Capitulo 35

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Haviam se passado algumas semanas desde que eu tinha vindo para a corte noturna, Feyre não tinha entrado em contato comigo nem uma única vez, presumi que ela não precisava de ajuda mas ainda sim algo ruim se agitava em meu corpo ao lembrar que a deixei naquela corte.

Rhysand traria ela até a aqui outra vez, uma semana para cumprir o acordo, ele tinha acabado de atravessar para a Corte primaveril quando Cassian apareceu para me treinar.

– Bom dia Kenken -ele disse adentrando a sala de estar.

O abracei.

– Ei, oque aconteceu? -ele perguntou preocupado mas me abraçou de volta.

Uma de suas mãos amparava minha cabeça, a outra alisava minhas costas com suavidade.

– Rhys foi buscar Feyre hoje -disse em tom baixo. –Vou passar a semana com ela

– Certo, tudo bem -ele diz no mesmo tom que eu –Quer que eu voe com você até lá?

– Não precisa, só me tire daqui da casa, posso atravessar do fim das escadas.

Então Cassian me pegou no colo, uma das mãos segurava meus joelhos e a outra minhas costas e me tirou da casa do vento, me levou até o incio das escadas na base da montanha.

– Vai dar tudo certo, ela entenderá que só queria protege-la -Cassian diz me olhando –Boa sorte.

Esperei alguns minutos e atravessei de Velaris até a propriedade onde Rhysand  me trouxe junto a Feyre na primeira semana do acordo.

A mesa do café estava posta, havia pães, frutas e bolos sobre a mesa, Rhysand provavelmente pediu aos criados que a colocassem antes dele partir.

Eles estavam ali, ela estava ali, de costas  para mim, seus ombros ainda mais finos que quando parti e o restante de seu corpo sumia atrás da cadeira.

– Temos companhia -Rhys disse a ela, me indicando com o queixo.

Feyre se virou em minha direção.

Paralizei ao ve-la, parecia estar fisicamente cansada, olheiras  roxas e profundas contornavam seus olhos, suas bochechas estavam tão finas quanto naquele inverno a oito anos, parecia que a fome e o luto haviam a devorado outra vez, mas agora, ao contrário de antes, ela tinha acesso constante a comida e ninguem além dela mesma tinha morrido ou estava morrendo, era apenas minha irmã definhando aos poucos quando ninguém naquela maldita corte se importava o suficiente.

Não consegui dar um único passo em sua direção.

– Você veio para cá -ela disse surpresa –Eu disse para ir para longe.

– Jamais iria para longe e deixaria e te deixaria para trás.

– Então veio se abrigar na corte inimiga? -ela ergue as sobrancelhas

– Ja disse que não sou... -Rhys começou.

– Rhysand -adverti antes que continuasse –Pode nos deixar a sós?

O parceiro de minha irmã enrijeceu sua postura, me encarou por alguns segundos mas assentiu com a cabeça ja se levantando da mesa.

– Sinto muito pelo oque fiz naquela noite -disse quando Rhys ja tinha saido do local –Perdi a cabeça, não deveria tê-lo atacado em sua frente, desculpe.

– Estaria pedindo desculpas se tivesse o atacado sem que eu visse?

– Não. -respondi firme, sincera.

– Não sente remorso por quase te-lo matado?

– Não.

– Então se sente mal apenas por eu ter visto oque fez -ela diz a si mesma

– Tamlin merecia que eu tivesse arrancado sua cabeça mas não o fiz, não poderia fazer com você olhando.

– Porque tem medo que eu descubra quem você se tornou? -perguntou outra vez, não em tom agressivo.

– Porque apesar de ser um filho da puta, você o ama ou pelo menos se convenceu de que ele é a pessoa certa para você e eu conheço a sensação de ter alguem que ama morrendo em seus braços, não quero que passe por isso, mesmo que ele seja um babaca, você não merece vê-lo morrer.

– Mas acha que ele merece morrer?

– Tenho certeza, ele merece morrer por tudo oque fez a você, a Lucien, sim, ele deveria estar morto.

– Acha que é assim que as coisas se resolvem?

– Com certeza não vão se resolver se eu abaixar a cabeça e deixar que me usem de enfeite, me tranquem em casa e só dirijam a palavra a mim quando querem trepar.

– Está dizendo que sirvo apenas para trepar? -ele franziu o cenho

– Não, estou dizendo que seu amado noivo a enxerga assim e você sabe disso, você vê isso, quando vocês tem uma unica conversa que não termina em briga ou sexo? -ela desvia o olhar de mim.

Me aproximo dela ficando e me abaixo em frente a sua cadeira pegando suas mãos agora finas e ossudas outra vez.

–Já disse uma vez e vou repetir, vou repetir quantas vezes for preciso, você não é um brinquedo dele, você não é um enfeite bonitinho, você não é uma criança nem uma donzela que precisa ser protegida até do vento, você é Feyre Archeron, você caçou durante anos, sozinha, para manter sua família viva, você, ainda humana, foi até sob-a-montanha para libertar o macho que te jurou amor. Você, sozinha, salvou Prythian de Amarantha, você, não Tamlin, não Rhysand, não eu, você fez isso, você é a Quebradora da maldição, você salvou a todos enquanto Tamlin se sentava ao lado dela e  obedecia suas ordens como um cachorro e agora ele quer fazer a mesma coisa com você, quer que sente ao lado dele e abaixe sua cabeça para tudo oque diz, quer que seja súdita dele, você não é sudita de ninguém e nem precisa de um macho obcecado e com problemas de raiva para te dizer oque fazer, para onde ou quando sair, não precisa dele.

– Não quero mais falar no assunto -ela diz baixo e suspiro com aquilo

– Certo. -me levanto de sua frente e dou um beijo em seu rosto –Estrelinha, eu só quero que veja que você é uma mulher incrível, eu tenho muito orgulho de quem você é, de quem é de verdade, da mulher escondida debaixo dessa capa de noiva boazinha que vestiram em você, acredite em mim quando eu digo que ela não combina nada com a verdadeira Feyre.

– Lucien ficou preocupado com você -ela disse mudando de assunto –Disse que se eu tivesse notícias suas para contar a ele.

– Não duvido que as queira apenas para repassar a Tamlin. -respondi simples

– Tem tanta paciência comigo, devia ter com ele também, Lucien apenas... ele tem uma familia dificil e Tamlin foi a unica pessoa que o ajudou quando foi preciso.

– Assim como você... -digo mais para mim mesma do que para ela.

Feyre estava certa, é claro que estava, eu não percebi quando culpei Lucien, não percebi que sua história, sua dependência em Tamlin era tão ruim quanto a de minha irmã.

– Então... oque faz aqui? Digo, você veio para cá e não acho que esteja vivendo as custas de Rhysand ou está? -ela diz depois de alguns segundos, quebrando o silêncio.

– Ah, não, ganhei um emprego -disse enquanto me sentava ao seu lado.

Eu sabia oque ela estava fazendo, mudando o foco do assunto para outro, ela não queria conversar sobre Tamlin, sobe ela ou sobre a corte primaveril e eu não iria força-la a isso.

– Eu conheci a Corte Diurna, bem, só uma propriedade mas era linda Feyfey, as paredes tinham um monte de detalhes em ouro, ouro de verdade, achei que ficaria cega com o brilho. -disse a fazendo soltar uma risada fraca. – Você tinha que ter visto a biblioteca, era imensa, se eu roubasse um livro dali tenho certeza que Helion nem daria conta.

– Helion? -ela franziu o cenho

– O grão-senhor, Helion o quebrador de feitiços -expliquei dando de ombros

– Já ouvi alguem menciona-lo, acho que foi Ianthe -ela da de ombros – Dizem que ele é enorme

– Uhum passa facil dos dois metros de altura.

Então dei corda ao assunto, apenas para vê-la distraida e sorrindo por algum tempo, mesmo que por pouco.

Corte de chamas e pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora