POV TONI.
Aquela madrugada deveria ser só mais uma normal como todas as outras, mas não, eram quase cinco da manhã e eu estava sentada na cama sentindo um desconforto enorme no peito. Acordei dessa forma e não conseguia dormir mais. Me sentia um pouco desesperada, ansiosa e preocupada sem um motivo aparente. Já tinha andado pela casa, já tinha ido no quarto de Theo e Kalleb para checar se estava tudo certo, mas eles pareciam estar dormindo bem. Eu só queria saber o que era aquilo.
Desde o dia em que eu e Toni tivemos uma "recaída", que eu mal conseguia me concentrar nas coisas. Desde então eu não a vi e isso me preocupava. Por mais que tivéssemos nossos problemas, Cheryl nunca deixou de ver as crianças e ser a melhor mãe pra eles. Mas nesses dias não houve nem uma ligação.
Estava nítido pra mim que o estado dela era deplorável. Nos separamos a dois anos atrás e desde então vi Cheryl mudar da água pro vinho. No começo fiquei com raiva, achei que ela não pensou em mais ninguém quando desapareceu. Só nela mesmo. Mas a gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros.
A depressão a tomou de uma forma que nem ela mesmo se reconhecia. Ela chegou a tentar ir em um psicólogo, mas logo desistiu. Era sempre assim, ela começava algo, e desistia. O pior era vê-la assim e não saber como agir. Cheryl fugia de mim como o diabo fosse da cruz. Eu tentava de alguma forma ajudar, mas não era fácil assim, ela precisava querer se ajudar também, mas Cheryl estava entregue a isso. O pior era não saber o que esperar, eu sentia medo do que ela podia fazer. Uma pessoa depressiva no nível que Cheryl estava não era de se surpreender se cometesse um suicídio.
Isso me destruía por dentro. Ter sempre esse medo dentro de mim de receber a notícia de que a garota que mais amava nessa vida tinha escolhido ir embora. Doía em mim vê-la se matando ao poucos ao invés de estar em casa com nossos filhos. Olhei para o chão da sala e senti meus olhos arderem, foi como se eu tivesse voltado no tempo. Cheryl estava ali deitada no meio das almofadas no chão assistindo desenho com Theo. Ela cantava a música de abertura do "Meu amigãozão" toda e Theo sorria. Como eu adorava admira-la com nosso filho, eu ficava o tempo todo babando vendo o quão dedicada Cheryl era. Eu sentia saudades disso.
O que a depressão podia ser capaz de fazer? O que os traumas e mágoas podiam fazer com nosso psicológico? O quão trágico poderia ser para todos a sua volta? Ver você se afundando e não poder fazer nada, a decisão tem que ser sua. Todos tentaram ajudar Cheryl por um longo tempo, mas ela não tinha forças. E eu a entendia, entendia suas atitudes, nunca podemos julgar o que passa dentro dos outros.
Escutei um barulho fora de casa e quase dei um pulo do sofá. Afastei a cortina e olhei pela janela, mas não vi nada. Acendi as luzes do quintal e abri a porta olhando para todos os lados procurando por algo que não encontrei. Dessa vez escutei alguém tossindo e meu coração veio na boca. Tinha alguém fora do portão. Eu estava com medo, mas a curiosidade era maior. Entrei novamente e peguei as chaves do portão. Fechei a porta atrás de mim devagar e fui andando, girei as chaves na fechadura e abri.
Sabe quando você toma um soco bem na boca do estômago e sente aquela dor insuportável? Aquela falta de ar que aparece muito rápido? Então, era o que eu estava senti ao ver Cheryl quase deitada no portão da minha casa. Eu cheguei a demorar uns dois segundos pra raciocinar que era ela. Estava quase deitada se apoiando em um cotovelo. Usava um conjunto de moletom cinza todo sujo de alguma coisa. Ela levantou sua cabeça para encarar e meus olhos não foram capaz de aguentar. Eu sentia agonia de olhar pra ela, meu peito subia e descia, eu não conseguia controlar o meu choro. Meu corpo completamente inquieto com a força que eu chorava.
Me abaixei perto dela e nossos olhares se encontraram. Levei uma das mãos até seu rosto e chorei ainda mais enquanto alisava. Os olhos dela muito vermelhos dentro e em volta, sua olheira era quase roxa assim como sua boca. Ela parecia fraca demais, parecia não aguentar o peso do próprio corpo.
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Adotada - Choni
FanfictionToni Topaz é uma adolescente popular, conhecida po onde passa, mas tem sérios problemas com bulimia. Ela é irmã mais velha de Cheryl, que é adotada. Por conta de desejos inesperados e acontecimentos turbulentos, as duas vão descobrir que o amor que...