Quarto.

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Acompanhar? Mau.... 


Com uma carranca no rosto, dado a minha expressão de desagrado, segui aqueles gorilas incrivelmente irritantes e surpreendentemente humanos em direcção a uma carrinha. De dentro do veículo branco podia observar dois rapazes, um a olhar o teto e o outro a mexer nervosamente nos dedos, em constante movimento um contra o outro. 


Não me agrada isto. E não me agrada nada o céu escuro que indica que já devia estar a caminho de casa para o jantar. Quem vai lavar a loiça? 


Entrei e a porta foi fechada, abanando todo o veiculo. Ter-me-ia realmente irritado se o meu olhar não se tivesse fixado no dele mal me sentei.


Ele analisou a minha expressão e uma neutra encontrava-se nos seus bonitos traços.... Sei que ambos temos tanto a dizer, sinto-o mas não percebo porquê. Quem é este rapaz e que efeitos provoca ele em mim? 


Respirei fundo, sentindo um ar sujo a entrar para os pulmões e lembrando-me do fumo constante da cidade que, nos últimos tempos, tinha abafado por completo o cheiro a trigo, o ar puro. 


Sei que estamos em guerra com estas criaturas mas porquê? Qual é o objectivo?
- Olá.- ouvi a meu lado, a voz mais suave do que esperava, e tentada a não responder, mantive o olhar em frente. Não sentir, não sofrer. Não preciso de fazer amigos neste momento. - Estou a falar contigo, responde-me.

 
Respira. Respira fundo. 


- Estás-me a ouvir?! - a sua mão agarrou me o braço, e em vez de me irritar, bloqueei. Todo o meu corpo aqueceu por dentro, e congelei. Queria mandar-lhe parar mas um enorme nó tinha-se formado na zona da garganta, como se fosse sufocar a qualquer momento. 


Sacudi-o, não confiando na minha voz e agarrando a zona do braço onde ele me tinha tocado. Como se me tivesse magoado. Como se tivesse perfurado a pele. O que se passa comigo? 


- Ouve, eu só queria dizer-te que estamos a chegar e que não precisas de estar assustada. 


- Eu não estou assustada! - rosnei, não me sujeitando a olhar para ele. Que rapaz mais estranhamente fascinante. 


- Não precisas de ficar na defensiva, eu-
- Eu não estou na defensiva caramba! - Uma idiota. Era isso que eu era, e provavelmente, era isso que ele achava também. 


- Pareces na defensiva. Mas tudo bem, desculpa se interrompi o teu sossego sim? Realmente, lamento imenso. - O rapaz dignou-se a revirar os olhos e levantar-se enquanto eu me preparava para responder ao sarcasmo, com mais sarcasmo. Um contra argumento, ao seu argumento com uma resposta argumentativa, tudo na base do respeito.


Mas claro que isso não aconteceu, e eu tive de guardar as minhas brilhantes respostas para outra altura, ou quiçá, outra pessoa. 


A carrinha deslocava-se a uma velocidade constante, sendo que fomos projectados para cima umas quantas vezes ao longo do percurso, o que me leva a crer que o caminho não é de todo regular. 


A ansiedade começava a tomar conta de mim, e o olhar constante dele não me permitia relaxar nem por um segundo. Era de colocar os nervos de qualquer um à flor da pele. 


Chegando ao destino escolhido, nenhum de nós se levantou. Os dois rapazes com quem partilhara o espaço nos últimos minutos, olharam entre si, trocando mensagens e conexões mentais, de medo provavelmente. Acho ridículo, sinceramente. Cada um dos seguranças se posicionou ao nosso lado, e um cujo o peso deveria estar acima do normal, empurrou-o pelo ombro ao passar. 


- A miúda é tua. - disse com desdém. Miúda? Vá chamar miúda a outra! 


Caminhei para a frente, abrindo as portas traseiras sem qualquer autorização de uma identidade superior, e saltei da carrinha, embatendo no chão e levantando poeira. Óptimo, mais poeira... 


Todo o campo que se estendia a minha frente era sombrio, chegando mesmo a dar uma visão obscura ao lugar que contrastava com o escuro da noite. Um único armazém-fábrica que se estendia por uns longos metros tinha uma cor preta, ou provavelmente o contraste do céu dava essa impressão.


- Não precisas de ficar nervosa.- a voz irritante ( e sexy) disse a meu lado e eu cerrei os dentes.
- Eu não estou nervosa...- citei, e ele analisou-me cuidadosamente, enquanto a minha face atingia um tom carmim.


- É claro que não .- quando me preparava para responder, os seus olhos esbogalharam em completa expressão de pânico e senti-me tentada a perguntar o que se passava, a este completo desconhecido a meu lado.
- Segue-me.


- Tu não me dizes o que- e mais uma vez, o seu toque puxou-me paralisando novamente o meu corpo, levando-nos para trás do edifício.

Bring me to life- Slow UpdatesOnde histórias criam vida. Descubra agora