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NAS VEZES EM QUE PAPAI NÃO precisava trabalhar à noite e aparecia para o jantar, mamãe preparava uma refeição tão suntuosa quanto uma ceia de Natal. Minha mãe não era aquele tipo de super-mãe-coruja-e-carinhosa, a qual vive abraçando e mimando a família. Ela não costumava dizer com frequência que nos amava, mas sabíamos que, ao deixar a casa e as roupas limpas, zelar pela nossa educação e cozinhar pratos elaborados, mesmo sem saber muito sobre culinária, era a sua maneira de demonstrar este amor.

Naquela noite, ela havia feito costelinhas de porco assadas com batatas, o prato favorito de papai. Ele nem pegava muito os acompanhamentos e já deixava um prato extra ao seu lado para amontoar os ossos. Nós percebíamos que, se ele também tivesse sua garrafinha de Malzbier, conseguir relaxar melhor e esquecer os problemas do Instituto.

— E então, garotos, como vão os estudos? — perguntou entre uma garfada e outra. — Daqui a uma semana já começarão as provas bimestrais. Estão se preparando?

O seu tom não era o de cobrança ou rispidez. Apesar da aparência séria de âncora de jornal (costumávamos dizer que ele se parecia com um William Bonner mais velho e grisalho), papai era muito simpático e amável. Eu o vi bravo poucas vezes em minha vida — mas quando ele chegava a este ponto, sai de baixo! Só o seu olhar nos fazia tremer da cabeça aos pés.

— O Hiero e a Bibi parecem estar bem firmes em relação a isso — mamãe levantou as sobrancelhas e sorriu, ignorando minha careta a ela quando falou meu detestado apelido. — Agora começaram a estudar juntos, e todas as tardes eu os ouço revisando as matérias. Estou contente com a iniciativa.

— E eu vou arrasar e tirar muita nota alta. — Mikhel se intrometeu. — O mano tá me ajudando com os problemas de matemática e inglês. Ei, Bea, não esquece a sua promessa de lavar a louça no meu lugar quando eu chegar cheio de nota dez no meu boletim, tá? — E me deu uma cotovelada de leve.

Revirei os olhos e continuei minha tarefa de tentar separar os pedacinhos murchos de cebolinha num canto do prato.

— Mano? O Bruno está te ajudando? — perguntou papai com um sorriso orgulhoso.

— Não, papai, o meu outro mano. — O garoto olhou para Hiero.

Papai estendeu o braço e deu tapinhas amigáveis no ombro do rapaz, o qual sorriu meio encabulado. — Esse é um rapaz de ouro. Tem um grande futuro pela frente.

— E daria um ótimo genro, não é, pai? — Bruno me provocou com uma expressão cínica. Mikhel explodiu em uma gargalhada exagerada, Hiero escondeu o rosto com uma mão e meus pais ficaram a se entreolhar, rindo.

— Há. Há. Há. A piada foi tão engraçada que até me esqueci de rir. — Encarei meu irmão com os olhos em duas fendas, com uma vontade enorme de jogar o pirex de creme de milho em sua cara.

— Bruno, olhe os modos. — Mamãe conseguiu se recompor, e, tentando desfazer o clima estranho, dirigiu-se a Hiero com outro assunto: — E quanto a Joana? Como ela vai?

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora