Os pesadelos de Sally Jackson

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Sally Jackson estava sentada na poltrona, na sacada da mansão litorânea de Poseidon. Seu olhar estava perdido nas ondas que se chocavam com a praia. Sobre seu colo, estava um par de sapatinhos azuis, sua cor favorita. O presente havia sido um mimo do marido naquela manhã, logo quando chegaram a cidade, após deixar Nova Iorque.

Retornar foi difícil, especialmente para Calyce, que já havia tomado sua decisão de voltar para a ilha, aos cuidados de sua mãe. Lembrando-se disso, Sally corou levemente. Pensou como a ex senhora dos Oceanos sentia-se após ser trocada por uma mortal.

Apesar de que Poseidon lhe garantia que já não havia mais amor, ou nunca houve, no casamento entre eles. Mas que mulher, sendo deusa ou não, admitiria o fracasso em seu relacionamento?

Talvez, fosse difícil demais para ela compreender algumas coisas. Sendo mortal, iria envelhecer, seu bebê crescer e talvez se tornar um herói, como já explicaram. Sally não sabia se seria forte o suficiente para deixá-lo partir para aventuras perigosas. Mesmo sabendo que havia um deus responsável pelo acampamento. Embora sentisse que estavam omitindo o real motivo de um deus ter sido designado para ser diretor de um acampamento de meio-sangue.

Tudo isso girava na cabeça de Sally, que já estava cansada. Ela dormiu ali mesmo, e algumas horas depois foi despertada por um cheirinho agradável. A mesa na sacada estava decorada com frutas e comidas saldáveis. Poseidon estava de pé, ao lado da mesa, passando manteiga em um pão e colocando suco no copo. Ele virou-se e sorriu, seu sorriso sedutor. Sally fechou os olhos por um minuto, imaginando que fosse um doce sonho. Mas não, era melhor que isso, a realidade que lhe batia no rosto como uma brisa noturna.

— Vamos, dorminhoca. Está na hora de comer alguma coisa. Passou a viagem sem se alimentar. — Ele aproximou-se, com o copo de suco na mão e a entregou.

— Onde está Calyce? Gostaria de falar com ela, sabe... dar minhas condolências corretamente.

Poseidon a olhou carinhosamente, sentando-se ao lado dela, em outra poltrona, acariciou a barriga da mulher.

— Você é tão gentil, meu amor. — Ele suspirou, falando em grego, depois traduziu a frase, como sendo algum tipo de lição. — Calyce está trancada no quarto. Acho que o melhor seria deixá-la descansar.

Sally concordou e com um incentivo de Poseidon, ela decidiu comer.

***

Ela sabia que estava dormindo, sabia porque seu sonho era surreal demais para ser verdade. Estava com um bebê no colo, na praia, e uma onda gigantesca os cobriu. O bebê soltou-se dos braços dela e Sally tentou gritar desesperada, mas ela afundava numa espécie de redemoinho, enquanto o bebê nadava, Sally afogava-se sem chance de escapar, o mar a puxava para o lado mais escuro.

Sally despertou desesperada, buscando por ar, ofegante e o suor lhe escorrendo na testa.

— Querida. — Poseidon tentou tranquilizá-la, mas era quase que impossível. Ele pegou um copo de água sobre a mesa da cabeceira e a entregou. Sally não queria beber água, ela não queria sequer sentir o gosto da água em sua garganta. — Foi um pesadelo? Me conte.

— Novamente, o mesmo pesadelo. — Ela tentou explicar, mas sua voz estava trêmula, desesperada. Poseidon então pediu para que Sally não pensasse mais naquilo, a abraçou, tomando cuidado para não machucar sua barriga de sete meses.

Já fazia algumas semanas que ela vinha tendo pesadelos referente não somente a água, mas as vezes ela sonhava que voava e despencava de uma nuvem, ou que um cavalo alado a levava para bem longe e a atirava num vulcão.

Em todos os sonhos, nada ruim acontecia ao bebê, mas de fato, aquelas tristes imagens de Sally machucando-se deixava-o em pânico. Pensou em levá-la para o fundo do mar. Quem sabe um castelo especial para ela. Mas Sally era irredutível, não queria deixar a terra, não queria ir para o fundo do mar. Só de pensar nisso ela sentia calafrios. Então não havia muito o que ser feito.

A História De Sally JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora