Reencontros

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Era a segunda semana de aula e Sally estava atrasada. Não porque dormiu mais do que devida. Ao contrário. Acordava todos os dias uma hora mais cedo, justamente para não correr o risco de se atrasar. Mas naquela manhã o metrô decidiu fazer um treinamento para verificar as saídas de emergência e outras situações de perigo.

Ela não culpou ninguém, já que nos últimos tempos "desgraças" estavam pipocando pela cidade. A névoa deu conta de distorcer a verdade.

Sally caminhou apressada pelos corredores da universidade. Ela chegou a sala de aula, aliviada porque o professor de História da Arte ainda não estava presente.

Sally Jackson se sentou em uma cadeira mais ao fundo da sala, onde sobrara lugar para sentar. Aquela era a primeira aula de Sally, infelizmente ela perdeu as primeiras aulas da outra semana, porque estava confusa com os horários. Um pouco eufórica, acabou pegando mais matérias do que poderia assistir. Por isso, decidiu trocar as aulas de Filosofia para História. Depois iria correr atrás das demais matérias perdidas.

Sally achou um pouco utópico o fato da primeira e segunda fileira de cadeiras estarem já completas. Jovens e não tão jovens garotas estavam lá, atentas a seus espelhos de mão, batom e rímel. Algumas falavam no celular, outras liam um livro.

Ela observou os rapazes mais ao fundo, conversando sem importar-se com aquele burburinho na parte da frente da sala. Mas, assim que a porta se abriu e uma mulher entrou, eles esqueceram o que conversavam. Todos sentaram-se em suas cadeiras, dando largos sorrisos e olhares concentrados no vestido comportado da mulher, que, embora fosse discreto, sua beleza era ressaltada naturalmente.

Sally sentiu o ar faltar de seus pulmões. Ela segurou uma caneta com tanta força que quase a quebrou ao meio.

A mulher que acabara de entrar sentou-se na mesa lateral do professor. Assistente, talvez. Mas ela era muito semelhante a alguém conhecido de Sally. Não era como se ela fosse esquecer daquela combinação de cabelos loiros, pele bronzeada e olhos da cor do mar.

— Calyce. — Sussurrou Sally Jackson, sentindo suor na palma da mão. Embora a maior surpresa ainda estava por vir.

A porta se abriu novamente e o professor entrou.

Sally soube que ele era o professor porque um coro seduzido disse ao mesmo tempo o nome dele, completando o desespero da morena.

— Bom dia todos. — O professor disse, colocando uma pasta de couro sobre a mesa, ele deu uma olhadinha para Calyce e bateu as mãos na frente do corpo. — Prontos para uma aula de História Greco Romana?

— Sim, Professor Poseidon. — Todos disseram ao mesmo tempo, tal como se fossem uma sala do primário.

— Ótimo. — Ele virou-se procurando um giz para escrever na lousa.

Sally, em sua carteira, estava sentindo o coração saltar para fora da boca. Vê-lo, depois de tantos anos, causou-lhe uma comoção interna. Depois de um tempo, acreditou que seu coração havia descansado e agora aquele amor era apenas uma bela lembrança do passado. Mas estava óbvio que não era bem assim. Deveria estar apenas morno, escondido, aguardando o momento certo para saltar e dar uma paulada na sua cabeça, gritando aos sete ventos que ainda existia.

Enquanto Poseidon escrevia na lousa e Calyce parecia mais interessada no laptop à sua frente. Sally reuniu seu material e decidiu deixar aquela aula antes que fosse reconhecida. Seja lá o motivo que os levou ali, fosse por brincadeira ou por falta do que fazer em suas vidas imortais, ela não estava interessada em saber e muito menos participar de algum tipo de farsa.

— Senhorita, onde está indo? A aula apenas começou. — A voz de Poseidon fez a alma de Sally congelar e quebrar, criando uma chuva de cristais dentro de si. Ela virou-se e com um sorriso nervoso disse que estava na sala errada. — É mesmo?

A História De Sally JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora