Eventualmente acabamos por descer após breves momentos de silêncio. A perna dele tocava ligeiramente na minha, o que não me incomodava de todo. Era um toque suave, e nada forçado.
Desci primeiro e Christopher seguiu-me. Quando chegamos ao chão seguimos para este, onde eu sabia que estaria o punhal. Apenas sabia. No caminho quis falar com ele, perguntar-lhe como sabia o que eu iria dizer mas ele falou primeiro, antecipando os meus passos.
- Evelyn, eu espero que saibas que estás em perigo. Não é fácil esconder a nossa verdadeira identidade mas não me parece que tenhas outra opção. - ele diz e eu começo a ficar confusa com a realidade. Consigo cheirar animais perigosos do lado Oeste e paro subitamente com o pensamento que Nina e o resto do grupo podem estar em perigo. - Que foi?
- Shiu.- digo, cheirando com mais força, sentindo que o odor se aproxima velozmente. Olho para a frente e vejo (não sei como nem porque) três cães raivosos na nossa direcção.- Corre.
As minhas pernas movem-se o mais depressa possível. Sei que eles se aproximam, além do odor, oiço as suas patas a baterem no chão e libertarem folhas e ramos minúsculos que se encontram à passagem. Christopher parece divertido enquanto me observa em pânico, perguntando para onde devemos ir.
Continuo a correr esperando que este esteja atrás de mim, e penso que se subir a uma árvore será mais fácil. Quem me dera ter asas como ele neste momento. Salto e num ápice estou no topo, desequilibrando-me ao aterrar num dos ramos que suporta o meu peso. Aterrei num dos mais fracos pelo que sou violentamente empurrada para baixo, caindo no seguinte e sentindo o meu pé a quebrar.
- Eu sabia.- a voz dele está calma, tranquila. Como se soubesse exactamente o que ia acontecer. Como se conhecesse as minhas capacidades melhor do que eu própria. Então, olhei para ele de lado, tentando entender o que deveria dizer ou fazer para explicar as duas grandes asas que se formavam nas minhas costas. Como é que eu as paro? Como volto a ser eu?
Adivinhando os meus pensamentos ele responde: esta és tu.
Sento-me, esquecendo-me da missão, esquecendo-me dos meus colegas e apenas pensando na cara terrível do meu pai quando descobrir que eu sou um dos seres que ele mais abomina. Sou o protótipo de monstro que existe nas mentes dos comuns mortais. Sou aquilo que destrói a sociedade. Mas por outro lado, não sou. Sou uma rapariga simples, sobrevivente num mundo repleto de doenças e pragas. Sou a suposta salvação para esta crise. Sou quem pode mudar os estereótipos. Sou eu.
Christopher senta-se ao meu lado, as nossas asas a tocarem-se levemente, mantendo uma distância de meros centímetros entre os corpos desenvolvidos e doridos dos treinos. Pelo menos o meu.
- Estás bem?- pergunta-me, fazendo-me lembrar por momentos Bryan. Eles tem tantas semelhanças que parece mentira. Mas Christopher tem uma certa empatia na maneira de se relacionar com as pessoas. Bryan é mais frio, Christopher é calculoso.
- Eu... eu não sei.- acabo por responder olhando para ele. Ele vira-se de frente para mim e sorri.
- Eu sempre soube que eras diferente. Eu sabia que a terceira fase ia revelar as tuas capacidades.- deveria ficar feliz mas só consigo estar assustada.- Não te posso revelar para já o que isto significa mas espero que saibas que estarei do teu lado, ao longo de todo este processo. Não te vou deixar sozinha.- ele aproxima-se ligeiramente e os nossos joelhos tocam novamente. Sinto um calor no peito inexplicável que faz as minhas asas moverem-se ligeiramente.
- Tenho medo.- confesso. Ele agarra a minha mão e por momentos não quero pensar no significado destas ações.
- Eu sei mas o medo leva-nos a fazer coisas fantásticas. Paralisa-nos e liberta-nos.
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Bring me to life- Slow Updates
Aléatoire"Tu podes ser tudo. Se visualizas uma coisa, eventualmente, acabas por a transportar para a tua vida. Alguns dizem que quem escolhe o nosso destino somos nós. Que todas as escolhas e consequências, recaem sobre nada mais nada menos, do que a nossa p...