Provocações

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POV CHERYL

Uma das coisas mais importantes que aprendi após começar a visitar crianças com câncer em hospitais, foi o valor que devemos da a cada coisa que acontece na nossa vida, até as mínimas coisas, tudo tem valor. Eu aprendia muito com aquelas crianças. Eu via o quanto elas ficavam felizes com tudo, eram ensinadas a ver sempre o lado bom da vida. Um acontecimento pode ser horrível, mas podemos tentar ver o lado bom dele e focar ali. Eu estava aprendendo a dar valor a tudo com elas, apenas crianças que não poderiam ter tanto tempo assim, crianças que queriam viver mais, mas o câncer as dominava, a cada dia mais um pouco. Aquilo partia meu coração em pedaços.

Era nisso que eu estava pensando agora, o que eu mais pensava. Crianças. Eu sempre me dei bem com elas e agora visitando hospitais e orfanatos com Zayn, isso havia piorado um pouco. E o pior era que eu queria uma, era absurdo? Podia ser. Que mal me faria? Muitos. Mas quem se importa?

As vezes a vida nos da chances que é um pecado não aceitar. Gosto de pensar assim: se a gente faz o que manda o coração, lá na frente, tudo se explica. Por isso, faço a minha sorte. Sou fiel ao que sinto.

Eu pensava em Toni também. Não podia negar, eu estava apaixonada por ela. O que você pode dizer? "É loucura estar apaixonada por sua irmã." "É loucura querer ter um filho com ela". Quem se importa? Eu nunca disse que era normal, que me encaixava perfeitamente nesses costumes da sociedade. Você está apaixonada e pouco importa a sua idade, se você tem 16 ou 26 anos, ou até 76.. Você sempre vai ter sonhos, sempre vai querer ter tudo com aquela pessoa. Casa, família, uma vida legal, coisas legais para se fazer. Você só quer estar junto a ela e nada mais importava.

Toni estava sim grávida de um filho meu, eu poderia ser mãe aos 16, ou podia não ser. Deixei que ela tomasse essa decisão, não queria pressiona-la a ter por mais que aquele fosse o meu desejo. A escolha era dela. Eu não deixaria que Toni fizesse aquilo apenas porque eu queria, eu me importava somente com a felicidade dela. Então deixei que ela optasse por ter ou não.

A maior tortura era: Ela já estava com dois meses de gravidez e não havia se decidido. Era torturante não saber se eu podia ou não ficar feliz com aquele bebê. Ela não me dizia nada, mas eu podia ver que ela estava mais cuidadosa. Pediu para que eu fosse no médico com ela e me senti feliz ao vê-la interessada em saber sobre gravidez. Toni quis saber sobre como faria se quisesse abortar e a médica explicou tudo a ela.

Eu fazia a minha parte de cuidar dela. Toni tinha alguns problemas e eu ficava perto dela 24h por dia fazendo de tudo para que ela não chorasse ou perdesse o controle. Estava cuidando muito de sua alimentação, apesar de que sua fome estava ainda maior e eu precisava controla-la. No fundo eu queria mesmo que Toni se alimentasse bem, mas como ela tinha problemas com bulimia, eu estava a ajudando a comer apenas o necessário para que ela ficasse bem e o bebê também. Se Toni continuasse forçando para vomitar e se alimentando mal poderia ter um aborto espontâneo e deveríamos ser cuidadosas quanto a isso.

Betty e eu estávamos indo atrás de obstetras para nos manter informadas sobre tudo isso. Betty era maior de idade e estava sempre nos acompanhando junto com Ally. Elas estavam do nosso lado nisso e era bom.

Toni não tinha dito ainda se abortaria ou não, nem falava muito sobre o bebê e eu me sentia receosa de falar também. Mas pelo menos entre nós duas as coisas estavam fluindo. Dormíamos juntas todos os dias, até quando papai e mamãe estavam em casa. Eles nem desconfiavam de nada já que nós duas sempre ficamos dessa forma. E as vezes era um saco não conseguir parar de pensar nela.

- No que está pensando? - Zayn perguntou e fechei meu armário num susto. As aulas haviam acabado e eu teria natação agora, mas eu não iria, pois Toni tinha ido embora mais cedo por estar enjoada e eu teria que ir cuidar dela.

Adotada  - ChoniOnde histórias criam vida. Descubra agora