Capitulo 98 1/2

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Passei as horas após a invasão ajudando os feridos, contando corpos, deixando que as familias se despedissem como quisessem e depois reduzindo os corpos a cinzas.

Algumas familias decidiram por guardar as cinzas de seus entes queridos em urnas de porcelana, outras deixaram que fossem levadas pelo vento mas todos tinham uma coisa um comum: O choro.

Passei o fim da tarde e o inicio da noite ouvindo choros desesperados e desamparados, mães e pais que perderam seus filhos, maridos que viram suas esposas serem estupradas e mortas em sua frente, fêmeas sobreviventes das violações que sofreram, mas só em corpo, suas almas tinham sido despedaçadas e mortas durante a batalha.

Passei na loja onde Iran trabalhava, seu amigo, estava jogado ao chão, seu lindo rabo negro de pantera tinha sido arrancado e enrolado em seu próprio pescoço, um pouco abaixo, em sua garganta, havia um corte tão fundo que quase foi capaz de arrancar sua cabeça, olhos e orelhas também foram arrancados, tudo de exótico, tudo oque o destacava dos demais foi arrancado dele de maneira cruel.

Era um bom macho e um bom amigo, se sacrificou por Iran, conseguiu tempo para ela, mesmo que pouco, foi o suficiente e eu seria eternamente grata.

Hoje, quando deitasse em minha cama segura e confortável, eu pediria a mãe e ao caldeirão para que amparassem aquelas almas desesperadas que perderam pessoas amadas mas que amparassem também aquela gente do bem que morreu hoje, aqueles que, assim como o Cortez, se sacrificaram para dar tempo a outros.

- Velaris está segura - disse Rhys, as altas horas da noite - Os encantamentos que o Caldeirão tirou foram refeitos.

Nenhum de nós tinha parado a fim de descansar até então. Durante horas, trabalhamos, assim como o resto da cidade, para curar, para emendar, para caçar respostas de qualquer forma possível. E agora, estávamos todos reunidos de novo; o relógio soava 3
horas da manhã.

Rhys se encostava na lareira da sala de estar. Feyre quase caía no sofá ao lado de Mor, as duas cobertas de terra e sangue. Como o restante de nós.

Cassian estava jogado em um poltrona feita para asas illyrianas, eu me sentei atrás dele, dividindo a poltrona, o Illyriano recostava as costas em meu peito, deitando a cabeça em meu ombro. Ele exibia uma expressão arrasada e se curava devagar o bastante para que todos nós soubessemos que tinha drenado seu poder durante os minutos em que defendeu a cidade sozinho mas os olhos cor de avelã ainda brilhavam com as chamas do ódio e eu não achava que os meus estivessem diferente.

Amren não parecia muito melhor que nós. As roupas cinzentas da fêmea estavam em frangalhos e a pele por baixo era pálida como neve. Quase dormindo no sofá ao nosso lado, ela se encostava em Azriel, que vira e mexe lançava olhares alarmados para ela, mesmo que seus próprios ferimentos ainda sagrassem um pouco. No dorso das mãos cobertas de cicatrizes, seus Sifões azuis estavam apagados, mudos. Completamente drenados assim como os de Cassian.

- Velaris pode estar segura -disse Cassian, sem se dar o trabalho de levantar a cabeça de onde ela repousava em meu ombro. - Mas por quanto tempo? Hybern sabe sobre este lugar, graças àquelas rainhas. Para quem mais vão vender a informação? Quanto tempo teremos até que outras cortes venham xeretar? Ou até que Hybern use aquele Caldeirão de novo para derrubar nossas defesas?

- Segura... -comecei - Derrubaram as defesas que protegeram a cidade por mais de cinco mil anos como se sequer existissem, mataram pessoas, estupraram mulheres dentro de suas próprias casas -não me dei ao trabalho de parecer agradável ou amigavel -Responda, Rhysand, acha que algumas dessas pessoas vão, em algum dia, se sentirem seguras aqui denovo?

- Agora não Kendra -Mor pediu esfregando a testa.

- Agora sim. -franzi o cenho para ela me ajeitando na cadeira - Eu disse que elas nos trairiam, disse que essa maldita gente não pensa em nada além de poder, disse a ele que deveriamos mata-las antes que saissem da casa, que elas estavam enganando ele, eu avisei, mas ele não me ouviu, ninguem me ouviu e aqui estamos nós.

Corte de chamas e pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora