Capitulo 1

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Adentrei a taberna do povoado onde estava instalada, o cheiro de cerveja e corpos suados do lado de dentro contrastava com o de mijo que pairava do lado de fora do local, era os confins de uma aldeia um pouco maior que o normal. Costumava passar minhas noites em tabernas como essa, normalmente arranjando brigas com bêbados por puro tédio mas hoje eu tinha algo a fazer.

Me sento em uma das mesas no fundo do taberna onde eu tinha a vista de todas as mesas e da única saída, nada passaria despercebido aos meus olhos.

– Scarlett Walker, pensei que fosse mais velha - o homem que havia acabado de sentar na minha frente se refere a mim pelo o nome que tomei aos dezesseis anos, logo após "me juntar" aos assassinos.

Ele estava claramente deslocado, suas vestes eram novas, caras e limpas demais o faziam destacar na multidão, deixando claro a todos que ele não pertencia aquele lugar, além disso o tornava um ótimo alvo a ladrões, nada sutil e nada inteligente não se parecer com o restante dos bêbados.

– Pensou errado, da mesma forma que pensou se uma boa ideia sentar ai e tampar minha visão -digo passando os olhos pela multidão, alguns prestavam bastante atenção no homem a minha frente.

– Oque? -ele perguntou se inclinando um pouco para frente e franzindo o cenho realmente confuso.

– Saia da minha frente. -falo com a voz firme e sem qualquer emoção aparente.

– Ah, certo -ele se levantou da cadeira a minha frente e se deslocou até o meu lado, destrambelhado demais –Pensei que seria de bom tom manter uma certa distância.

– Manter distância não vai te fazer parecer casual ainda mais com as roupas que esta usando.

– Oque tem minhas roupas?

– Limpas demais, novas demais, caras demais. -listei

–Eu deveria vir parecendo um mendigo?

– Sim, você esta praticamente gritando aos ladrões que é rico e quer ser roubado. -não me movi para olhar nem um centímetro mas tinha feito um retrato perfeito de todos os traços de seu rosto apenas o analisando pela minha visão periférica.

Tinha cabelos ruivos, outra coisa que o destacava, os olhos eram cinza e amendoados ou talvez só estivessem arregalados pela situação, seu corpo era esguio, sem muitos músculos mas não magricelo, relativamente bonito, beleza comum, não havia nada que o destacasse dos demais a não ser o cabelo e as roupas caras.

– Vim até aqui receber dicas de moda?

– Veio até aqui porque quer um serviço então porque não diz logo oque quer para que eu te diga a quantia e faça oque vim fazer? -meu tom é afiado e firme

– Me disseram que você mata até feéricos, isso é verdade ou só história pra criança obedecer a mãe?

– Me pagando a quantia certa eu mato até deus pra você.

– Foi assim que conseguiu essas cicatrizes?

– Você faz mais perguntas que uma criança, me admira com essas roupas ninguém ter te ensinado bons modos. -ainda não tinha olhado diretamente em seus olho, estava prestando atenção na movimentação das pessoas e o homem ao meu lado reparou nisso.

– Algum movimento suspeito?

– Todo movimento aqui é suspeito, me diz logo oque quer pra eu parar de ser suspeita, você está trazendo atenção errada em minha direção. 

– Se eu disser oque quero você vai parar de me cortar?

– Provavelmente não. -o homem suspira  ao meu lado e se encosta na cadeira forçando uma postura relaxada.

– Quero que mate o general Denner Williams.

– Williams é cercado por soldados até quando vai ao banheiro -não que ele precise mas sabe que é um homem odiado –Não vai sair barato.

– Diga seu preço. -ele pela primeira vez diz em tom firme

– Oitenta e oito moedas de ouro. -o homem arregala os olhos e vira seu corpo em minha direção.

– Oque? Ficou louca?

– Eu disse que não seria barato. -dou de ombros

Denner Williams é o general do exército da Rainha, o homem mais temido da região, conhecido por sua crueldade, ele foi visto milhares de vezes por aldeias como esta, estuprando mulheres e distribuindo chibatadas a crianças por roubarem maças ou uma garrafa de leite para saciar sua fome, tudo isso sem o consentimento da rainha mas ninguém seria louco o bastante para contar as aventuras do general nas aldeias.

– Quero que mate o general não o exército inteiro -ele diz indignado e me viro para encara-lo pela primeira vez

– Pra eu matar o general vou ter que entrar no quartel e matar pelo menos dez soldados só pra chegar nele -disse o encarando – Se não tem como pagar faça o serviço você mesmo.

– Feito. -ele diz depois de alguns segundos me encarando –Vou pagar as oitenta e oito moedas.

Ele conta quarenta e quatro moedas e a coloca num saco de pano me entregando em seguida, tentando ser discreto mas graças a mãe a essa altura os bêbados tinham parado de prestar atenção nele.

– Oque Williams fez pra querer ele morto? -volto meus olhos outra vez para a multidão guardando o saco que foi entregue

– Ah olha quem está fazendo perguntas agora -ele diz em tom leve

– Você se intrometeu em tantas coisas que tenho direito a uma pergunta. -digo em tom calmo dando de ombros

– Preciso de motivos para querer um homem como Denner morto? -não foi exatamente uma pergunta, apenas sorri de lado.

– Com certeza não será um incomodo mata-lo -dei de ombros

– Não se incomode em ser rápida também -concordo com a cabeça, eu não teria sido mesmo se ele não tivesse falado aquilo –Já posso pular as formalidades e te convidar a minha cama?

– Se quer uma cortesã deveria ir a um bordel, se não me falha a memória tem um do outro lado da rua -de volta ao tom firme

– Cortesãs não fazem o meu estilo, prefiro as que não se deitam com qualquer um.

– Se eu me deitasse com você... -me viro para ele novamente –Estaria me deitando com qualquer um.

Me levanto da cadeira sem me incomodar em ajeitar qualquer parte da minha roupa e deslizo por entre os bêbados desviando de todos em meu caminho.

Saio da taberna sem ao menos ser vista por qualquer um deles.

Minha calça de couro, a jaqueta e o manto simples que cobria meus ombros desde sai do calor da taberna isolavam relativamente bem meu corpo do frio proporcionado pela noite que pairava no beco.

– Saiu de lá porque se sentiu ofendida com o meu convite? -o homem diz saindo da taberna com um patética corridinha em minha direção

– Sai de lá porque os guardas chegaram pra investigar a briga generalizada que comecei ontem. -continuo andando sem olhar para a direção dele –Me encontre aqui em dois dias com o restante do meu pagamento ou vou atrás de você também, Collin Davis. -eu havia descoberto seu nome de nascimento minutos depois de ele passar pela porta da taberna.

Logo ouvimos gritos de ordens aos soldados para que não deixassem ninguém sair e barulho de coisas quebrando, num piscar de olhos eu atravesso entre as sombras do beco deixando Davis para trás.

Corte de chamas e pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora