. Vesti-me o mais depressa que consegui, ciente do tempo que tinha demorado a acordar e deixei a amostra de pijama no cesto ao fundo onde a tarde terei de lavar a mão. Podia ser pior.

Retirei uma maçã da cozinha e passei-a por água, tentando retirar a sua sujidade antes de prosseguir caminho para a escola.

Bryan hoje não me virá buscar, pelo que terei de ir a pé. As estradas estão desertas, é demasiado cedo para todos e isso dar-me-á tempo para pensar. Pensar em tudo o que tem acontecido.

Chutei uma pedra enquanto relembrava os acontecimentos que vivera, a cidade onde estou, o quão era feliz antes desta era de terror e dá-me um sobresalto...O que me dá um sobresalto realmente, a minha vida ou as pessoas nela? A maneira como Bryan a olhou, como demonstrou tanto interesse por uma pessoa aparentemente desconhecida. Merda.

Porque é que eu tive a brilhante ideia de pensar? A nossa mente é lixada como a porra se querem saber. E eu odeio a maneira como a minha parece ter paragens sentimentalistas por vezes.

A minha visão fixou-se numa petala presa num monte de cinzas. Parece a única cor nesta paisagem obscura, e agora é que eu percebo : Isto está prestes a tornar-se real...

Bring me to life- Slow UpdatesOnde histórias criam vida. Descubra agora