Décimo Terceiro.

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Dirigimo-nos pelo escuro, sob vegetação alta que quase nos tapava a passagem. Christopher vai a frente, e sinto presenças humanas em todos os lados. Cheiro um fumo com grande intensidade e pergunto-me como pareço a única incomodada com tal cheiro.

- Onde estamos? - Nina perguntou a meu lado, e consigo sentir o anseio na sua voz à medida que caminhamos. Compreendo. Quando pensei a atividade noturna, um passeio pela floresta não estava de todo nos meus planos.

- Estamos a chegar. - ouvi um dos supervisores que veio connosco informar, enquanto os passos se tornaram mais urgentes e desesperados, esmagando as plantas do chão a uma velocidade superior. Aliás, nunca vi este grupo a mexer-se tão rápido. Nem nas simulações de treino com animais carnívoros.

Finalmente paramos, num relevo amplo e num espaço aberto que se enchia de caminhos a volta.

- Muito bem iniciados. Vamos começar a atividade. Há cerca de uma hora, um dos nossos supervisores, escondeu um punhal algures neste lugar. A vossa missão é encontra-lo.

- Parece fácil. - Jack disse a meu lado.

- Bastante simples não concordam? - Christopher pareceu responder ao seu comentário imprudente, com alguma irritação. - E seria, se o punhal não fosse apenas visível aos sentidos de Mutante.

Murmúrios confusos surgiram no ar e todos pareciam ligeiramente perdidos. Ao contrário de mim.

Era bastante simples. O punhal era "invisível" aos humanos e "visível" aos mutantes. Assim séria fácil descobrir quem adquirira suficiente conhecimento nestas duas fases para invocar as suas capacidades animalescas e quem se mantivera pela teoria, pois todos os que passaram até aqui tinham de saber o básico pelo menos.

- Quero pares por favor.- todos se deslocaram para a pessoa mais próxima, quer emocionalmente quer fisicamente enquanto eu mantinha o meu olhar com o dele. Nina aproximava-se a grande velocidade e ele desviou o olhar para lhe acenar afirmativamente com a cabeça.- Todos prontos? Podem começar.

Pronta? Sim, estou pronta. Não tenho é par mas estou pronta.

Dispersaram a uma velocidade surpreendente e eu olhei para todos os lados confusa. Parece que voltei ao secundário onde sou a última a ser escolhida. Até parece mentira mas nunca na vida me imaginei nesta situação. Eu até faltava as aula de ginástica para não lidar com a possibilidade de ser a última a ser escolhida. O medo da rejeição sempre presente. Prefiro não me sujeitar a isso do que sujeitar-me e ser desiludida.

- Anda comigo.-Christopher indica, fazendo um sinal com a cabeça para o seguir. Está a ir na direção mais sombria da floresta. As plantas estão a apodrecer e o cheiro a madeira seca desperta imediatamente nos meus sentidos. Tantas horas na biblioteca não poderiam ter feito isto.

Segui-o, fungando ligeiramente. Odeio este cheiro, está a dar-me dores de cabeça. Franzo a testa com fervor porque não consigo disfarçar e Christopher parece notar mas não se prenuncia apenas sorrindo ligeiramente.

- Temos de subir.- digo, olhando para um velho carvalho incrivelmente bem conservado. Preciso de fugir do cheiro, respirar ar puro, ouvir os grilos está a incomodar-me também e talvez tenha uma visão melhor da floresta de cima.

- Subir?- ele parece gozar comigo mas eu ignoro completamente, começando a trepar os diversos troncos. Ouço-o a subir atrás de mim e ficamos os dois no mesmo tronco ao chegar a uma altura consideravelmente alta.

- Este. O punhal está do lado este. É a zona mais escondida e não sei,tenho quase a certeza que está a este.- disse sem pensar muito no raciocínio. Parecia ridículo eu saber mas eu sabia.

- Sexto sentido. - Christopher afirma, sorrindo para o lado - Eu sabia Evelyn.

Olho para ele não compreendendo bem o que este diz.

- Ouve, tens de ter muito cuidado. A última fase do treino será aquela em que os Anjos Malignos serão revelados e os Completos também. E os Completos... morrem instantaneamente.

O quê?

- Porque é que me deveria preocupar? Não tem nada haver comigo.- ripostei, olhando para baixo, vendo os troncos a entrelaçarem-se uns nos outros e sem possível percepção do chão. A madeira no meu tronco era áspera contra as minhas calças e o frio parecia perfurar o meu tronco.

Eu sempre disse que não queria sentir nada intensamente. Mas agora tudo parece diferente.

Bring me to life- Slow UpdatesOnde histórias criam vida. Descubra agora