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CERTA VEZ, OUVI DE UMA PROFESSORA da escola dominical algo que nunca esqueci: o nosso pecado, mais cedo ou mais tarde, há de nos achar. Eu devia ter uns oito anos na época, então acabei imaginando o pecado como um cão de caça – desses com focinho comprido, farejando as trilhas das minhas pegadas e uivando alto quando finalmente me encontrasse.

Claramente não entendi bem o que ela quis dizer, mas no momento em que minhas mentiras estavam prestes a serem expostas para todos naquele telão, eu soube: era chegada a hora do meu juízo final.

Pensei em fugir, mas como num passe de mágica, todos os envolvidos na peça haviam aparecido no palco e também olhavam para o telão, curiosos. Vi-me encurralada no centro, ainda destacada pelo facho de luz.

Estampado naquele enorme quadrado branco estava o meu rosto feio por conta do inchaço, das muitas lágrimas e da exaustão. Ontem, eu estava tão agitada e preocupada em me defender que nem percebi que estava sendo filmada. Minha voz soou horrenda nas caixas de som:

Se você quer tanto aparecer — Um corte proposital foi feito para ocultar o nome de Karina —, por que não fica igual à Globeleza, monta num carro alegórico e vai rebolando daqui até na China?! Ah, já sei. É porque os olhos de todos iriam apodrecer. Pois a única horrorosa aqui é você, sua cretina!

Com a imagem congelada em meu gesto obsceno, a voz de Karina soou ao fundo, modificada com algum tipo de efeito de edição:

Ora, ora, se não é a nossa doce e adorável Beatrice do 2-C. Pena que ela não é tão doce assim, não é? Querem saber quem ela é na verdade? Pois prestem atenção.

Outra filmagem furtiva e meio tremida mostrava o momento em que fui carregada por Luke após o meu desmaio na piscina. Um zoom nos acompanhou até desaparecermos dentro da luxuosa residência.

Princesa resgatada com sucesso. Uhh, aonde eles vãooo, hmm? — a voz tinha tom sugestivo.

— Que merda é essa? O que está acontecendo?! — ouvi Luke gritar no walkie-talkie para os rapazes da projeção. Por causa da faladeira crescente e do alto volume do vídeo, era impossível ouvir a resposta.

Nesse instante, vi Hiero sair dos bastidores pela lateral do palco. Ele subiu as escadas do corredor do auditório em tempo recorde e dirigiu-se à sala de controle, a qual ficava no segundo andar.

Enquanto isso, as cenas ainda estavam rolando. Desta vez, em outro momento: quando Luke e eu saímos do quarto onde havia me trocado. Você se lembra, após ele ter me pedido em namoro. Eu me apoiava em seu tronco, por causa do tornozelo machucado. Novamente a câmera deu um zoom e capturou Luke me olhando de forma boba e apaixonada.

Eu sabia! O que será que eles fizeram, heinnn?

— Hmmmm... — veio a resposta maliciosa da plateia. Alguns no palco me olharam torto.

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora