Capitulo 120

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Elain

Era como se minha cabeça desligasse a maior parte do tempo, os dias se passavam tão rápido que eu mal via ou sentia, apenas sei que o dia terminou quando vejo o sol se pôr no horizonte e a escuridão toma conta de tudo, então corro para cama, para talvez me sentir segura.

É escuro, dentro do Caldeirão, uma escuridão sem começo ou fim, é o infinito e o nada ao mesmo tempo.

Todas as noites, quando o sol se põe, me sinto ser engolida pela escuridão do caldeirão outra vez, sinto a dor escruciante dos meus ossos humanos se tornando feéricos, como se os esticassem e moldassem por baixo da minha pele.

Sinto não ter voltado desde que emergi.

Desde que fui imersa naquela água negra, é tudo um monte de nada.

– El, posso entrar? -a voz de Kendra soou exitante do lado de fora.

Não sei porque ela me ajudava depois de tudo oque fiz, não sei porque ela se dava o trabalho de vir ver se estou viva quando nunca fiz o mesmo com ela.

Me arrependo. Me arrependo de tê-la tratado mal, me arrependo de não ajudar com as coisas de casa porque mesmo com tudo oque fiz... Kendra não guarda rancor de mim.

Eu não mereço seu cuidado.

A porta se abriu devagar e o cheiro de Kendra preencheu o quarto, a essa altura, era a coisa mais reconfortante que eu podia fareijar.

Nestha tentava me ajudar tanto quanto Kendra mas eu sabia que ela estava tão machucada quanto eu.

– Trouxe mingau para você -ela disse se aproximando

Apenas o cheiro de comida faz meu estômago se revirar.

– Não tenho fome -me forcei a responder

– É... eu sei -ela suspirou puxando um banco para se sentar a minha frente –Sei como se sente El, sei que não quer fazer nada, sei como é querer deixar de existir.

Quando disse aquilo, desviei meu olhar da janela para ela, a observando.

Havia sinceridade em seu olhar.

Me pergunto quando sentiu aquilo, se foi enquanto estava desaparecida, ou antes, e não percebi, não prestei atenção quando pedia ajuda.

– Eu entendo El, conheço sua dor, sei como é dificil sequer respirar, me deixe ajudar você, por favor, coma nem que seja pouco. -ela pediu – Pode fazer isso?
Só pouquinho e eu paro de insistir por hoje.

– Só um pouquinho -assenti e pude notar alivio percorrer seu corpo.

Me senti como uma criança quando ela deu o mingau em minha boca, mas não me importei, sei que não comeria mais de duas colheres se comesse por conta própria, isso deixaria ela triste.

Eu posso ver como ela se preocupa, como vem aqui todos os dias, não entendo o porque faz isso, porque ainda cuida de mim. Nestha também o faz, Feyre vem de vez em quando mas Kendra...

Ela sempre foi fechada, mesmo quando criança, mesmo que brincasse e conversasse com a gente, nunca deu abertura para sabermos oque sentia e depois que cresceu ela se fechou mais.

Acho que era por causa das brigas, nossa mãe sempre brigou com ela muito mais que com qualquer uma de nós, não me lembro o motivo, mas ela estava sempre gritando com Kendra, sempre a mandando descer, não sei para onde, mas mamãe sempre dizia:

"Resolveremos isso lá embaixo, suma da minha frente"

Eu nunca soube oque significava, mas sei que "descer" era algo ruim, o rosto de Kendra sempre estava carregado de medo quando mamãe dizia aquilo.

Corte de chamas e pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora