Décimo Quinto

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Às vezes penso no que deixei. Não é que fosse uma grande fortuna ou que a minha vida estivesse no espectro de estar completamente feliz mas pelo menos tinha deixado algo.

Aqui?

Sinto-me estupidamente incompleta. Claro que foi bom conhecer o Christopher e tudo mais mas sinto que falta uma parte enorme de mim dotada de consciência própria da minha condição. E das minhas capacidades.

Dou mais uma volta na cama, sentindo-me invadida pelo sono mas não o suficiente para desligar na totalidade.

Claramente, não me conheço o suficiente para prever que algo assim fosse acontecer. O desejo interior de ser algo mais afinal é uma realidade. Eu sou algo mais.

Mas por trás desse algo mais está a minha estúpida inconstância de querer que seja sempre tudo igual. Focarmos-nos em nos próprios deve ser das tarefas mais difíceis que existe. Aquela necessidade constante de procurar o desconhecido e de tocar nas outras pessoas, levemente, na sua mente.

Eu só queria atingir o auto-conhecimento. O suficiente para me sentir leve comigo própria ao ponto de aceitar as incongruências que pudessem surgir e evoluir como pessoa. Neste mundo, pobre e na sua maioria perdido, poderia existir a cura. Nós poderíamos ser a cura caramba.

Mais uma volta.

Talvez eu devesse fazer uma introspecção e perceber o que se passa comigo? Talvez não me esteja a esforçar o suficiente.

Levanto-me da cama imunda em que nos meteram, separada por espaços mínimos entre as amostras de anjos em formação para ir para a sala de treino. Preciso de mais. Preciso de respostas... não preciso?

Sei que é estúpido. Sei que esta não devia ser a minha preocupação fundamental agora. Mas eu sinto uma urgência estúpida de atingir o equilíbrio que só me parece possível através de treino. Treino da mente. Treino do corpo. Treino de auto-conhecimento.

Começo aos murros no ar. Uma e outra vez. A raiva a crescer dentro de mim por esta condição que não conheço. A necessidade de afirmação constante e o cansaço a acumular-se das duras semanas de treino. Sinto tudo turvo. E sem dar por mim, os meus olhos apagam-se enquanto sinto o meu corpo a cair no chão.

Estou em casa. Casa mesmo. Estou na parte de trás da pequena vivenda onde tenho a minha família e pertences. A casa de banho onde fazia as minhas necessidades noturnas encontra-se no meu campo de visão e tudo me parece estranho. Ando devagar para entrar, meio perdida no meio de um espaço que é só meu. Que conheço.

Tento sentir a presença de alguém mas não me parece possível eu sentir algo como isto. No entanto, o meu instinto diz-me para me dirigir ao quarto.

Assim o faço.

E ao encostar-me à ombreira da porta, ali está ele. Bryan. Sentado na minha cama, a olhar uma foto nossa. As lágrimas escorregam pela sua face e parece-me confuso. Confuso com a vida que nos separou de maneira imperceptível.

Será isto um sonho?

Eu preciso de o ver. Preciso de lhe tocar. Que ele saiba que está tudo bem.

Sento-me a seu lado e toco-lhe no braço levemente. Ele olha na minha direcção confuso, mas se não me vê. O seu olhar parece que está distante, as sobrancelhas arqueadas em confusão.

- Evelyn! - a voz é distante e familiar. Distante deste sonho.

E de repente acordo. Com Bryan no meu campo de visão.

Levanto-me apressadamente e cambaleio para trás, a dor na cabeça começar a surgir. Levo a mão à mesma rapidamente e tento arranjar coerência para este sonho.

- Tenho de o ver.

E assim fui.

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⏰ Última atualização: Jan 12, 2020 ⏰

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