As mudanças iniciam

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Sally jogou fora o teste de gravidez, ela amarrou o saco de lixo e levou-o para a lixeira do prédio, logo veio o caminhão para fazer a coleta. Ela retornou para o apartamento e ficou lá durante todo o dia, ignorando o telefone tocando. Repassou mentalmente os planos que havia feito para o final do verão. Tudo mudaria a partir dali.

Sentiu medo. Medo do desconhecido, do futuro.

Ela acariciou a barriga e depois sentou no sofá e pesquisou na lista telefônica. Precisava de um médico para aconselhá-la. Encontrou um telefone, e marcou uma consulta. Ela pagaria pela consulta com o dinheiro que havia guardado para comprar novos materiais para a criação de suas bolsas.

No final do dia, Dalila chegou cansada. Ela caiu no sofá e esticou as pernas sobre a mesa de centro. Sally estava no banheiro, ela pode ouvir a amiga falar sobre o que fez naquele dia, e que não imaginava que Calyce fosse responsável por tantas coisas.

— Você sabia que ele trabalha com importação? — Ela perguntou, folheando uma revista.

— Na verdade não. — Sally sentou ao lado de Dalila.

— Também trabalha com minério e pesca.

— Então é por isso que ele disse que precisa viajar muito. — Sally suspirou.

— Você é uma mulher corajosa. Abrir mão do que ele propôs...

— Não foi tão difícil, porque o que eu mais desejei ele não propôs. — Ela não poderia mais esconder a verdade. Dalila era única pessoa conhecida e que poderia confiar. Não havia mais ninguém.

A primeira reação de Dalila foi parabenizar a amiga, abraçando-a e alisando sua barriga ainda que fosse uma barriga sem sinais de gravidez. Mas logo depois caiu a ficha. O filho de Sally seria um meio-sangue. E ela mal sabia o risco que aquilo significava.

— Quando você contará para ele?

— Não sei. Não posso simplesmente dizer que estou grávida e esperar que ele faça alguma coisa.

— Mas... Sally. — Dalila não poderia deixar que Sally corresse perigo sozinha. — Ele precisa saber, é o pai.

— Por favor, não diga nada a respeito com alguém. Eu preciso ainda saber o que fazer.

— E a faculdade? — Dalila perguntou, mas já sabia qual seria a resposta, pelo menos teve a certeza quando os olhos de Sally ficaram marejados. — Sinto muito Sally.

— Quando o verão acabar vou para Nova Iorque e com o dinheiro que eu guardei posso alugar um pequeno apartamento, pelo menos até conseguir um novo emprego.

— Como você vai trabalhar grávida?

— Não sei. — Sally não conteve mais as lágrimas. — Eu não sei, mas não posso abandoná-lo. Sempre sonhei em ter um filho, não nessas condições, mas ele não tem culpa dos erros dos pais. Não quero que meu bebê passe pelos mesmos problemas que eu. Quero que ele tenha uma boa vida, e se depender de mim, trabalharei dia e noite para dar um pouco de conforto.

Sally deixou a sala, sentiu-se mal e decidiu tomar um banho para ver se melhorava.

Dalila sabia que o segredo de Sally não poderia ser guardado.

Sua vida e a do bebê corria riscos. Então ela decidiu procurar pelo deus dos mares. Poseidon estava na sorveteria, ele e Calyce tomavam um sorvete juntos quando Dalila chegou e pediu para conversarem em particular.

Foram para a parte de trás da sorveteria, onde era o depósito.

Enquanto a jovem contava o segredo de Sally, Poseidon prendeu a respiração. Calyce o olhou séria, sabia que o deus havia quebrado um acordo com os irmãos.

— O que você vai fazer? — Perguntou Dalila com os braços cruzados, aguardando uma boa resposta vinda do deus dos mares.
Poseidon coçou a cabeça, dando um longo suspiro.

— Infelizmente não posso fazer nada.

— Como assim? Você ouviu o que eu acabei de dizer? Ela não poderá mais ir para a faculdade, não tem dinheiro para se manter por mais de um ano. Como vai trabalhar e...

— Dalila, por favor. — Calyce tentou acalmá-la. — As coisas não funcionam assim.

— Mas ele é o pai da criança. — Dalila apontou para Poseidon. — Onde esta sua responsabilidade agora?

— Ele não pode revelar que é o pai da criança. Se o reclamar agora, vai ser morto antes mesmo de nascer.

— Que tipo de deuses são vocês? — Irritada, Dalila bateu a porta quando saiu.

Calyce esfregou os olhos com seus dedos finos, ela não disse nada, viu que Poseidon já estava abalado demais para ouvir novas cobranças. Mas ele estava com a cabeça fervendo pensando no que fazer.

— Não posso deixá-la. Não posso permitir que ela passe por isso sozinha.

— O que pretende fazer? Se seus irmãos souberem sobre ela... pode ser pior.

— Eles não precisam saber. Só preciso arrumar uma forma de Sally aceitar minha ajuda.

— Uma proteção? Só se ela entregar o bebê ao acampamento meio-sangue, quando ele nascer.

— As humanas não são assim tão desapegada a seus filhos. Não sei se ela vai aceitar ficar longe dele.

— Mas se for a única forma de mantê-lo vivo?

— É. Talvez. — Poseidon deixou a sorveteria naquele momento, ele tinha uma leve sensação de que poderia encontrar-se com Sally na praia. E estava certo.

Sally caminhava pela praia, solitária. Poseidon ficou ao longe, admirando-a. De vez em quando ela alisava a barriga e olhava para o mar. Seus cabelos ao vento, e a saia longa movia-se. O que ele poderia fazer par Sally acreditar em sua palavra? Como dizer que ela corria perigo por carregar seu filho no ventre?

Sally caminhou em direção aos rochedos, ele sabia que ela gostava de sentar-se ali para ver o por do sol. Havia uma forma de fazê-la acreditar. Bem, ele poderia tentar.

O deus dos mares então foi em direção ao mar e mergulhou na água.

Sally observava o horizonte, ela tentou afastar pensamentos negativos, leu uma vez em uma revista que isso não fazia bem para o bebê. Ela fechou os olhos, respirando fundo, passou a mão na barriga e ao abrir os olhos novamente, alguma coisa no mar vinha em sua direção. Sally achou que deveria estar dormindo e tudo aquilo era um sonho. Porém, não era sonho. Havia alguém caminhando em sua direção, alguém caminhando sobre as águas

A História De Sally JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora